Natal mais caro em 2025: quanto ceia, presentes e viagem pesam no seu bolso
Levantamento da XP Investimentos mostra que, apesar da desinflação em 2025, gastos típicos nessa época do ano sobem acima do IPCA e pressionam o orçamento das famílias
Mesa de Natal: levantamento da XP mostra que ceia ficou quase 50% mais cara em cinco anos, superando a inflação do período. (Foto: Adobe Stock)
O Natal de 2025 chegou com suas mesas fartas e a conta pesada. Levantamento da XP Investimentos mostra que, apesar da inflação mais comportada ao longo do ano, os gastos típicos das festas seguem pressionando o bolso do consumidor: a ceia ficou 49,6% mais cara em cinco anos, presentes acumulam altas relevantes e até a viagem para ver a família custa mais no orçamento. O resultado é um fim de ano que exige cada vez mais planejamento financeiro.
A análise da casa compara a variação de preços em três janelas de tempo: 5 anos, 2 anos e últimos 12 meses. Depois, a sondagem revela que itens tradicionais das festas, como alimentos, bebidas, presentes e transporte, tiveram comportamentos bastante diferentes ao longo do período. Em comum, todos pressionam o bolso justamente em uma época marcada pelo consumo concentrado.
Do ponto de vista macroeconômico, 2025 foi um ano de desinflação. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 4,87% para 4,46% no acumulado de 12 meses até novembro, ainda acima da meta de 3% do Banco Central (BC), mas em trajetória mais favorável.
Esse movimento foi influenciado por fatores como o real mais forte em comparação ao dólar, a desaceleração gradual da atividade econômica, bens importados mais baratos (sobretudo da China) e a queda dos preços de alimentos no Brasil e no exterior.
“Esse ambiente ajudou a ancorar expectativas e reforçou um cenário mais benigno para a inflação“, destaca Rachel de Sá, estrategista de investimentos. A questão central, porém, é se essa melhora chega de fato aos gastos típicos do Natal.
A resposta? Apenas parcialmente.
Ceia de Natal sobe mais que a inflação
A XP Investimentos simulou uma “cesta de ceia de Natal” com seis itens que podem estar na mesa do brasileiro nesta época do ano: filé-mignon, bacalhau, queijo, vinho, frutas e leite condensado. O resultado mostra que, no acumulado de cinco anos, a cesta ficou 49,57% mais cara, superando com folga o IPCA do período, de 38,70%.
Quem mais pesou nesse aumento foram as frutas, que dispararam 93,08% no intervalo, refletindo anos de choques de oferta, problemas climáticos e custos logísticos elevados.
Publicidade
Laticínios também tiveram papel relevante: leite condensado e queijo carregam os efeitos do encarecimento de insumos e da dinâmica da pecuária no pós-pandemia. Entre os itens importados, o bacalhau aparece como vilão recorrente, sensível tanto ao câmbio quanto à demanda concentrada na época das festas de Natal e ano-novo.
Em contraste, o filé-mignon teve comportamento mais contido no longo prazo, influenciado pela queda nos preços das proteínas em 2022 e 2023, quando houve aumento da oferta no ciclo da pecuária.
Quando o recorte é reduzido para os últimos dois anos, a cesta ainda sobe 11,71%, novamente acima do IPCA (9,55%). Bacalhau e frutas seguem liderando as altas, enquanto laticínios mostram avanço mais moderado, sinalizando custos mais estáveis e maior concorrência no varejo. Já o filé-mignon acelera nessa janela, indicando reprecificação dos cortes premium.
No último ano, a fotografia muda de tom, mas não de direção: a cesta sobe 7,07%, contra 4,46% do IPCA. Desta vez, os maiores impactos vêm de bacalhau (+17,60%) e vinho (+16,36%), combinação de câmbio e demanda sazonal. Apesar da valorização do real ao longo de 2025, o dólar ainda carregava o patamar elevado do fim de 2024, pressionando os importados.
Há, porém, um ponto de alívio: as frutas, que tanto pesaram no passado, recuaram 0,60% no último ano, beneficiadas por uma safra melhor e fretes menos pressionados.
“O diagnóstico ajuda no planejamento: bebidas e itens sazonais costumam compensar quando comprados com antecedência, fora do pico de demanda”, avalia Rachel de Sá.
Publicidade
Presentear também ficou mais caro
O Natal não se resume à mesa. A troca de presentes, incluindo o tradicional amigo secreto, também sente o efeito da inflação. Pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) em parceria com o Datafolha mostra que roupas, brinquedos, calçados e perfumes lideram a preferência dos consumidores.
Na análise da XP, as flores naturais chamam atenção: alta de 60,60% em cinco anos, puxada por custos de produção, logística e sazonalidade, dinâmica semelhante à observada nas frutas. Roupas (+40,36%) e perfumes (+36,07%) também acumulam avanços consideráveis no período.
Nos últimos dois anos, as flores seguem como destaque, únicas acima do IPCA, enquanto brinquedos chegam a registrar queda, reflexo da maior concorrência e da oferta de produtos de menor valor agregado.
Publicidade
Já no recorte mais recente, os movimentos se invertem: roupas lideram a alta, em linha com consumo aquecido e recuperação de margens do setor, enquanto perfumes ficam mais baratos, beneficiados pela valorização do real – o dólar caiu 13% frente à moeda brasileira no período.
“O encarecimento faz com que muitos consumidores migrem para lembrancinhas ou presentes de Natal mais simbólicos”, observa a estrategista.
Viagem: avião ou Uber?
Para quem precisa viajar no Natal, o transporte virou um capítulo à parte. As passagens aéreas mostram comportamento relativamente benigno: estabilidade no último ano e queda relevante no acumulado de dois anos. Já o transporte por aplicativo explodiu, com alta de 65,57% em 12 meses.
Esse aumento reflete uma combinação de maior demanda, custos de combustível, manutenção e renovação de frota. “É um gasto percebido no dia a dia, mas que pesa ainda mais em períodos de deslocamento intenso, como o fim de ano”, aponta Rachel de Sá.
Quanto custa, afinal, o Natal?
No agregado, a conta é clara: se uma família gastava R$ 1 mil com o Natal em 2019 hoje desembolsa cerca de R$ 1.495 apenas para manter o mesmo padrão de consumo.
A diferença entre categorias mostra como alimentos reagem mais rapidamente a choques climáticos e de oferta, enquanto bens duráveis e serviços seguem outras dinâmicas, como câmbio e nível de atividade econômica.
O retrato de 2025 deixa uma lição: mesmo com inflação mais controlada, o Natal continua exigindo planejamento. Antecipar compras, substituir itens e acompanhar promoções não são mais apenas estratégias de economia, viraram parte essencial da tradição de fechar o ano com a mesa cheia e o orçamento sob controle.