O Ibovespa já acumula alta de 20% em 2025 e encosta nos 150 mil pontos, um recorde histórico. Pelo menos nominalmente. Quando o assunto é avaliação, porém, o ângulo muda: a percepção é de que o índice avançou pouco diante do tamanho do desconto ainda presente nos ativos. Em outras palavras, a Bolsa brasileira segue muito barata e, agora, o que investidores institucionais querem entender é quando esse potencial de alta será finalmente destravado.
Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, recentemente foi questionado sobre isso por um desses grandes tubarões do mercado, como relatou em entrevista exclusiva ao E-Investidor. Após discutirem o tema, ambos concluíram que as incertezas fiscais são um dos principais fatores que têm limitado a performance do Ibovespa.
Ainda assim, a visão é de que, caso haja um ajuste nas contas públicas, esperado para 2027 independentemente do governo eleito, e o cenário macroeconômico permanecer estável, a valorização dos ativos poderá ser substancial e rápida.
“Vai faltar papel na Bolsa (para tantos compradores), foi essa a expressão que nós usamos”, disse Gardimam.
A conclusão veio do fato de que, hoje, o mercado financeiro brasileiro está menor. Além de muitas empresas terem fechado capital, a lista de ofertas públicas iniciais (IPOs) continua vazia desde 2021. Paralelamente, os fundos de investimento, no geral, estão com uma exposição muito reduzida à renda variável, assim como as pessoas físicas, cuja representatividade no mercado caiu de 21% para 12,6% nos últimos cinco anos.
“Mas se você encaminha um ajuste, reduz a taxas de juros, a inflação vem para baixo, minimiza esse risco externo, vai faltar papel. Os fundos de pensão, os investidores estrangeiros e as pessoas físicas vão querer comprar. Em algum momento, eles reentrarão no mercado”, diz Gardimam.
Por que o investidor precisa ter Bolsa na carteira?
Acertar quando essa valorização substancial e rápida ocorrerá, entretanto, não é uma tarefa fácil. Por isso, o racional é de que não ter exposição à Bolsa brasileira é uma péssima decisão. Fazer isso pode deixar o investidor de fora de uma grande virada positiva no mercado doméstico.
Bom horizonte para os ativos de risco nem tanto para os de proteção. Se ações são uma boa aposta para ter retornos no médio prazo, investir em dólar, que geralmente vai bem quando a Bolsa vai mal, não tende a trazer esse rendimento tão rápido.
“Ainda não vemos o dólar com uma oportunidade de compra clara e evidente para ganho de capital”, aponta o economista-chefe da Ágora Investimentos. A moeda norte-americana já caiu 13% em relação ao real em 2025 e Gardimam acredita que esse movimento possa continuar no ano que vem, ainda que não na mesma magnitude.
A explicação tem menos a ver com a força do real, aponta o especialista, e mais com a fraqueza do dólar globalmente em função do aumento das incertezas associadas à questão fiscal – sempre ela – da economia americana.