Veja os fatores que podem barrar os dividendos extraordinários da Vale (Foto: Adobe Stock)
A Vale(VALE3) divulgou um relatório de produção e vendas levemente acima do esperado pelos agentes do mercado. Analistas ouvidos pelo E-Investidor disseram que o fato, que mostrou um aumento na produção do minério de ferro, pode aproximar a companhia dos dividendos extraordinários, embora três pontos ainda possam atrapalhar: endividamento, recompra de bonds e incertezas globais que recaem sobre a demanda do minério de ferro.
Para os analistas da XP Investimentos, os números foram sólidos, refletindo um desempenho decente de produção e precificação das divisões de minério de ferro e cobre. A produção de minério de ferro da Vale ficou 1% acima do esperado pela XP, enquanto os embarques ficaram 8% menores que o esperado.
“Vemos os números sólidos de hoje reforçando a flexibilidade do portfólio da Vale, com prêmios aprimorados refletindo a mudança estratégica da empresa para aumentar os produtos de baixa alumina, o que contribuiu para o aumento dos prêmios de finos de minério de ferro”, reforçam os analistas da XP.
Quanto a Vale deve lucrar no terceiro trimestre de 2025?
Na terça-feira (21), a companhia apresentou uma produção de 94,4 milhões de toneladas em minério de ferro no terceiro trimestre de 2025, alta de 3,8% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Em meio a esses pontos, a XP elevou suas estimativas de lucro da Vale no terceiro trimestre de 2025 de US$ 1,94 bilhão para US$ 2 bilhões. A estimativa equivale a uma queda de 16,6% na comparação com o lucro do terceiro trimestre de 2024. A receita líquida foi elevada de US$ 10,2 bilhões para US$ 10,3 bilhões, crescimento de 8,42% na comparação com a receita do mesmo ciclo do ano anterior. As estimativas para o Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficaram em US$ 4,38 bilhões, alta de 15% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado.
Já a Genial Investimentos prevê um lucro de US$ 2,61 bilhões para a Vale no terceiro trimestre de 2025, aumento de 3,5% em relação ao ano anterior. A receita líquida deve ficar em US$ 10,42 bilhões no 3T25, alta de 2,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. No caso do Ebitda, a Genial espera um resultado de US$ 4,3 bilhões, alta de 2,7% em relação ao terceiro trimestre do ano passado.
A corretora diz que o relatório de produção e vendas ficou acima do esperado. Os especialistas explicam que o desempenho positivo foi impulsionado pela combinação da sazonalidade mais favorável diante do período mais seco do ano, com melhor eficiência operacional. O Sistema Norte foi puxado pela mina em Canaã dos Carajás (PA), que alcançou sua maior produção histórica para um terceiro trimestre.
As vendas de minério de ferro da Vale somaram 75 milhões no terceiro trimestre de 2025, a fração de vendas atingiu 79,5%, o que para a Genial indicou a redução da diferença entre o realizado e as vendas, especialmente após o acúmulo de inventários observado no segundo trimestre de 2025.
“Segundo nosso entendimento, parte dessa melhora decorreu do fluxo de embarques e do escoamento de cargas concentradas na China, que haviam se acumulado no primeiro semestre 2025”, afirmam Igor Guedes, Luca Vello e Iago Souza, que assinam o relatório da Genial.
A Ativa Investimentos também antevê um lucro líquido da Vale em US$ 2 bilhões no terceiro trimestre de 2025, alta de 16,6% na comparação com o lucro do terceiro trimestre de 2024. O Ebitda da mineradora deve ficar em US$ 4,223 bilhões e a receita líquida da empresa em US$ 10,3 bilhões.
A Vale teve uma realização de preço de US$ 94,4 por tonelada, enquanto a Ativa estimava uma realização de US$ 92,5 por tonelada. A corretora detalha que a melhora nos prêmios de mercado do minério de ferro contribuíram para esse desempenho melhor que o esperado.
“Acreditamos que o mercado deve reagir de forma favorável à divulgação dos números”, reforça Ilan Arbetman.
Como ficam os dividendos da Vale após a prévia do terceiro trimestre?
Mesmo com a prévia levemente acima do esperado, os analistas se dividem sobre a possibilidade dos dividendos extraordinários da Vale. George Sales, professor na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), estima um dividend yield para a Vale de pelo menos 8%, com a empresa pagando R$ 5,50 por ação nos próximos 12 meses. Após a boa prévia do trimestre, ele calcula que a empresa tende a pagar dividendos extraordinários com o porcentual do lucro pago em dividendos (payout) acima do mínimo obrigatório de 25%.
