Governo Trump ficou marcado pela dura imposição de tarifas comerciais. (Foto: Adobe Stock)
Todo ano, nos meses de abril e outubro, ocorrem as reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) que reúnem os principais formuladores de política econômica, acadêmicos e a liderança financeira global para discutir os principais desafios econômicos mundiais.
Diversos temas relevantes foram abordados, como: o impacto da Inteligência Artificial (IA) na economia, e evolução da dívida global e a vulnerabilidade financeira principalmente dos países emergentes, o debate sobre o foco de atuação do FMI com a volta ao tradicional tema da estabilidade macroeconômica. Mas, sem dúvida alguma, o tema principal que norteou todo o evento é o tarifaço americano, a tensão comercial gerada por ele e seus efeitos de curto e longo prazo sobre o crescimento global.
A atenção dos formuladores de políticas, analistas e imprensa internacional esteve quase que integralmente voltada para as diretrizes econômicas da nova gestão Trump. Em um ambiente global cada vez mais polarizado, a política econômica norte-americana se impôs como o principal eixo de debate, ancorado, principalmente, pelo secretário do tesouro Scott Bessent.
Estratégia comercial como motor de crescimento dos EUA
A equipe econômica dos EUA foi relativamente bem-sucedida em impor uma narrativa racional em torno do programa de governo, enfatizando a sequência de medidas começando pelo ganho de eficiência do estado, liderado por Elon Musk, o aumento de tarifas, seguido por cortes de impostos e desregulamentação como motores de um novo ciclo de crescimento.
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A intenção foi clara: apresentar as ações de política comercial não como protecionismo desorganizado, mas como parte de uma estratégia abrangente de revitalização da economia doméstica. Embora esse discurso tenha sido bem recebido em parte dos fóruns, as dúvidas quanto à sustentabilidade dessa abordagem permanece no mercado.
Chamou atenção também a percepção de que os efeitos das tarifas dos EUA vão além de uma desaceleração econômica. O componente geopolítico tem, neste momento, peso igual ou até superior ao econômico. A disputa com a China, por exemplo, é cada vez mais compreendida como um embate estratégico de longo prazo — envolvendo segurança, tecnologia e liderança global — do que apenas uma questão de balança comercial.
Apesar do endurecimento das políticas comerciais, e do número recente de queda de 0,3% no primeiro trimestre puxado pelo aumento das importações, não há previsão de recessão iminente nos Estados Unidos. A maioria dos analistas evitou projeções de desaceleração “efetiva”, dado que o consumo interno segue resiliente, o mercado de trabalho permanece aquecido e os estímulos fiscais ainda têm efeitos sobre a atividade.
Efeitos da disputa comercial entre EUA e China
Esse embate entre gigantes do consumo (EUA) e produção (China) deixa pouco espaço para os demais. A China, como contraponto estratégico, também foi protagonista nas discussões. Já os países emergentes, em especial os da América Latina, foram amplamente tratados como danos colaterais do novo arranjo global. Ainda que os riscos de contágio estejam no radar, o foco das grandes economias está claramente voltado para suas próprias estratégias comerciais e de negociação.
Nesse cenário, os bancos centrais globais sinalizam uma postura de cautela. A tendência é evitar reações precipitadas aos choques geopolíticos e buscar preservar a credibilidade frente às incertezas. A comunicação clara e a ancoragem das expectativas são importantes instrumentos das autoridades monetárias.
Com toda a atenção para a guerra de tarifas, o interesse em Brasil foi bem pequeno. Com pouco destaque nas discussões centrais, o país foi percebido mais como observador do que protagonista. As reuniões com diretores do Banco Central (BC) mostram uma narrativa de cautela, como tendência global dos bancos centrais, apesar dos dados da nossa economia ainda mostrarem desafios com o aquecimento da economia, o que mantém as apostas para um corte entre 25 e 50 bps nos juros.
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A ausência de um guidance (projeção) mais firme reforçou a percepção de que a autoridade monetária brasileira opta, neste momento, por uma condução prudente e reativa da política monetária, condizente com o ambiente de incerteza global.
Apesar do baixo interesse em Brasil, nosso vizinho Hermano, a Argentina, tem levantou interesse dos participantes. A nova gestão econômica do país gerou uma onda de otimismo, isso evidencia o apetite de investidores por narrativas de reestruturação — mesmo que ainda em estágio inicial.