Eduardo Mira é o especialista em renda variável da Me Poupe!. Professor e investidor há mais de 20 anos, é analista CNPI-T e especialista em finanças e investimentos, com pós-graduação em pedagogia empresarial, MBA em gestão de investimento e profissional ANBIMA CPA-10 e CPA-20. Também tem passagem por banco e corretora de investimentos.

Ele escreve mensalmente, às sextas-feiras.

Eduardo Mira

6 dicas para começar a investir em ações com segurança

O recomendado é diversificar a carteira, mas sem cair em "modismos"

Gráfico de ações. Foto: Envato Elements
  • Em meio a um ciclo de afrouxamento monetário no Brasil, naturalmente a renda variável volta a se tornar atrativa para boa parte dos investidores
  • Se você ainda não investe em Bolsa de Valores, esse é um bom momento para começar, pois as excelentes oportunidades de compras de ativos a preços ainda descontados não devem perdurar por muito mais tempo
  • Comprar empresas cujo negócio você sabe o que é pode ser uma boa dica para quem está começando na área

Estamos no ciclo de queda da taxa Selic e, conforme a equipe econômica do governo pontuou na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), realizada nos dias 30 e 31 de janeiro, o tom é de monitoramento e prudência, contudo, mantendo a expectativa de termos cortes sucessivos de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões.

Com a queda da taxa de juros, cuja previsão é encerrar 2024 entre 9,25% e 9,00%, naturalmente a renda variável volta a se tornar atrativa para boa parte dos investidores.

Se você ainda não investe em Bolsa de Valores, esse é um bom momento para começar, pois as excelentes oportunidades de compras de ativos a preços ainda descontados não devem perdurar por muito mais tempo, afinal, com o crescimento do interesse por ativos de Bolsa, os preços tendem a subir.

Investir em Bolsa é mais simples do que parece

Para quem está iniciando no mundo dos investimentos, pode parecer complicado lidar com inúmeros termos em inglês, analistas falando em gráficos, tendências, siglas, códigos, tickers, mas na verdade é bem simples e com pouco tempo você consegue se habituar aos jargões de mercado.

Compreendo o quanto pode parecer intimidador, pois eu já estive exatamente onde você está neste momento, começando a aprender a investir em Bolsa. Foi preciso muito tempo de estudo, disciplina nos aportes e também alguns pequenos erros ao longo da jornada, até que eu começasse a entender, pra valer, como funciona o mercado financeiro.

Felizmente os tempos mudaram e a tecnologia simplificou muita coisa, especialmente o acesso às informações, então, seu ponto de partida hoje é bem melhor, e eu encorajo que você inicie o quanto antes.

Dicas para começar sua carteira de ações do jeito certo

Trouxe para este artigo, conselhos que eu gostaria de ter recebido quando comecei, há mais de vinte anos, minha jornada como investidor em Bolsa, e que certamente teria me poupado muito tempo e dinheiro. Espero que sejam úteis para te motivar a começar seus investimentos.

1. Diversifique sua carteira, mas com moderação

Monte uma carteira de longo prazo diversificando setores. Depois disso, use seus aportes mensais para manter essa carteira sempre balanceada.

Isso significa definir o percentual de participação que cada ativo terá em seu patrimônio e acompanhar a variação de preços, para que cada um deles permaneça dentro do percentual definido.

Adicionar uma nova empresa só porque é “a ação do momento” pode não ser o melhor uso do seu dinheiro. Afinal, se você tem uma carteira montada com critério, seja fiel ao seu planejamento e também ao tempo que possui para estudar e acompanhar o mercado.

Não é porque todo mundo está comprando uma ação que você precisa comprar também. Em investimentos não existe modismo. Cada investidor é único, assim como seus objetivos, então, os ativos que servem para sua carteira são aqueles que te colocam mais próximo de seus objetivos e não aqueles que “todo mundo está comprando”. Fuja desse tipo de conselho!

2. Compre empresas cujo negócio você sabe o que é

Quem está começando a investir ainda não sabe avaliar em detalhes os fundamentos de negócios, então, fica mais fácil acompanhar e entender os movimentos de empresas que fazem parte do cotidiano.

Você lida o tempo inteiro com serviços bancários, seguro do carro ou de vida, plano de saúde, faz compras no supermercado, paga conta de luz, água, usa serviços de telefonia, internet, entre outros.

Há uma variedade considerável de setores da Bolsa que você, mesmo sem estudar profundamente, saberia dizer do que se trata, o que fazem, em que situações podem ganhar ou perder dinheiro, assim como sabe também, dentro desses setores, quais as empresas mais relevantes.

