

A vida acompanhando o mercado financeiro é volátil, mas repórter e colunista também merece calmaria. O Isa Energia Day transmitiu exatamente isso: previsibilidade.
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A vida acompanhando o mercado financeiro é volátil, mas repórter e colunista também merece calmaria. O Isa Energia Day transmitiu exatamente isso: previsibilidade.
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Ao conversar comigo, o CEO da Isa Energia (ISAE4), Rui Chammas, disse que o negócio da transmissora é tão estável que “parece uma renda fixa”. Difícil discordar.
A coluna Dividendo à Vista esteve no evento e, como sempre, aqui vai minha leitura sincera sobre o que vi, ouvi e como isso impacta o bolso do investidor.
Não é ser convencido, mas quem conhece a qualidade do próprio trabalho se posiciona com segurança. Esse é claramente o discurso de Chammas ao ser questionado, pela milésima vez, se os novos investimentos vão compensar a perda da receita da RBSE (Rede Básica do Sistema Existente) em 2028. Para quem ainda não está familiarizado, a RBSE é uma indenização que representa cerca de 33% da receita da Isa Energia.
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Chammas afirma que a queda da RBSE não o preocupa: a companhia se planejou desde 2020, acelerando crescimento, novas concessões e melhorias de rede. O tema “foi tratado lá atrás e vai ter sua evolução natural, sem maior preocupação”, e novos fluxos financeiros garantirão valor no longo prazo. O foco agora é gerar valor até 2040, mantendo disciplina financeira e dividendos.
A CFO Silvia Wada reforçou que a receita perdida da RBSE será reposta. Dos R$ 13 bilhões previstos em investimentos, R$ 5,7 bilhões vão para reforços e melhorias, com retorno da RAP (Receita Anual Permitida) entre 12% e 17%. Os outros R$ 7,3 bilhões correspondem a projetos licitados — três entram em operação nos próximos 12 meses (R$ 450 milhões de RAP) e dois até 2028, adicionando mais de R$ 1 bilhão, superando o R$ 1,3 bilhão da RBSE financeira, segundo a executiva.
A transmissora mantém seu tripé estratégico: crescimento, disciplina financeira e distribuição de proventos, mantendo payout mínimo (parcela do lucro destinada a proventos) de 75% até 2028.
Sobre novas linhas de transmissão, Chammas preferiu esconder o jogo. Mesmo com o leilão da Aneel em 31 de outubro, não confirmou participação, limitando-se a dizer que a Isa Energia estuda oportunidades, mas será seletiva para não pressionar a alavancagem. “Nos vemos dia 31 na B3”, brincou com jornalistas.
Questionada sobre investimentos fora do Brasil, a CFO Wada foi direta: não está no mandato da gestão. A controladora colombiana Isa já acessa mercados no Chile, Peru e Bolívia, então os aportes brasileiros ficam restritos ao país.
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A companhia aposta em reforços, melhorias e transição energética, como o FACTS, tecnologia aplicada na subestação de Ribeirão Preto (SP) que redistribui a sobrecarga de três linhas sem construir uma quarta, aumentando eficiência e postergando investimentos. O projeto de R$ 93 milhões ajuda a reduzir riscos de apagões e concentração solar, segundo Chammas.
Por ora, a Isa descarta comprar ou vender ativos. No tema baterias, há interesse no leilão de 2026, mercado capaz de atender à rampa de potência pós fim da geração de energia solar. Segundo Chammas, só as baterias teriam capacidade de substituir essa demanda com agilidade.
Os executivos aguardam definições regulatórias para avaliar impacto das baterias na receita, sem comprometer estabilidade financeira e proventos
Um dos temas mais questionados foi o processo histórico com a Sefaz-SP, ligado à Lei 4.819/58 sobre aposentadorias de funcionários admitidos até 1974. Antes o Estado arcava com 100% do benefício, hoje a Isa Energia banca 30%, gerando custo anual de R$ 200 milhões. O valor a receber soma R$ 2,7 bilhões (R$ 4,10 por ação) e só em 2024 foram pagos R$ 193 milhões pela companhia.
