H&M chega ao Brasil, mas vale mais a pena do que Zara e Renner para o seu bolso?
A estreia da marca sueca no mercado brasileiro reacende a disputa entre gigantes como Zara e Renner, mas traz o desafio de identificar qual entrega o melhor equilíbrio entre estilo, qualidade e preço
Primeira loja da H&M no Brasil marca nova fase da disputa entre as grandes redes de fast fashion pelo consumidor em busca de preço e estilo. (Foto: Adobe Stock)
A chegada da H&M ao Brasil reacendeu o debate sobre custo-benefício no universo das fast fashions. Com a inauguração de sua primeira loja no País, a marca sueca passa a disputar espaço com gigantes já consolidadas no gosto dos brasileiros, como Zara e Renner. Mas, afinal, será que a H&M é uma opção realmente vantajosa para o bolso do consumidor? Para responder à pergunta, a reportagem comparou um item básico do guarda-roupa: uma camiseta feminina preta de algodão.
A estudante Júlia Sirvente, de 22 anos, é uma consumidora típica dessa geração que alterna compras entre diferentes redes em busca de estilo e preço justo. “Eu costumo comprar nas três lojas. Um pouco menos na H&M porque eles chegaram agora no Brasil – eu comprava as roupas deles lá fora. Gosto muito do estilo da Zara, acho as roupas bem estilosas, mas o preço é muito alto, são roupas caras para uma simples fast fashion. Já a H&M tem um bom preço, e gosto da proposta. A Renner também é boa, mas acho cara e não entrega looks tão bonitos quanto a Zara”, afirma.
A percepção da estudante reflete o comportamento de muitos consumidores brasileiros: valorizam estilo e tendência, mas com atenção crescente aos preços, especialmente em tempos de renda apertada e inflação persistente. É nesse contexto que a H&M tenta se posicionar como uma alternativa de equilíbrio entre moda e acessibilidade.
Segundo Rafaela de Sá Silva, planejadora financeira CFP pela Planejar, a chegada da H&M deve, de fato, atrair quem busca renovar o guarda-roupa gastando menos, mas o entusiasmo precisa vir acompanhado de responsabilidade. Ela explica que o primeiro passo é não deixar o impulso guiar as compras:
A marca é conhecida por unir estilo atual e preços acessíveis, o que naturalmente desperta o interesse de quem quer consumir tendência sem comprometer o orçamento. Mas é importante manter o equilíbrio entre desejo e planejamento financeiro.
Para a planejadora, a empolgação com uma nova loja pode levar a decisões pouco racionais, um comportamento semelhante ao “efeito manada” no mercado financeiro. “A chegada de uma marca internacional costuma vir acompanhada de um forte apelo aspiracional e social, o famoso ‘todo mundo está comprando’. Esse comportamento aparece quando as pessoas consomem mais pela sensação de pertencimento do que por necessidade”, explica.
A planejadora financeira explica que o verdadeiro custo-benefício não se resume ao preço da etiqueta. “A avaliação deve considerar qualidade, durabilidade e frequência de uso. Uma peça mais cara pode valer a pena se tiver bom tecido e for usada com frequência. Já pagar mais por uma tendência passageira raramente se justifica. Um bom parâmetro é o custo por uso: quanto mais vezes a peça for usada, menor será o custo real dela”, afirma.
Do lado da empresa, a H&M aposta no potencial de crescimento do mercado brasileiro. O country manager Joaquim Pereira explica que a expansão faz parte de um plano regional ambicioso. “Os objetivos da H&M com a abertura no Brasil estão estreitamente ligados à estratégia global da empresa de expandir na América Latina, uma região com grande potencial de crescimento. Já inauguramos lojas em El Salvador e Venezuela, e o Paraguai será o próximo mercado em 2026. No Brasil, anunciamos quatro novas unidades para o próximo ano, reforçando nosso investimento de longo prazo”, diz.
Pereira também destaca que o modelo de negócio da marca se baseia na proposta de “oferecer moda e qualidade pelo melhor preço, de forma sustentável”. Segundo ele, a H&M quer proporcionar uma experiência omnichannel (integrando lojas físicas e plataformas digitais) para atender consumidores que hoje fazem compras tanto presencialmente quanto online. Além disso, a empresa aposta em práticas de valorização dos funcionários.
Chegou a hora de comparar! Quem vende a melhor camiseta preta?
A chegada da H&M ao Brasil movimentou o varejo de moda e trouxe de volta uma velha dúvida para o consumidor: qual fast fashion realmente oferece o melhor custo-benefício? A equipe do E-Investidor comparou uma camiseta preta 100% algodão nas três lojas de varejo.
Na Zara, a peça básica sai por R$ 79,00. É confeccionada em fiação de algodão no lado externo, com gola redonda e manga curta, e está disponível nos tamanhos P ao G.
Publicidade
Já na H&M, a camiseta similar custa R$ 59,90, também de algodão, com decote redondo e acabamento estreito, e uma grade mais inclusiva, indo do XXP ao XXG. A opção mais barata está na Renner, por R$ 39,90 – uma camiseta regular em algodão, confeccionada pela BlueStell, marca parceira da rede, com gola redonda, manga curta e processo de produção sustentável, disponível do PP ao GG.
Para o consumidor comum, a diferença de preços pode parecer pequena, mas revela diferentes estratégias e propostas de valor entre as marcas. A H&M chega prometendo moda global com preços competitivos. “Sim, as coleções disponíveis na Europa e na América do Norte também estarão disponíveis no Brasil, com adaptações para respeitar a sazonalidade do Hemisfério Sul”, diz Pereira, country manager da marca.
Ainda assim, preço e novidade não são os únicos fatores que devem guiar a escolha. Para Sá Silva, da Planejar, a decisão de compra deve partir de critérios de qualidade, durabilidade e planejamento. “Para peças básicas, como camiseta, calça jeans e jaqueta, a prioridade deve ser a qualidade e a durabilidade, já que são itens usados com frequência. Vale mais investir um pouco mais em algo que resista ao tempo e às lavagens, em vez de escolher apenas pelo menor preço”, explica.
Publicidade
Ela ressalta que o consumo de moda precisa estar dentro do orçamento. “Não existe uma regra única, mas, de forma geral, é saudável que os gastos com roupas e acessórios fiquem entre 5% e 10% do orçamento mensal, considerando também outras metas financeiras, como investimentos e lazer. O essencial é manter coerência com os próprios objetivos.”
De forma geral, a comparação mostra que o preço da camiseta pode variar quase 50% entre as três marcas, mas a decisão de compra vai além do valor final. Questões como grade de tamanhos, qualidade do algodão, estilo e proposta de sustentabilidade entram no cálculo do custo-benefício – um equilíbrio que, segundo os especialistas, deve considerar tanto o bolso quanto o propósito de consumo.