Só por esse exemplo, você percebe que pode ter uma carteira que conseguirá acompanhar com relativa facilidade, mesmo na sua fase iniciante como investidor em Bolsa.

Mas, como eu disse, é apenas um exemplo. Não se trata de uma recomendação de investimento. É importante que você avalie entre os setores com os quais tenha familiaridade, quais aqueles que fazem sentido para seus planos pessoais de longo prazo.

3. Se algo parece bom demais pra ser verdade, desconfie

Todo dia vai ter alguém falando sobre a próxima ação “com potencial de valorização de 500% em pouco tempo e que o mercado ainda não percebeu”. Cuidado com isso!

Infelizmente, existem pessoas que ganham dinheiro justamente com a ingenuidade e boa-fé dos iniciantes. Portanto, aprenda a investir com calma, estudo e bom senso, e não se deixe empolgar por anúncios sensacionalistas.

Lembre que o mercado financeiro tem profissionais que o monitoram 24 horas por dia. São pessoas que, além de estudar muito, possuem softwares de gerenciamento, robôs, matemáticos, economistas e todo um aparato de acompanhamento que não deixariam passar batido nenhuma grande oportunidade.

Existem, sim, ativos com potencial de valorizar 500%, mas em décadas, muitas décadas, e não em semanas ou meses. E não existem ações “que o mercado não percebeu” que são do exclusivo conhecimento de algum “novo gênio das finanças” que, generosamente, resolveu avisar a todos sua descoberta.

4. Longo prazo significa, no mínimo, uma década

Uma dúvida muito comum entre investidores iniciantes, é o que significa “longo prazo”. Quanto tempo, afinal, devemos manter um ativo em carteira?

Não existe uma única resposta, pois cada pessoa tem uma realidade, um planejamento e uma estratégia específica para alcançar suas metas. Contudo, quanto maior o seu horizonte de tempo, melhor será a performance de uma carteira de ações na multiplicação do seu patrimônio.

Se você montar uma carteira com empresas sólidas, com bons fundamentos e boa gestão, deve dar tempo ao tempo. Vender na primeira valorização, com medo de que seja a última, é um erro comum entre investidores que ainda não compreenderam a diferença entre uma carteira de longo prazo e operações de trade (quando você compra e vende rapidamente, apenas para surfar uma alta).

É preciso definir a sua estratégia para cada parcela do seu dinheiro. O montante definido para longo prazo não pode ser aquele com o qual você fica pulando de galho em galho, atrás de valorizações momentâneas. Ao fazer isso, você se expõe a mais risco e ganha menos do que ganharia se deixasse o dinheiro investido por muitos anos.

5. Aprenda a diferença entre investimento e trade

Investir é colocar seu dinheiro em boas ações após analisar detalhadamente as empresas e escolher aquelas cujos fundamentos do negócio sejam consistentes e com bom potencial de lucro no longo prazo.

Por outro lado, fazer trade é especular em relação aos movimentos curtos que um ativo pode ter na Bolsa. Isso independe dos fundamentos do negócio e está ligado a fatos momentâneos que podem impulsionar uma ação para cima ou para baixo.

Fazer trade no mercado financeiro é uma profissão que deve ser desempenhada por profissionais que estudam para isso e acompanham o mercado o tempo todo.

A imensa maioria dos investidores não profissionais que se arrisca no day trade perde dinheiro. Basta você dar uma busca na internet e encontrará centenas de estudos sérios atestando isso.

6. Se quiser fazer trade, comece pelo simulador

Fazer trade requer muito conhecimento de mercado, domínio de análise técnica e, ainda que você o tenha, em algum momento ocorrerão perdas. Sendo assim, para minimizar seus riscos, treine muito nos simuladores online, faça anotações, estude suas operações simuladas para entender o que deu certo ou errado e o porquê. Somente depois de treinar bastante, faça suas primeiras operações reais.

Nas operações reais de trade, invista apenas montantes que, se por acaso você perder, não vão impactar seu patrimônio.

Inicie sua jornada agora mesmo

O tempo é seu maior aliado na multiplicação de patrimônio, contudo, isso não significa sair comprando ações aleatoriamente só para montar uma carteira. O que vai te levar mais longe é a combinação de estudo, planejamento e constância nos aportes.

A disciplina de aportar mensalmente, mesmo que pequenos valores, e manter sua carteira balanceada e com boa diversificação é o verdadeiro segredo do sucesso nos investimentos.

Eu garanto que começando agora, dentro de dez anos você irá se surpreender com o quão longe conseguiu chegar.