Diferencial de juros entre Brasil e EUA favoreceu o real em setembro. Foto: Adobe Stock
O dólar encerrou o mês de setembro com queda acumulada de 1,83% cotado a R$ 5,3230, ampliando as perdas em 2025 para 13,87%. No mês, chegou a bater mínima a R$ 5,2702, menor valor desde junho de 2024. O destaque ficou com a decisão do Federal Reserve (Fed), que cortou os juros americanos pela primeira vez desde dezembro do ano passado.
Junto à redução das taxas, o Fed apresentou o chamado Dot Plot (gráfico de pontos, em português), que reúne as projeções dos membros do comitê. O documento sugeriu mais uma redução acumulada de 50 pontos-base nos juros americanos neste ano.
Para Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, embora amplamente precificado de forma antecipada, o primeiro corte do Fed mexeu com o mercado de câmbio. “A decisão estimulou um movimento de rotação de investimentos, saindo do caixa em dólares (nos títulos públicos americano de curto prazo) para alternativas, como outras moedas de países desenvolvidos ou o ouro”, afirma.
Investidores também estiveram de olho em dados do mercado de trabalho. No começo do mês, o payroll (relatório oficial de emprego dos Estados Unidos) apontou a criação de 22 mil empregos em agosto, bem abaixo das expectativas de 76 mil pontos, o que ampliou as apostas de corte de juros no país.
A junção de Selic em 15% e taxas americanas na faixa entre 4% a 4,25% incentiva uma estratégia de investimento conhecida como carry trade, que consiste em ficar vendido em uma moeda com juros menores e comprado em outra com juros maiores, para aproveitar a diferença entre as duas taxas.
Esse movimento tem beneficiado o real a partir da entrada de capital estrangeiro no Brasil. Dados mais recentes divulgados pela B3 mostram que o saldo de dinheiro gringo na Bolsa brasileira já alcança R$ 26,5 bilhões em 2025.
Vale comprar dólar agora?
No curto prazo, quando se trata de um movimento tático, a queda do dólar no mercado doméstico abre espaço para os investidores comprarem a moeda americana e realizarem novos aportes em ativos dolarizados.
Ao pensar em posições estruturais, no entanto, a cotação do dólar não deve influenciar a decisão do brasileiro que planeja a alocação global e a diversificação da sua carteira.
“A proteção patrimonial vai muito além do câmbio fechado no dia. Um dos principais pontos é realizar o aporte de dólar periodicamente, ou seja, fazer um dólar médio ao longo do tempo”, explica Bruno Yamashita, analista de alocação e inteligência da Avenue.
Em outras palavras, no longo prazo, iniciar a dolarização mais cedo tende a gerar retornos acumulados maiores do que tentar acertar o melhor momento do câmbio para comprar a moeda.
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O estudo “Impacto Cambial no Consumo dos Brasileiros e a Necessidade de Diversificação Internacional”, conduzido por especialistas em economia e finanças do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGVcef), mostrou que o impacto do câmbio sobre a cesta de consumo dos brasileiros varia de 16% a 18% a depender da faixa de renda. Veja os detalhes da pesquisa aqui.
A pesquisa destaca que, só para proteger o seu poder de compra das variações cambiais, os investidores locais deveriam ter um mínimo de 16% de sua carteira dolarizada. Este percentual pode ser maior dependendo das particularidades de consumo da pessoa ou família. Para núcleos de alta renda, por exemplo, o mínimo deve ficar entre 17% e 18%.
O que esperar do dólar daqui para frente
Zogbi, da Nomad, projeta a continuidade do movimento global de enfraquecimento do dólar por dois fatores principais: a continuidade do ciclo de cortes de juros nos EUA e um movimento mais estrutural de instituições, governos e investidores em direção à diversificação de suas reservas de valor.
Os fatores domésticos, no entanto, podem jogar contra uma valorização do real. “Internamente, há riscos altistas para o dólar. A aproximação das eleições adiciona elementos de incerteza ao cenário e a situação fiscal do País segue desafiadora”, avalia Zogbi.
Em outubro, o mercado deve ficar atento à nova decisão de política monetária do Fed, marcada para o dia 29 do mês. Os dados do payroll, com publicação prevista na sexta-feira (3), podem ajudar a dar indicativos dos próximos passos do banco central americano.
Dados internos da economia brasileira também ganham destaque. “Os indicadores de atividade econômica e inflação nos dois países podem trazer volatilidade ao câmbio. O dólar deve permanecer sensível a esses fatores, alternando períodos de alívio e pressão”, explica Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.