

A economia global está em alerta máximo. A escalada da guerra tarifária entre os Estados Unidos e China transformou o comércio internacional em um verdadeiro campo minado. O que começou como uma disputa entre duas superpotências já tem impactos financeiros que geram incertezas e risco de estagnação de cadeias globais de produção.
Nesta sexta-feira (11), China elevou as tarifas de importação sobre os produtos dos Estados Unidos de 84% para 125% — o governo chinês prometeu ser a última resposta às elevações anunciadas nesta semana pelo presidente americano Donald Trump
Gigantes em rota de colisão no comércio global
A cronologia dos eventos recentes parece um roteiro de filme de ação, mas é a pura realidade. Em janeiro de 2025, Trump já havia ‘acendido o pavio’ ao impor uma sobretaxa de 20% sobre produtos chineses já taxados. A faísca inicial logo se transformou em incêndio.
Na primeira semana de abril de 2025, a tensão escalou quando o presidente americano elevou as tarifas para produtos chineses para impressionantes 54%, estendendo a taxação para vários outros países. A resposta da China veio como um contra-ataque estratégico, com tarifas de 34% sobre produtos americanos.
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A troca de golpes continuou com Trump ameaçando e, posteriormente, elevando a taxa total sobre produtos chineses para 104%. Em resposta, a China retaliou novamente, aumentando as tarifas para produtos dos EUA para 84%. A resposta imediata de Trump foi taxar as importações da China em 125%, com efeito imediato, e reduzir as taxas para 10% para 75 países por 90 dias. No entanto, a China respondeu novamente hoje e também aumentou as tarifas de importação sobre os produtos americanos para 125%. Agora, nos resta aguardar as cenas dos próximos capítulos.
Tarifa ótima: a teoria econômica que virou campo de batalha
No cerne dessa disputa está um conceito econômico complexo chamado “tarifa ótima”. A teoria remonta a David Ricardo, economista britânico defensor do livre comércio, que desenvolveu importantes teorias econômicas no século XIX e influenciou nomes como Malthus, Keynes, entre outros.
A lógica é simples (em teoria): se um país tem poder de mercado, ele pode usar tarifas para aumentar sua riqueza ao manipular suas exportações e importações, tornando suas exportações mais baratas e suas importações mais caras.
Mas na prática, tem um problema: o mundo reage. Nenhum país aceita passivamente perder mercado. A retaliação é regra, não exceção. E é isso que estamos vendo agora.
Quanto poder os EUA realmente têm para manipular o comércio global?
É óbvio que os EUA, como uma das maiores economias do mundo, têm grande influência no mercado global. Mas determinar exatamente quanto poder eles têm no atual cenário é bem desafiador. Depende de muitos fatores, como a elasticidade da demanda internacional, alternativas disponíveis para os países afetados, entre outros.
A questão também vai além dos preços dos produtos importados. O objetivo final de uma tarifa ótima é deixar os EUA mais ricos, reduzindo o custo do que eles compram em relação ao que eles vendem – como iPhones e carros elétricos. Para saber se a tarifa está funcionando, é preciso analisar como ela afeta os preços dos produtos que os EUA exportam. Caso o dólar se valorize excessivamente por causa das tarifas, os produtos americanos podem ficar muito caros e perder competitividade.
Impactos da guerra comercial no Brasil
A guerra comercial entre EUA e China coloca o Brasil em uma posição complexa, com oportunidades e riscos a serem considerados. Por um lado, o aumento das tarifas pode reduzir as exportações brasileiras para ambos os países, afetando setores como o agronegócio e a indústria.
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A incerteza gerada pela disputa também pode levar a uma desvalorização do real e a um aumento da inflação, impactando o poder de compra dos brasileiros e a estabilidade dos investimentos, tornando o mercado ainda mais volátil.
Por outro lado, a guerra comercial pode abrir novas portas para o Brasil. Com a redução do comércio entre EUA e China, outros países podem buscar alternativas, e o Brasil pode ampliar seu protagonismo como importante fornecedor de commodities como soja, minério de ferro e petróleo.
Além disso, a disputa pode levar a uma reconfiguração das cadeias de produção globais, criando oportunidades para o Brasil atrair investimentos e aumentar sua participação no comércio internacional.
Menos comércio, mais riscos: o mundo em alerta
O sistema comercial mundial que surgiu após a Segunda Guerra Mundial foi projetado precisamente para evitar guerras comerciais destrutivas como aquelas verificadas na década de 1930. Inúmeros mecanismos reguladores como a OMC, o FMI e Banco Mundial, desde o fim da II Guerra asseguraram o livre fluxo de capitais, inibindo grandes ondas especulativas, e a manutenção, por décadas, da cooperação comercial entre países.
Nesse momento, vemos Donald Trump atropelar essas duas premissas, desestruturando modelos liberais consolidados. Por outro lado, temos a China que há anos vem se preparando para este momento, aplicando, agora, modelo similar ao que os EUA aplicaram em 1940; a cooperação com seus parceiros.
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A economia mundial mudou. A China emergiu como uma nova potência hegemônica. É natural que a política econômica dos EUA mude e se adapte às novas circunstâncias. Mas arrisco dizer que as tarifas não são a “bala de prata” que talvez Trump esteja vendo para resolver os problemas da economia estadunidense.
Manter seu domínio em setores de alta tecnologia, recuperar uma posição em novos setores verdes e restaurar a prosperidade em regiões defasadas, para citar apenas alguns, são os desafios que a política econômica dos EUA terá que enfrentar nos próximos anos.
A política de aumento de tarifas está conduzindo dia após dia a uma guerra comercial global cujas consequências têm potencial devastador para as economias do mundo inteiro. Isso significaria menos comércio e, principalmente, menos cooperação internacional nas grandes questões da atualidade: guerra, pobreza e mudanças climáticas.