Professores premiados pelo programa Aprender Valor levam educação financeira para dentro das escolas. (Foto: Adobe Stock)
Em um país onde a inadimplência cresce ao maior nível da série histórica, a educação financeira desde a infância se torna urgente na formação de adultos conscientes e responsáveis com o dinheiro. Diante de tal necessidade, o Banco Central (BC) criou o programa Aprender Valor, que desde 2021 busca preencher tal lacuna onde se formam os futuros cidadãos: nas escolas. A reportagem mostra algumas dessas iniciativas premiadas.
Em agosto, a máxima autoridade financeira do Brasil homenageou 30 iniciativas de maior engajamento em 2024, reconhecendo o trabalho exemplar de educadores, instituições e redes de ensino que impulsionam o futuro financeiro dos estudantes.
“O conteúdo do programa estimula os estudantes e os educadores a refletirem sobre o seguinte tripé: planejar o uso de recursos, poupar ativamente e usar o crédito de forma responsável”, diz o Banco Central.
O E-Investidor conversou com três das dez professoras premiadas pelo programa Aprender Valor para compreender os maiores desafios da educação financeira no Brasil. As questões levantadas inicialmente por jovens estudantes revelam deficiências que também afetam grande parte da população adulta.
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As principais dúvidas de educação financeira nas escolas
Como funciona a reserva financeira
A professora de Matemática Leidian de Souza foi destaque de engajamento do Aprender Valor na Região Centro-Oeste do País, lecionando para cerca de 60 alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.
Apesar da idade, os jovens já chegaram na aula com questões financeiras de adultos, como calcular quanto devem poupar para investir em projetos futuros e se há necessidade de reservar parte do dinheiro para possíveis emergências nesta fase da vida.
Em uma de suas aulas, a professora apresentou o conceito dereserva financeira — que consiste em guardar dinheiro para imprevistos — usando o exemplo de um garoto que tinha recursos para poupar mensalmente e que, ao longo do tempo, poderia aumentar suas economias e investir em sonhos. Ouça o que ela contou:
Para a psicóloga financeira Ana Paula Hornos, a fórmula da riqueza não tem segredo: gastar menos do que se ganha, gerar excedente e transformá-lo em reservas.
“Isso vale para pessoas, empresas e governos. Quando se cria o hábito de planejar, acompanhar gastos e usar o dinheiro de forma consciente, o patrimônio cresce naturalmente. A verdadeira mudança está nas prioridades e em assumir compromisso com as metas”, ressalta.
Juros compostos e financiamentos
À medida que as aulas avançavam, Souza percebeu que as dúvidas dos alunos ficavam cada vez mais complexas. Com mais confiança para perguntar e maior compreensão sobre o valor do dinheiro, eles começaram a trazer situações reais para a sala de aula.
Em uma das atividades, por exemplo, um estudante pediu que calculassem juntos a prestação da casa que sua mãe pagava. Sem perceber, ele estava aprendendo na prática o impacto dos juros compostos, que fazem o valor a ser pago crescer mês a mês, podendo multiplicar o valor inicialmente financiado. Ouça:
Segundo Souza, quanto mais os alunos se envolvem nas aulas, mais enxergam a aplicação prática dos exemplos na sua própria vida. “Ao comentar sobre um aluguel mais baixo do que o normal, eles brincam: ‘Não, tia, mas está muito barato isso aí. Me fala onde é essa casa que eu vou lá alugar’. Então, assim, eu vejo que a receptividade deles hoje é muito maior do que no começo”, diz.
Com conhecimento em educação financeira, é possível transformar hábitos e criar uma relação mais saudável com odinheiro.
“Ao entender o impacto dos juros, diferenciar desejo de necessidade e planejar antes de gastar o consumidor desenvolve disciplina para manter o controle das finanças. Essa consciência é essencial para escapar de armadilhas como o rotativo do cartão de crédito ou o acúmulo de parcelas e permite usar o crédito de maneira estratégica para realizar objetivos, enfrentar imprevistos e construir um futuro mais estável financeiramente”, diz Marcelo Leitão, gerente de benefícios na Creditas.
A professora Júnia Alessandra Pereira de Assis foi destaque em engajamento na Região Sudeste do programa Aprender Valor, ensinando para cerca de 58 crianças do 6º ao 9º ano. Apesar de lecionar língua portuguesa, a educadora trouxe conceitos de investimentos para a sala de aula.
“Quando a gente fala de educação financeira, a princípio, o que vem à nossa mente é o dinheiro na sua forma propriamente dita. E, de fato, isso não está errado. Mas educação financeira vai além: envolve questões de planejamento, de poupança e de investimentos“, diz Assis.
Com auxílio da Calculadora do Cidadão, os alunos podiam simular investimentos a partir de valores que tinham disponíveis para aplicar por um determinado período. “Nós discutíamos quanto o dinheiro renderia na poupança, qual seria o ganho em juros e, depois, como poderiam usar esse valor acumulado para obter benefícios no longo prazo”, explica a professora.
Assis também destaca a importância de interpretar informações presentes em contas de luz, água e internet, incentivando os alunos a refletirem sobre formas de reduzir os gastos mensais. Veja o relato a seguir.
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Controle de gastos
A professora Sônia Maria Ires Mota foi a representante de destaque da Região Nordeste, atuando com uma turma de 25 crianças do ensino fundamental.
Mesmo professora de Português, Mota enfatiza a relevância da matemática no cotidiano dos alunos, especialmente ao registrar cada entrada e saída de dinheiro da conta. Para ela, esse hábito simples pode ser decisivo para evitar gastos impulsivos, muito comuns com o uso do Pixe docartão de crédito. Veja:
Para evitar o endividamento, Leitão recomenda adotar medidas simples e aplicáveis no dia a dia. “A educação financeira não deve ser encarada como algo técnico ou acadêmico, mas como uma ferramenta de autonomia. E isso pode começar com passos básicos, como acompanhar o extrato ou organizar as despesas em uma planilha”, afirma o especialista.
“O conhecimento em educação financeira não vai transformar só essas crianças, mas também suas famílias, porque elas vão ver mudanças nos hábitos, nas maneiras de agir, e perceber como elas estão conhecedoras do seu próprio dinheiro”, complementa Mota.
Como funciona o programa Aprender Valor
O Aprender Valor é um programa gratuito do Banco Central que ajuda professores, escolas e redes de ensino a levarem educação financeira a estudantes do ensino fundamental de todo o País.
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Primeiro, os educadores passam por cursos de formação e letramento financeiro. Depois, aplicam os aprendizados em sala de aula, integrando o tema a disciplinas como Geografia, Português, História e Matemática. Cada professor recebe um plano de estudos estruturado, mas mantém liberdade para adaptar o conteúdo conforme a realidade da turma.
Qualquer pessoa pode ter acesso ao programa. Basta acessareste link usando uma conta Gov.br, nível prata ou ouro.
Sua escola pode ser a próxima protagonista do Aprender Valor
O programa convida todas as escolas e educadores a se engajarem nas atividades de 2025 para concorrer aos prêmios do próximo ano. Para se destacar, é fundamental que as escolas tenham professores formados noscursos on-line do Aprender Valor, apliquem os projetos escolares em sala de aula e realizem as avaliações de aprendizagem, registrando todas as etapas na plataforma. Saiba mais sobre como participarneste link.
As histórias de sucesso nas escolas celebradas na premiação mostram o poder da educação financeira como ferramenta de transformação social em todas as realidades do Brasil. Conheça mais sobre o programa no vídeo a seguir.