Se resolvido, o caso poderia reduzir gastos anuais em R$ 200 milhões, gerando até R$ 1,33 bilhão (R$ 2 por ação) em economias. Somando valor a receber e economia de custos, o benefício total seria cerca de R$ 4 bilhões ou R$ 6 por ação, que ainda não estão precificado nas ações, segundo analistas.
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Carlos Lopes, diretor jurídico e societário da transmissora, diz que a Isa Energia busca solução rápida, mas sempre preservando a geração de valor ao acionista. O processo, suspenso em outubro, foi retomado em maio e prorrogado até dezembro, com possibilidade de nova extensão de 180 dias.
Para Chammas, prazo não é problema: “Existe oportunidade de conciliação que faça sentido para ambos os lados… desde que as partes estejam de boa-fé. Não queremos empurrar o assunto, mas também não abriremos mão do que é adequado para a companhia”, diz.
Entre executivos e analistas, o cenário ainda é nebuloso. E, mesmo que o dinheiro entre, há quem veja a chance de a companhia priorizar novos investimentos em vez de dividendos.
A alavancagem, relação da dívida líquida sobre o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), também preocupa investidores, que manifestaram isso no evento. A CFO explicou que o aumento é essencial para a estratégia de crescimento, subindo dos atuais 3,43x para cerca de 4x entre 2026 e 2027, com redução prevista a partir de 2028. Mesmo assim, o payout de 75% do lucro líquido será mantido para proventos.
Questionada pelo E-Investidor sobre o endividamento ideal para sustentar investimentos sem cortar dividendos, Wada citou a Fitch Ratings: 4x a 5x são toleráveis; acima de 4x é “zona de atenção”. E completa: “4 vezes são uma referência saudável para uma transmissora em crescimento.”
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Chammas reforçou que, em negócios de capital intensivo, captar recursos depende da percepção de disciplina financeira, padrão que a companhia quer manter. Uma eventual queda da Selic não deve alterar muito a alavancagem, já que boa parte da dívida é atrelada ao IPCA (inflação), embora juros menores ajudem marginalmente a melhorar resultado.
O ponto mais aguardado pela jacarezada: os proventos da Isa Energia. A empresa pretende manter payout de 75% do lucro líquido nos próximos anos, sem previsão de mudança.
Sobre tributação de dividendos e possíveis aumentos de impostos no Juros sobre Capital Próprio (JCP), derrubados na Câmara, Wada afirmou que a empresa vai acompanhar o tema com atenção, mas já não via motivos para antecipar dividendos ou realizar distribuições extraordinárias em 2025.
Recentemente, a companhia anunciou R$ 445 milhões em dividendos, divididos em três parcelas entre novembro e dezembro (R$ 0,22/ação cada, totalizando R$ 0,67/ação). O parcelamento equilibra o anseio de investidores por mais pagamentos, mas sem transformar a prática em regra.
Segundo Wada, o valor refere-se aos lucros do 1º semestre, com anúncio antecipado para atender investidores. Ela acrescentou que um novo anúncio relativo ao 2º semestre de 2025 está previsto para dezembro, embora o pagamento possa ocorrer depois.
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Questionada por um investidor se existe uma meta de dividend yield (retorno em dividendos) de 5% a 6% até 2028, Wada disse que não há objetivo fixo. O retorno depende do endividamento e da geração de valor da companhia.
A renda fixa anda gerando mais dor de cabeça que a Isa Energia. Como já comentei nesta coluna, a transmissora não traz grandes surpresas, mas também não gera desconforto.
Seria bom mais transparência dos executivos sobre participação nos leilões (afinal faltam semanas para que o mistério acabe) e o processo de R$ 2,7 bilhões do Sefaz, mas a Isa prefere cautela.
A preocupação em repor a receita da RBSE parece ser só do investidor pessoa física e dos analistas. A empresa está tranquila e relaxada e já mira 2040 com novo plano estratégico. Tomara que depois de 2028 haja espaço para elevar o payout dos proventos da Isa Energia. Disciplina é ótimo, mas um agrado ao investidor de vez em quando não faz mal, né, jacarezada?
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