BTG Pactual prevê queda de margens no setor de proteína animal em 2026 com aumento da oferta de frango e início da fase de retenção no gado. (Imagem: Adobe Stock)
O BTG Pactual avaliou, em relatório, que o ano de 2026 deverá ser marcado por “pressão sincronizada de margens entre bovinos e aves”. De acordo com a instituição financeira, isso é provocado por um cenário em que a oferta de carne de frango cresce nos Estados Unidos e no Brasil ao mesmo tempo em que a disponibilidade de gado no Brasil se aproxima de um ponto de inflexão.
A casa atualizou projeções para JBS (JBSS32), Minerva (BEEF3) e MBRF (MBRF3). A JBS segue como única ação com recomendação de compra, com preço-alvo de US$ 21, enquanto Minerva e MBRF permanecem com recomendação neutra. “A JBS continua sendo nossa única recomendação de compra e nossa top pick (escolha principal), graças à diversificação geográfica e de proteínas e ao valuation menos exigente”, afirmam os analistas.
Após dois anos de forte oferta de carne bovina, o BTG aponta que os sinais de retenção começam a aparecer no Brasil. O preço do bezerro sobe mais rápido que o do boi gordo, um movimento historicamente associado ao início de fases de retenção.
“O ciclo da pecuária parece estar chegando ao fim da fase de liquidação“, avaliou o BTG. Isso tende a reduzir a oferta de animais e comprimir margens de frigoríficos em 2026. O banco prevê que o ambiente estrutural ainda é de mudança, com ganhos futuros de produtividade, mas insuficientes para compensar a queda de disponibilidade no curto prazo.
Nos Estados Unidos, a recomposição do rebanho deve manter os frigoríficos sob forte pressão. O BTG prevê um cenário desafiador, com margens historicamente baixas. “Não esperamos normalização antes de 2028“, disse. A escassez de gado, uma consequência de anos de liquidação, deve se prolongar com a fase de retenção, diminuindo a oferta para processamento.
O fim da “fase excepcional da proteína de frango” é um dos pontos centrais do relatório. Após anos de margens elevadas impulsionadas por limitações genéticas e queda do custo do grão, tanto EUA quanto Brasil iniciam um ciclo de forte recomposição de oferta. Nos EUA, a produção avançou mais de 5% em setembro e outubro, derrubando preços em cerca de 30%. O BTG projeta aumento de 3,5% na oferta em 2025 e 3,7% em 2026, o equivalente a 1,9 milhão de toneladas adicionais.
No Brasil, a colocação de matrizes subiu 7% no ano, apontando para aceleração da produção e compressão gradual de spreads. “Primeiro acontece de forma gradual. Depois, de repente”, alerta o relatório, ao lembrar que ciclos passados com crescimento de 6% na oferta levaram margens a níveis de um dígito.
O BTG Pactual descarta que a alta esperada para a carne bovina, causada pela retenção nos principais exportadores (EUA, Brasil e Austrália), sustente preços do frango. “Demanda é valor, não volume”, diz o relatório. Em 2025, o preço médio de exportação do frango brasileiro caiu 3,5%, enquanto o da carne bovina subiu 17,5%. A tendência, segundo o banco, é de continuidade desse “descolamento” entre proteínas.