Por que até os ricos evitavam falar de dinheiro – e o que isso revela sobre a educação financeira no Brasil
Pesquisa anunciada exclusivamente em evento do Itaú Unibanco no Masp, mostra a preocupação do brasileiro com o dinheiro e a importância da educação financeira
Pesquisa da Maturi e da Noz Inteligência mostra que 71% dos brasileiros acima de 45 anos não têm previdência privada. | Imagem: Adobe Stock
Falar sobre dinheiro sempre foi tabu entre os brasileiros – mas o cenário parece estar mudando. Da geração Z a millenials, os grupos demonstram que nem pessoas da mesma família tocam no assunto dentro de casa. Entretanto, ele é a principal preocupação do dia a dia: 81% enxerga como tópico prioritário, 82% têm uma reserva financeira e 49% querem investir para gerar renda passiva.
“O principal ponto que me chamou a atenção desde o começo é que nem os endinheirados gostavam de falar de dinheiro”, afirma Michel Alcorofado, antropólogo e sócio fundador da Consumoteca, uma consultoria especializada em comportamento.
Os números são de uma pesquisa feita em parceira entre Consumoteca e o Itaú Unibanco. Batizada de “Consciência e prosperidade: a nova relação do brasileiro com o dinheiro” e divulgada nesta quarta-feira (22) durante um evento exclusivo no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em São Paulo, ela traça as mudanças comportamentais dos últimos 45 anos na relação da população brasileira com o dinheiro e o planejamento financeiro.
Pâmela Vaiano, diretora de comunicação do Itaú Unibanco, explica que antes era comum sentir culpa ao lidar com o dinheiro, mas com a digitalização dos meios de pagamento e de consumo, ele agora faz parte dos relacionamentos.
“Falar de dinheiro é falar de cultura. Com espaços de diálogo, conseguimos tomar decisões melhores”, disse.
Realizado com 5 mil pessoas em 15 estados brasileiros, o estudo revelou que o desejo por estabilidade deu lugar para uma busca por prosperidade, apoiada em múltiplas estratégias de renda, investimento e educação com o objetivo de alcançar o bem-estar financeiro.
Estabilização da moeda + tecnologia = prosperidade
Com a estabilização da economia após o Plano Real e com a evolução da tecnologia
aplicada aos serviços financeiros, as gerações seguintes passaram a associar prosperidade também à capacidade de investir, consumir de forma planejada e construir patrimônio.
Essa mudança é especialmente visível entre os jovens: 8 em cada 10 brasileiros da Geração Z acreditam que terão um padrão de vida superior ao de seus pais, em contraste com gerações anteriores, que priorizavam apenas estabilidade em meio a cenários mais instáveis.
A pesquisa mostra ainda que 83% dos brasileiros buscam novas formas de lidar com as finanças, priorizando diversificação, autonomia e estratégias inteligentes de investimento. Entre os principais interesses estão investir para gerar renda passiva (49%), empreender e criar o próprio negócio (45%) e investir em educação, capacitação e cursos (41%).
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O estudo revelou que as mudanças de comportamento financeiro não são meramente geracionais, e sim uma transformação que acomete todas as pessoas, independentemente de idade, faixa de renda ou região. Esse novo ideal cultural se reflete também no papel do crédito como um aliado para prosperar: 71% dos participantes da pesquisa enxergam o crédito como algo positivo quando bem utilizado.
Além disso, 60% afirmam que considerariam financiar compras se tivessem mais conhecimento sobre o tema, em contraponto a uma ideia histórica de parte da população que enxergava o financiamento apenas como uma dívida. Cada vez mais, contudo, as pessoas passaram a enxergá-lo como uma alavanca para prosperar.
A postura reflete um comportamento mais racional, que busca equilíbrio entre cautela e oportunidade. Essa mudança aparece também na relação com os bancos: enquanto no passado as instituições financeiras eram vistas majoritariamente como local transacional e para guardar dinheiro, hoje apenas 22% mantêm essa visão, em contraste com 41% que já consideram que o banco possui um papel mais consultivo, como um aliado estratégico para organizar finanças, orientar decisões e apoiar projetos de prosperidade.