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- Nas últimas semanas, houve uma forte queda nas ações de tecnologia de empresas chinesas, especialmente aquelas com ações listadas nas bolsas dos Estados Unidos
- Para entender melhor, precisamos contextualizar o cenário econômico. Veja os detalhes
Nas últimas semanas observamos uma forte queda nas ações de tecnologia de empresas chinesas, especialmente aquelas com ações listadas nas bolsas dos Estados Unidos.
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Primeiro, precisamos contextualizar o cenário econômico. No curto-prazo, a China está em um ciclo econômico mais avançado do que as demais regiões do mundo, já que conseguiu endereçar a pandemia de forma mais rápida e mais estrutural do que os países ocidentais.
O país conseguiu mostrar uma recuperação de crescimento já no final de 2020, com o seu mercado de ações sendo um dos grandes destaques positivos no ano passado. Com uma economia mais sólida e a pandemia controlada, a China iniciou este ano um processo de ajuste de política monetária, fiscal e creditícia, para evitar um superaquecimento econômico em setores específicos.
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As medidas começaram a surtir efeito e, nos últimos meses, começamos a verificar uma acomodação do crescimento, ainda em patamares altos, do crescimento da economia.
Vale destacar que o país lida, ao mesmo tempo, com alguns problemas, por ora pontuais, no mercado de crédito e em setores específicos da economia, o que levou a abertura de taxas e spreads de crédito no país. Isso acarretou um aperto das condições financeiras e, consequentemente, um “vento contrário” adicional ao crescimento econômico.
Nas últimas semanas, diante de sinais cada vez mais claros e concretos de acomodação do crescimento, o governo da China adotou postura mais frouxa, divulgando medidas de alívio monetário, como o corte de 50bps no compulsório dos bancos, assim como liberando mais crédito para a economia, que ficou evidente nos dados de crédito de junho.
A atuação do governo chinês no corte de compulsório foi visto pelo mercado como um sinal, ou um “seguro”, contra desacelerações mais acentuadas do crescimento global. Isso acabou ajudando a dar ímpeto aos ativos cíclicos em detrimento aos ativos de crescimento, nestes últimos dias.
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Nas últimas semanas, essa tendência havia sido interrompida, com forte apreciação de “crescimento” versus “cíclicos”. Acredito que o segundo semestre possa ser mais incerto e desafiador, mas ainda trabalho com um pano de fundo construtivo para a economia global e os mercados.
Essa tendência positiva será interrompida, em alguns momentos, por espasmos de volatilidade, essa verificada nos mercados chineses nas últimas semanas.
Vetores de risco
Deveremos monitorar, como riscos ao cenário: inflação nos EUA, crescimento na China, política monetária global, e a política no Brasil como vetores de risco.
A expectativa de acomodação do crescimento global pode gerar ruídos negativos, mas também pode estender a política monetária expansionista no mundo. O maior risco para os ativos de risco, assim, seria um cenário de inflação acelerando com crescimento desacelerando no mundo e, em especial, nos EUA.
Vejo o corte de compulsório na China por dois ângulos. (1) No curto-prazo, pode gerar o receio de que a desaceleração corrente do país seja maior do que o mercado estava vislumbrando. (2) No longo-prazo, mostra determinação do Governo em evitar uma desaceleração mais acentuada do crescimento.
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Continuo esperando um curto-prazo de mais incerteza para o cenário do país, mas ainda acredito que haja instrumentos para evitar uma piora mais acentuada da economia. Já existem oportunidades sendo criadas no mercado de ações e crédito privado da China nos atuais níveis.
Em paralelo a estes movimentos, no mercado corporativo, o regulador chinês iniciou um processo mais amplo de análise, regulamentação e intervenção nas grandes plataformas de tecnologia do país, muitas delas com ações em bolsa (local e internacional), outras próximas ao IPO e, muitas delas, com grandes investidores internacionais.
Este movimento, em especial, causou forte queda no preço das ações dessas empresas. Um ETF listado nos EUA composto por essas principais ações apresentou queda de cerca de 30% dos picos recentes nas últimas semanas.
Acredito que, neste momento, precisamos separar o curto-prazo do longo-prazo. No curto-prazo entendo que o cenário se mostra mais turvo, tanto em termos econômicos quanto em termos regulatórios. Espero mais volatilidade e, eventualmente, novas rodadas de pressão nesses ativos.
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No longo-prazo, contudo, acredito que a China e as empresas de tecnologia chinesas continuarão na vanguarda do avanço tecnológico mundial. A questão regulatória deve ser superada e endereçada. Parte dos riscos regulatórios já parecem estar embutidos nos atuais preços de parte desses ativos.
Janela de oportunidades
Assim, na minha visão, estamos em uma janela de oportunidade para elevar as alocações nesta classe de ativos, de maneira gradual e parcimoniosa. Como não saberemos o tamanho do movimento de correção, e ele pode ser bem mais acentuado e duradouro, gosto sempre de fazer estes movimentos de alocação em etapas.
Não quero minimizar aqui os riscos de curto-prazo e os desafios que teremos pela frente, mas precisamos estar atentos às oportunidades e atuar quando elas parecem estar diante de nós.
Existem no mercado excelentes Mutual Funds, líquidos, para carteiras offshore, assim como “feeder funds” desses fundos localmente para aqueles investidores que buscam exposição a esta tese de investimentos.
Leia também: China pós-pandemia é opção para diversificar investimentos
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A evolução do mercado no Brasil, com a abertura de uma nova “avenida” para investimentos fora do Brasil, torna ainda mais importante a diversificação do patrimônio, assim como uma acertada visão econômica do cenário global. A diligência e governança dos fundos e gestores internacionais é não menos importante neste processo.