Por que a notícia de Flavio Bolsonaro como candidato em 2026 levou a Bolsa ao pior pregão desde 2021
No mercado, a leitura é que pré-candidatura do filho de Bolsonaro afasta o "trade Tarcísio" do jogo e fortalece chances de reeleição do presidente Lula (PT); Ibovespa caiu 4,3%
Flávio recebeu o aval do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para ser pré-candidato nas eleições de 2026. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
A Bolsa brasileira vinha há semanas em uma trajetória de alta expressiva que parecia inabalável. Mesmo em dias que o exterior ia mal, o Ibovespa mantinha o ritmo, renovando recordes e recordes históricos em sequência. Foi assim que o principal índice de ações da B3 começou esta sexta-feira (5), até circular a notícia de que o senador Flavio Bolsonaro (PL) pode ser o representante do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu pai, agora preso e inelegível, à disputa eleitoral de 2026.
Perto de 12h, o Ibovespa chegou a operar acima de 165 mil pontos pela primeira vez em sua história. No fechamento, no entanto, derreteu 4,31%, aos 157.369,36 pontos. Foi o pior pregão da B3 desde 22 de fevereiro de 2021, dia em que o então governo de Bolsonaro interveio na Petrobras (PETR4), segundo dados da Elos Ayta Consultoria.
O dólar também reagiu mal e fechou em alta de 2,29% contra o real, a R$ 5,43. cotação mais alta desde 16 de outubro.
A aprovação da pré-candidatura de Flavio pelo ex-presidente Bolsonaro foi noticiada pelo Metrópoles e confirmada pelo Estadão. O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, disse estar a par da articulação: “Flávio me disse que o nosso capitão ratificou sua candidatura. Bolsonaro falou, está falado. Estamos juntos”, afirmou Valdemar. Veja o bastidor aqui.
A notícia caiu como uma bomba no mercado financeiro, que vem já há algum tempo se apoiando na expectativa de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seria o candidato da direita nas eleições de 2026. Na Faria Lima, o executivo é visto como um nome técnico, com potencial para vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PL) e endereçar as reformas que o empresariado cobra para controlar o crescimento da dívida pública.
É o “trade Tarcísio”, responsável por boa parte do otimismo visto nas projeções para os ativos brasileiros no próximo ano e incluem previsões de Ibovespa acima de 200 mil.
O nome de Flávio, no entanto, implode o trade eleitoral. “Cabe avaliar se Flávio Bolsonaro consegue reunir esse amplo espectro político, mas nitidamente o mercado já reage à perspectiva da ausência de Tarcísio”, diz o economista André Perfeito, da Garantia Capital.
Flávio é dos nomes com maior rejeição política do País. Um levantamento do Paraná Pesquisas, divulgado há menos de um mês, mostra que 51,8% dos entrevistados não votariam de jeito nenhum no filho 01 de Bolsonaro para a presidência da República. A rejeição de Lula é de 48,6%, enquanto a de outros nomes da direita, como Michelle Bolsonaro (PL) ou Tarcísio, são rejeitados por 47,9% e 38,8%, respectivamente, segundo a pesquisa.
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Para Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos, o aumento da volatilidade na Bolsa e no câmbio tem a ver com a percepção predominante entre analistas de que a rejeição da família Bolsonaro é alta e a pré-candidatura de Flávio reduz a competitividade da direita.
“Quando o mercado identifica um candidato com baixa capacidade de crescimento, costuma aumentar a cautela, não necessariamente por preferência política, mas porque isso reduz a previsibilidade sobre qual agenda econômica pode prevalecer no próximo governo”, destaca Pompermaier. “A leitura é de que o processo eleitoral pode ficar ainda mais polarizado e com menos clareza sobre a trajetória fiscal e o compromisso com reformas, o que naturalmente deixa o investidor mais defensivo no curto prazo.”
Fontes da ala do governo ouvidas pelo Broadcast/Estadão, no entanto, acreditam que o anúncio de Flavio como presidenciável é “esquisito” e pode ser apenas um balão de ensaio. O termo é muito utilizado para caracterizar uma informação que é vazada com a intenção de verificar a reação e possíveis efeitos de uma determinada medida, antes que ela seja anunciada de forma oficial.
Confirmada ou não, a pré-candidatura de Flavio fez o mercado local adotar maior tom de cautela, especialmente aquela pequena parte que já precificava a candidatura do governador de São Paulo. Para Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, o mercado passou a entender que, nesse cenário, Lula sairia vitorioso em 2026. Por isso a piora na Bolsa e no câmbio. “É destrutivo para a economia”, afirma.
No mercado, a reeleição de Lula traz a leitura de continuidade do atual modelo de política econômica, com expansão dos gastos públicos. Isso aumenta o receio em relação ao problema fiscal, dado que, para muitos economistas no País, o atual ritmo de crescimento da dívida é insustentável.