Ações da Minerva (BEEF3) lideram as perdas do Ibovespa nesta quinta-feira (6). Foto: Adobe Stock
As ações da Minerva (BEEF3) registraram a principal queda do Ibovespa nesta quinta-feira (6), mesmo após a empresa divulgar um balanço considerado positivo pelo mercado. No fechamento, os papéis derreteram 13,48% cotados a R$ 6,42. Na mínima, chegaram a atingir o patamar de R$ 6,26.
A companhia teve lucro líquido de R$ 120 milhões no terceiro trimestre, alta de 27,6% em relação ao mesmo período de 2024, quando contabilizou R$ 94,1 milhões. A geração de caixa livre foi um dos principais destaques do intervalo, atingindo R$ 2,5 bilhões, o maior valor trimestral já registrado pela companhia.
Na percepção do mercado, o problema é que a excepcionalidade dessa métrica pode não se repetir. Isso porque o resultado foi gerado pela venda de estoques acumulados nos Estados Unidos, além de adiantamentos de clientes e financiamentos por fornecedores.
“Ainda não temos visibilidade sobre a recorrência da geração de caixa incremental no futuro, e esse é o principal motivo pelo qual nossa recomendação permanece neutra”, destacam Ágora Investimentos e Bradesco BBI, que têm preço-alvo de R$ 8 para BEEF3.
O BTG Pactual faz o mesmo alerta. “A Minerva está simultaneamente crescendo e gerando caixa. A dúvida é: até que ponto um frigorífico pode se financiar com clientes e fornecedores em mais de dois meses de vendas?”, questiona o banco.
A instituição também observa que, embora a dívida financeira reportada tenha recuado para R$ 11,8 bilhões, as despesas financeiras líquidas atingiram R$ 3 bilhões nos últimos 12 meses, o que indica um custo efetivo de capital elevado. O BTG mantém recomendação neutra para as ações da Minerva com preço-alvo de R$ 8, mas informou que deve revisar suas estimativas à luz dos novos números.
Um trimestre para “pendurar na parede”
Para a XP Investimentos, os resultados reportados pela empresa foram positivos, sendo esse um trimestre para “pendurar na parede”. A casa reiterou a recomendação de compra para a empresa, que também é a sua top pick (preferência) no setor.
Considerando a perspectiva para o quarto trimestre – com demanda doméstica e externa sólida, além de preços do gado abaixo do esperado –, a corretora vê espaço suficiente para um rendimento do fluxo de caixa livre na casa de dígitos, com forte pagamento de dividendos.
O BTG vai na mesma linha. O banco relembra que a política da Minerva prevê payout (parcela do lucro distribuída em dividendos) de 50% quando a alavancagem ficar abaixo de 2,5 vezes – patamar que parece estar cada vez mais próximo, na visão da casa.
“Se olharmos o passado para projetar o futuro, um aumento na distribuição de dividendos parece ser o próximo passo da companhia. Nos anos seguintes ao aumento de capital de 2018, a Minerva distribuiu R$ 1,4 bilhão em dividendos, beneficiando tanto acionistas controladores quanto minoritários que buscavam liquidez e redução de endividamento”, diz o BTG.
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Ainda no balanço, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 1,388 bilhão no trimestre encerrado em setembro, recorde histórico, com avanço de 70,8% ante o terceiro trimestre do ano passado e de 6,6% em relação ao segundo trimestre. A receita líquida alcançou R$ 15,512 bilhões, alta de 82,5% frente a igual período de 2024 e de 11,5% ante o trimestre anterior.
As expectativas futuras para a Minerva
O Itaú BBA, que tem recomendação outperform (equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 9 para Minerva, acredita que a companhia pode continuar apresentando bom desempenho enquanto persistirem condições favoráveis no setor global de carne bovina. Além disso, uma postura conservadora em relação à dinâmica de capital de giro para 2025 e 2026 pode gerar revisões positivas nas estimativas de mercado, ainda que parcialmente compensadas por incertezas em relação às margens.
Atualmente, o banco vê BEEF3 sendo negociada a cerca de 4 vezes EV/EBITDA – indicador que relaciona o valor da companhia e o seu Ebitda –, patamar que considera razoável. No entanto, o BBA não descarta alguma pressão de curto prazo do ponto de vista técnico. “Após o forte desempenho das ações no último trimestre, reconhecemos que alguns investidores já vêm realizando lucros nos níveis atuais”, afirma.
O Santander também reiterou recomendação de compra para a Minerva após o balanço. O banco avalia que a geração de fluxo de caixa livre recorde permite uma redução mais rápida da alavancagem e levanta dúvidas sobre o possível retorno da distribuição de dividendos. “Olhando à frente, vemos a continuidade do momento positivo, sustentado pela demanda resiliente da China e pela oferta mais restrita de carne bovina nos Estados Unidos, mesmo com o início da queda na disponibilidade de gado no Brasil”, destaca.