Nos últimos dias, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que promoverá quatro privatizações nos próximos três meses. Entre investidores estrangeiros, esse anúncio bombástico não provocou a empolgação desejada. Por mais que compreendam a grande necessidade que o Brasil tem de privatizar algumas empresas e que a oportunidade que essas privatizações poderiam oferecer também é boa, o otimismo do ministro da Economia não é imediatamente incorporado por investidores que acompanham nosso país há um bom tempo.
A intenção de privatizar empresas como Eletrobras, Correios, EPL, Valec, EBN ou Infraero não é nova, mas já podemos adiantar que não conquistará as carteiras estrangeiras apenas pela ênfase dada na própria comunicação.
Naturalmente, quando um governo demonstra interesse em avançar nessa agenda, o mercado passa a observar com mais atenção e caminha para os pontos seguintes de uma análise.
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O Brasil é visto como um país onde todas as grandes ideias já circularam, entretanto, se atentarmos melhor, encontraremos um nível muito baixo de execução dessas mesmas ideias. Não podemos culpar a falta de interesse do governo em avançar com agendas complexas, como privatizações e reformas, porém para que o interesse externo seja genuíno, os passos a serem dados precisam se tornar mais claros e a demonstração de excelência política na construção de um consenso precisa ser sinalizada.
O investidor estrangeiro que tem os olhos aqui por um longo período sabe das dificuldades e dos impedimentos que limitam os poderes e quereres do Ministério da Economia ou do presidente. Esse é um dos preços da institucionalidade de um país. Esse preço, felizmente, é aceito, pois indica que existem mecanismos de validação para ideias boas e ruins. A promessa de privatizar quatro empresas em 90 dias é tratada pelo mercado como irreal, não por conta do empenho e do desejo que o Ministério da Economia pode ter, mas pelo conhecimento mínimo que o mercado acumulou sobre o Brasil nos últimos anos e, principalmente, sobre o atual governo.
A privatização da Eletrobras, por exemplo, é algo complicado e cheio de curvas. O Congresso ainda não se colocou de forma clara a favor dela e a articulação necessária para conseguir uma maioria é um mistério até dentro do Palácio do Planalto.
Viabilidade e risco político são os pontos-chave da análise
Por isso, a análise que fundos estrangeiros pedem para empresas como a Arko Advice é relacionada à viabilidade e a risco político. A viabilidade é o ponto-chave, pois ela é quem determina o timing de uma operação dessa complexidade. A medição do timing é o que faz o dinheiro estar no Brasil ou em outro país. A melhor oportunidade é aquela que se apresenta primeiro. Entendem que para uma privatização avançar, o Congresso é o campo de batalha mais complexo e mais incerto.
A nova base aliada em formação pelo presidente Bolsonaro ainda não atua de forma uniforme e eficiente, pois os termos de acordos do preço dessa aliança ainda estão em negociação. Além disso, a mania em vermos o “Centrão “como um bloco uníssono nos confundirá (assim como confundirá o governo) no cálculo de avaliação dos índices de traição e fidelidade.
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Por mais que o presidente tenha abandonado a tentativa de formar bases aliadas temáticas, o aspecto temático não foge das convicções de parlamentares e grupos políticos. Dois indivíduos da base aliada podem olhar a privatização da Eletrobras ou dos Correios de maneira completamente distinta, baseados no perfil do seu eleitorado, geografia, peso dessas empresas na política local e ranking de prioridades. A mensuração disso pelo governo ainda é capenga e o investidor estrangeiro que opta por mergulhar na compreensão da política nacional sabe disso.
Além do Congresso, há a necessidade de se analisar o posicionamento e dinâmica do TCU, da AGU, das próprias empresas, e a eventual judicialização que poderá surgir na forma como o processo de privatização for definido. A judicialização vem sendo recorrente no Brasil, assim como a morosidade em analisar processos importantes. Como disse outras vezes, o mérito em si não é suficiente para fazer algo avançar.
Papel do Ministério da Economia nas privatizações é desproporcional
A recente aprovação da Lei do Saneamento certamente foi uma boa notícia para o investidor que mira em oportunidades de privatização. No entanto, como se trata de trâmites estaduais em cada empresa que será privatizada, o investidor tende a olhar para onde o caminho das pedras tem iluminação. No caso da Sabesp, em São Paulo, a base aliada do governador João Dória é mais facilmente identificada na Alesp do que a do presidente Bolsonaro no Congresso.
A garantia da viabilidade não vem apenas do ministro Guedes e de suas intenções. Sabemos que o papel do Ministério da Economia no processo de articulação é crítico – como vimos na aprovação da Reforma da Previdência -, mas também é desproporcional. O peso colocado em cima do Ministério para viabilizar, quase sozinho, sua própria agenda alerta-nos sobre a necessidade de um melhor engajamento do governo por inteiro na busca por esse objetivo. A viabilidade para que as privatizações ocorram dentro de um cronograma sensível à realidade depende de um diálogo institucional livre de arestas criadas por conflitos políticos autogerados.
O investidor pragmático ouve sobre a possibilidade de privatizações em alta velocidade, sorri, mas volta ao que interessa. Para quem observa empresas setoriais, como o varejo, por exemplo, ou oportunidades mais macro, como commodities, o esforço para se livrar dos preconceitos que a política cria por meio de crises autogeradas, expostas em jornais do mundo inteiro, é grande demais para tirar o olho do que é mais fácil de mensurar sem emoção.
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Geografias mais simples ou que demonstrem políticas públicas claras e em busca de simplificação tendem a atrair mais do que imensas oportunidades em sistemas complexos e autofágicos como o Brasil. Porém, nem tudo está perdido e a meritocracia para atrair investimentos passará invariavelmente pelos resultados apresentados e nem tanto pelas intenções publicizadas.