- Para investir em um título prefixado, você tem que acreditar que esse nível de juros vai continuar em 10 por cento ou vai cair
- Caso você acredite que a taxa pode subir ainda mais, não faria sentido se travar em um título longo agora
Quem deu uma passada no Tesouro Direto nos últimos dias viu que os títulos prefixados mais longos estão pagando uma taxa acima de 10 por cento. Voltamos, depois de muito tempo de taxas baixas, para os juros de dois dígitos!
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Para o investidor que não acompanha tanto a realidade econômica, essa taxa mais alta pode parecer bastante atrativa e uma excelente oportunidade de investimento. Mas será que é isso mesmo?
Em 2016, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a política econômica mudou. Várias reformas como Teto de Gastos, Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência, redução do papel do BNDES na economia, controle da inflação e ancoragem das expectativas, foram realizadas para dar confiança para os investidores que nosso país seria fiscalmente responsável a partir de agora.
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A mudança funcionou e foi uma importante âncora para que os prêmios de risco embutidos dos juros longos dos títulos públicos pudessem finalmente entrar em uma trajetória de queda. As taxas de 10 anos foram de 16 por cento em 2016 para 6,5 por cento em 2019. O mercado confiava que o futuro seria positivo com resultados primários crescentes e positivos.
Eis que em 2020 tivemos a pandemia, e a política fiscal precisou mudar. O governo gastou em 1 ano de auxílio emergencial o que estimava economizar em 10 anos com a reforma da previdência. O mercado não mostrou piora nos prêmios de risco, pois entendeu em um primeiro momento a gravidade da situação, além de acreditar que seria um gasto passageiro.
Infelizmente, como diz o ditado, não há nada mais permanente que um gasto temporário. Nas últimas semanas, os jornais foram tomados por negociações políticas para retirar os precatórios do limite do Teto de Gastos. A ideia seria abrir espaço no orçamento para um aumento do Bolsa Família para o patamar do auxílio emergencial.
O mercado dessa vez não gostou da mudança da política, que tem o potencial de tornar permanente um aumento dos gastos fiscais, e reduzir a perspectiva de superávits fiscais no futuro próximo. O impacto da descrença foi sentido tanto no aumento das taxas dos juros longos, quanto na cotação do dólar, que subiu para 5,45.
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Enquanto o governo e o Congresso passarem uma mensagem de pressão por novos gastos, o mercado vai seguir colocando mais prêmio e pedindo mais juros para financiar sua dívida.
Para investir em um título prefixado, você tem que acreditar que esse nível de juros vai continuar em 10 por cento ou vai cair. Caso você acredite que a taxa pode subir ainda mais, não faria sentido se travar em um título longo agora. Sem contar que caso você queira vender este título antes do vencimento, poderia incorrer inclusive em prejuízo de marcação a mercado.
Mas como pensar em responsabilidade e restrição de gastos em um período pré-eleitoral?
Tenho muita dificuldade de imaginar essas pressões se reduzirem. Anos eleitorais são tradicionalmente épocas de aumento de gastos visando aumento de popularidade. Não apenas do governo como também do Congresso, estados e municípios.
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Mesmo que o cenário seja de gastos estáveis, para se travar em um juro tão longo assim o investidor tem que ter premissas positivas a respeito do novo governo de 2023. Será que o próximo presidente será fiscalmente responsável? Será que teremos mais reformas impopulares e fiscalmente restritivas? Com os candidatos que temos hoje em dia, fica difícil ter essa confiança.
Fator inflação
Por último, ainda temos o fato da inflação brasileira estar subindo e o Banco Central tendo que subir a Selic de forma mais tempestiva. Ao contrário de uma situação positiva de crescimento forte e risco de superaquecimento da atividade, nossa alta de juros atual está sendo bastante puxada por choques de oferta.
Essa alta agressiva fará com que a recuperação da atividade seja ainda mais lenta, prejudicando tanto a receita do governo, e consequentemente o fiscal, quanto a popularidade do Presidente, e a necessidade de mais gastos.
Ou seja, enquanto o cenário econômico for incerto e não estiver no radar nenhuma política de contenção de gastos crível, será muito arriscado pensarmos em uma trajetória consistente de queda das nossas taxas de juros longas, como tivemos de 2016 a 2019.
Estes próximos dois anos serão de grande volatilidade e eu recomendo, para a sanidade de todos os investidores aqui, cautela, liquidez e segurança.
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