Esta é a primeira reportagem de uma série especial do E-Investidor produzida em Nova York, que será publicada ao longo desta semana
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Esta é a primeira reportagem de uma série especial do E-Investidor produzida em Nova York, que será publicada ao longo desta semana
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Nova York – Por serem o maior mercado de investimentos e a maior economia mundial, os Estados Unidos costumam ditar os rumos dos investidores mundo afora, e em 2025 não tem sido diferente. As incertezas sobre a atividade econômica do país, a política tarifária de Donald Trump e a duração do recém-iniciado ciclo de corte de juros levaram ao fluxo de capital para fora dos EUA, após anos de “sobrealocação”.
Isso gerou uma série de outros movimentos: o bom momento dos mercados e moedas emergentes, incluindo o Brasil; uma desvalorização global do dólar frente a valorização expressiva de ativos como ouro e bitcoin; além de questionamentos mais expressivos entorno dos valuations bastante elevados das ações americanas, muitas nas máximas históricas graças ao boom de inteligência artificial. Este último ponto, inclusive, tem feito alguns players em Wall Street entoar apostas em uma nova bolha no maior mercado do mundo.
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Mas a BlackRock descarta tudo isso. Para Benjamin Souza, managing director da maior gestora de ativos do mundo, com US$ 13 trilhões sob gestão, o cenário atual é muito diferente daquele visto nos anos 2000, quando a bolsa americana realmente teve uma bolha nas empresas de tecnologia. E isso tem a ver sobretudo com os resultados atuais.
“Não dá para criar uma bolha quando há lucros dessa magnitude. É possível discutir o que está acontecendo individualmente em algumas empresas não lucrativas, mas para a economia dos EUA e o S&P 500 como um todo, é muito difícil acreditar nisso”, disse em um encontro com jornalistas brasileiros realizado na última quinta-feira (6) na sede da gestora em Nova York a convite da Avenue.
Os ganhos com IA, além de serem um dos principais responsáveis pelos bons números das empresas americanas, também tem gerado uma transformação importante na dinâmica da economia americana. Se antes o Federal Reserve estava mais preocupado com a inflação, agora, o foco está na redução da criação de empregos no país – por isso, a instituição começa lentamente a reduzir a taxa de juros.
E isso, segundo Souza, também está ligado de alguma forma com a IA. Empresas estão contratando menos, primeiro porque querem proteger as margens em meio à incerteza macro, mas também porque estão conseguindo utilizar tecnologia para substituir algumas tarefas. O equilíbrio entre o crescimento ainda robusto da economia e a falta de criação de empregos criou um “momento complexo” para a economia dos EUA, destacou o executivo.
A resiliência da economia americana, no entanto, tende a ser um desafio para o Fed, que pode cortar menos — ou atrasar — o ciclo. A expectativa da Black Rock é que a instituição reduza a taxa mais três vezes até chegar no novo patamar “neutro”. Atualmente, a Fed Funds está entre 3,75% e 4% ao ano, após duas reduções de 25 basis point em setembro e outubro deste ano.
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Se o ritmo de juste for realmente mais lento do que o mercado espera, a renda fixa pode ter um ano mais difícil em 2026, depois de bons retornos em 2025.
“Todo e qualquer setor de renda fixa foi bem este ano, crédito teve bom desempenho, high yield pagou bem, os emergentes foram incríveis. Mas o isso é difícil de repetir”, disse Souza. “O mercado está ‘precificando a perfeição’; e quando isso acontece, fica vulnerável caso o Fed mude de ideia e não corte os juros em dezembro, ou não comece os cortes no início do ano. Isso é algo a se preocupar.”
Com bolsa nas máximas e a incerteza na renda fixa (e na economia americana), investidores têm procurado alternativas. Bitcoin e ouro surgem como grandes destinos desse fluxo, assim como mercados de outras geografias. Europa, Ásia e emergentes vêm entregando bons resultados, nas ações e nas moedas, graças a essa diversificação “além dólar”.
Apesar de ver a continuidade do bom momento do ouro, o manager da Black Rock não vê o movimento do dólar com fundamentos suficientes para se tornar estrutural. Pelo menos não como muitos outros players do mercado tem defendido. Países europeus e asiáticos têm desafios fiscais como os EUA, e o diferencial de juros entre as economias deve jogar a favor da moeda americana.
“O fator de curto prazo que impacta o dólar é fluxo. Mas quem saiu dos EUA para investir em qualquer outro lugar em abril [após o Libaration Day] cometeu um grande erro”, afirmou Souza. “Logo vamos parar de falar nessa história de enfraquecimento do dólar.”
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