“A Vale deve entregar payout de 50% a 60% nos próximos 12 meses ao considerar o histórico da empresa e a prévia de hoje. A companhia deve entregar um pagamento total entre R$ 15 e R$ 21 bilhões em dividendos, implicando em um rendimento de 8% a 11% nos próximos 12 meses”, reforça Sales, que vê o papel como um bom investimento na carteira de ações.
Gabriel Padula, CEO da Everblue, estima um pagamento em proventos para a Vale de 10% ao considerar os extraordinários. Segundo ele, a empresa mantém sólida geração de caixa e os números apresentados abrem caminho para os dividendos extras.
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“A empresa teve o melhor trimestre desde 2018, impulsionado pelo aumento de volume e pela alta de 4% no preço médio do minério, o que me deixa otimista com o ativo e seus dividendos”, reforça Padula.
A Genial faz parte do grupo otimista. Os analistas elevaram o preço-alvo do papel de R$ 66,00 para R$ 70,00 para os próximos 12 meses, alta de 15,13% em relação ao fechamento do dia anterior. Os analistas dizem que o minério de ferro tende a caminhar para a faixa dos US$ 98 por tonelada no quarto trimestre de 2025, o que pode ser um atrativo para a tese da empresa.
“Entendemos que o novo patamar reflete uma combinação de fatores: como o preço do carvão metalúrgico fez fundo no trimestre passado e apresentou recuperação parcial; manutenção de estoques portuários em níveis um pouco mais saudáveis; e percepção de equilíbrio temporário no quarto trimestre entre oferta e consumo industrial”, explicam Igor Guedes, Luca Vello e Iago Souza.
Há previsões cautelosas sobre os dividendos extraordinários da Vale
A XP já é mais cética e acredita que mesmo com a melhora no resultado, o preço do minério de ferro, negociado por volta de US$ 100 por tonelada, deixa o papel sem assimetria entre os riscos e os ganhos com os dividendos da Vale
“Considerando tudo isso, acreditamos que o valuation é pouco atraente, com um dividend yield de 6,5% para os próximos 12 meses considerado justo, sugerindo uma assimetria limitada para as ações”, explicam Lucas Laghi, Guilherme Nippes e Fernanda Urbano, que assinam o relatório da XP.
A XP tem recomendação neutra para a Vale com preço-alvo de R$ 66 para o fim de 2025, alta de 8,55% na comparação com o fechamento de terça-feira (21), quando a ação encerrou o pregão a R$ 60,80. A Ativa Investimentos também tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 65 para os próximos 12 meses. A corretora calcula um dividendo de R$ 3,85 por ação nos próximos 12 meses, equivalendo a um rendimento em dividendos da Vale de 6,5%.
“O papel já tem uma valorização superior a 10% em 2025, zerou o desconto perante pares internacionais RI e BHP. A recompra de debêntures participativas tira força do potencial de pagamento de dividendos extraordinários, mas contribui para maior previsibilidade do fluxo de caixa e dividendos no futuro.”, afirma Arbetman.
O analista comenta ainda que a prévia foi boa, mas o pagamento dos dividendos extraordinários é uma história complexa. Ele lembra que a empresa reitera a necessidade de reduzir a dívida líquida para a faixa de até R$ 10 bilhões para o dividendo extraordinário acontecer. Atualmente, a dívida líquida da Vale está R$ 17,5 bilhões. Para o terceiro trimestre de 2025, Arbetman antevê uma dívida de R$ 15 bilhões.
“A empresa reduziu sua projeção de investimento, o que deve liberar mais caixa. Ainda assim, há incertezas sobre a China e a guerra tarifária, gerando dúvidas sobre a demanda. Desse modo, os resultados do terceiro trimestre podem ajudar a empresa a ficar mais próxima dos dividendos extraordinários, mas não é possível cravar que eles devem acontecer”, explica Arbetman.
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De modo geral, a Vale (VALE3) vem demonstrando recuperação ao investidor, deixando a empresa cada vez mais próxima dos dividendos extraordinários e um rendimento de dois dígitos. No entanto, há incertezas relacionadas ao endividamento, recompra de bonds e demanda futura pelo minério de ferro, que podem alongar a trajetória da empresa rumo ao desfecho deslumbrante dos dividendos.