Em uma semana na qual renovou seu recorde de fechamento e intradia, o Ibovespa,principalíndice de ações da Bolsa brasileira, encerrou o pregão desta sexta-feira (28) em alta de 0,45%, aos 159.072,13 pontos. Com isso, o benchmark da B3 acumulou ganho de 6,37% em novembro. Foi o quarto mês consecutivo no azul e o nono mês de valorização em 2025 (neste ano, o Ibovespa só caiu nos meses de fevereiro e julho).
O índice iniciou novembro no embalo positivo de outubro, quando o mercado passou a precificar a aproximação do presidente Lula com o americano Donald Trump. A revisão das sobretaxas de 40% contra a importação de produtos brasileiros terminou se concretizando em novembro para centenas de produtos.
Esse foi o primeiro fator externo positivo que fez o investidor estrangeiro a voltar a estudar os ativos brasileiros. Outra boa notícia vinda dos Estados Unidos no final de outubro e que contribuiu para o bom humor do mercado em novembro foi a redução da Fed Funds Rate (a taxa básica de juros daquele país) em 0,25 ponto percentual. “Esses dois fatores fizeram o fluxo externo voltar para o Brasil”, observou Flávio Conde, Head de Análise da Levante.
Até o dia 19 de novembro, a Bolsa brasileira havia registrado a entrada de R$ 7 bilhões. “Isso foi muito bom. O Ibovespa já entrou em novembro com quase 150 mil pontos e chega ao final do mês com 159 mil”, completou o analista.
Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora, acredita que, após testar a região dos 157 mil a 159 mil pontos, o Ibovespa entrou em “movimento de consolidação”, com perda gradual de fôlego. Segundo ele, embora o fluxo externo tenha sido positivo no começo do mês, o investidor passou a adotar postura mais prudente diante das incertezas fiscais e da oscilação da curva de juros.
No Brasil, os dados de inflação também ajudaram, com o IPCA vindo abaixo do esperado em 0,8% para o mês de outubro, no índice divulgado em 11 de novembro. Esse resultado reforçou o ânimo dos agentes de mercado a rever suas projeções, apesar de boa parte considerar praticamente nula as chances de uma redução da Selic ainda este ano. “A atenção permanece concentrada na trajetória da Selic e na necessidade de maior clareza sobre o compromisso fiscal”, completou Mollo.
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) está marcada para os dias 9 e 10 de dezembro, com expectativa de manutenção dos juros básicos da economia em 15% ao ano. Nesta mesma data, ocorrerá a reunião do Fed que vai decidir o movimento dos juros nos Estados Unidos. “Chamou atenção a tensão entre governo e Banco Central sobre o ritmo futuro da Selic e o avanço das discussões fiscais e tributárias no Congresso”, observou Enrico Gazola, economista pelo Insper e sócio-fundador da Nero Consultoria.
Uma notícia que já estava no preço foi a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A proposta do governo, que passou no Senado no início do mês, prevê a criação de imposto para contribuintes de alta renda (aqueles que ganham mais de R$ 600 mil por ano, ou R$ 50 mil por mês, incluindo dividendos). A medida busca compensar a ampliação da faixa de isenção do IR para trabalhadores que recebem até R$ 5 mil mensais a partir de 2026. Lula sancionou a lei na quarta (26).
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Um indicador que ajudou a interromper a escalada de alta da Bolsa no mês, e trouxe realização de lucros com o Ibovespa chegando perto dos 159 mil pontos, foi o relatório de empregos (payroll) dos EUA. Após um período de shutdown do governo americano, que atrasou a divulgação de dados, os Estados Unidos apresentaram criação de vagas superior à esperada em setembro, com 119 mil, contra expectativa de 51 mil.
Esse índice era bastante aguardado porque seria o primeiro retrato da economia americana depois de agosto, após o tarifaço de Trump. Apesar de o resultado mostrar resiliência econômica, esse movimento coloca dúvidas em relação a novos cortes de juros pelo Fed agora em dezembro. “Isso foi positivo para a economia, mas negativo para os mercados”, comentou o especialista da Levante.
Já apontando para a última semana do mês, no Brasil, o mercado voltou a buscar os 159 mil pontos após a confirmação da suspensão das tarifas de importação dos EUA contra centenas de produtos brasileiros. Esse primeiro movimento do governo Trump concentrou-se nas commodities agrícolas, um segmento sensível para a inflação ao consumidor americana, um fator que vinha pressionando indicadores de custo de vida e afetando a popularidade do presidente.
Embora a curva de juros de longo prazo tenha confirmado a tendência do ano e caído para perto de 13%, o que pesou positivamente na valorizações desses papeis foi o resultado. Os balanços da maioria das empresas foi divulgado entre o final de outubro e meados de novembro. “Resultado é um coisa que o mercado precifica muito rapidamente”, avalia Flávio Conde.
…e as que despencaram em novembro
Na ponta negativa, Hapvida (HAPV3) mergulhou de vez aos olhos do mercado (-54,92%), com resultado considerado muito fraco (lucro líquido em R$ 87 milhões, mas prejuízo em 12 meses de R$ 310 milhões), aumento de sinistralidade, despesa financeira alta e crescimento baixo no número de assegurados. Natura (NATU3) sofreu no mês caindo 7,99%, depois de apresentar um prejuízo de R$ 119 milhões no 3T25.
As empresas ligadas ao petróleo também sofreram no mês, com o preço da commodity recuando no mercado internacional, apesar de uma leve recuperação nos últimos dias. A Brava (BRAV3) mesmo apresentando um balanço considerado bom, registrou desvalorização de mais de 7% no mês. A Petrobras (PETR3;PETR4), por outro lado, negociou com valorização de 5,93% nas ordinárias e 1,88% nas preferenciais no mês.
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Raízen (RAIZ4) sofreu (-11,58%) por apresentar um prejuízo recorde na casa dos R$ 2,3 bilhões. A CSN (CSNA3) e a CSN Mineração (CMIN3) registraram lucros bilionário, mas foram penalizadas pelo excesso de endividamento do Grupo CSN, e caíram acima de 8% em novembro. Na visão do analista da Daycoval, o mês apresentou desempenho positivo em alguns segmentos mais defensivos ou em recuperação operacional, enquanto empresas mais alavancadas ou expostas a riscos regulatórios sentiram mais a volatilidade. “O comportamento heterogêneo reforça a necessidade de seletividade”, disse.
O que esperar para dezembro?
Para dezembro, o mercado concentra as atenções na decisão do Federal Reserve, que deve definir na segunda quarta do mês (10) se iniciará ou não um novo corte de 0,25 ponto percentual nos juros. Gazola, da Nero Consultoria, acredita que o mês tende a seguir positivo, apoiado no diferencial de juros do Brasil, mas com espaço menor para surpresas. O mercado deve reagir principalmente a dados de inflação nos EUA, à última reunião do Fed e aos sinais fiscais do governo brasileiro.
“Há chance de volatilidade maior por realização de lucros, mas o pano de fundo segue construtivo para emergentes”, disse o especialista da Nero Consultoria.
Um movimento de redução na Fed Funds Rate é visto como catalisador para melhorar o apetite por risco e destravar fluxo estrangeiro para a Bolsa brasileira. Esse movimento poderia levar o Ibovespa de volta à faixa dos 159 mil pontos. Já uma manutenção da taxa, combinada a um discurso mais conservador de Jerome Powell, presidente do Fed, tende a limitar o fôlego dos ativos locais e manter o mercado operando sem grandes avanços. “A comunicação do Fed continua sendo o principal fator de ajuste nos ativos”, comenta Mollo, da Daycoval Corretora.