O pré-sal segue como principal fonte de valor da Petrobras, sustentando produtividade elevada e custos de extração entre os mais baixos do mundo. (Foto: Adobe Stock)
A Petrobras (PETR3) recebeu um diagnóstico claro do Itaú BBA: operacionalmente sólida graças ao pré-sal, mas enfrentando uma perda de atratividade por causa da queda no dividend yield e da rigidez do Capital Expenditure (Capex). Os analistas descrevem uma empresa que continua extremamente eficiente no que faz de melhor, extrair petróleo barato e produtivo, mas que atualmente entrega menos caixa ao acionista do que nos anos recentes, o que tem levado investidores a reduzirem posição.
Logo no início das reuniões com o CFO Fernando Melgarejo, o banco destaca que a administração reafirmou sua intenção de preservar a política de dividendos atual. O Itaú BBA registrou que, caso o Brent caia para níveis mais pessimistas, os contratos já assinados serão honrados, mas novos investimentos poderão ser suspensos. Enquanto esse cenário não se materializa, a Petrobras segue firme em cumprir o Capex previsto no Plano 2026-2030, que pode inclusive aumentar caso a plataforma P-80 seja antecipada para 2026.
Segundo o relatório, essa antecipação elevaria o Capex do próximo ano, mas reduziria a necessidade em 2027, mantendo a empresa confortável para entregar a produção de 2,5 milhões de barris/dia, com possibilidade de atingir 2,6 milhões com aceleração dos investimentos em Búzios.
Em seguida, o banco chama a atenção para o pré-sal, visto como o coração do valor da Petrobras. Para o Itaú BBA, os ativos continuam sendo “altamente atrativos”, graças ao lifting cost muito baixo, à alta produtividade e ao potencial de crescimento das reservas.
Eles destacam que a empresa está reduzindo custos de extração para algo próximo de US$ 5,5 por barril, um nível que poucos players no mundo conseguem igualar. Com isso, a Petrobras consegue atravessar períodos de petróleo barato sem precisar cortar produção, ao contrário dos produtores de shale nos EUA, que frequentemente precisam reduzir output quando o barril cai. Essa resiliência, segundo os analistas, posiciona a estatal para capturar valor quando o ciclo se inverter.
Apesar da eficiência operacional, o relatório aponta que o humor do mercado está mais contido. O Itaú BBA destaca que o atual dividend yield de um dígito é “menos atraente” do que os cerca de 20% distribuídos nos anos anteriores, o que levou investidores a reduzirem posições.
O receio de que o Brent possa cair abaixo de US$ 60/barril, somado à pouca flexibilidade da companhia para reduzir o Capex nos próximos dois anos, intensifica preocupações sobre uma possível alta da dívida bruta.
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Para reforçar esse ponto, o relatório menciona que vários investidores também questionaram movimentos da Petrobras (PETR3) fora do seu core, como a entrada no segmento de etanol. Embora o Capex do projeto seja pequeno, o BBA destaca que “a maioria dos investidores prefere foco nas operações principais e rejeita participações minoritárias em negócios não ligados ao upstream“. Ainda assim, alguns enxergam o movimento como um passo positivo na transição energética, desde que haja clareza sobre escala e direcional.
Apesar desses ruídos, o Itaú BBA observa que a operação segue robusta e que a estatal tem avançado em frentes importantes de eficiência. O pré-sal continua sendo o ativo mais valioso e resiliente da Petrobras, sustentando margens e capacidade de investimento; e o dividendo, embora preservado na política atual, não voltará aos patamares excepcionais dos últimos anos, a menos que o Brent surpreenda significativamente para cima ou que o Capex seja revisado, algo que, por ora, a empresa não sinaliza.