- Em entrevista, Nancy Tengler, gestora de portfólio e CEO da Laffler Tengler Investments, no Arizona, fez considerações importantes sobre a relação entre mulheres e finanças
- Ela observa que ainda hoje, a maioria das mulheres seguem delegando a responsabilidade pela gestão de suas finanças a maridos e pais
- Trazendo isso para dados brasileiros, mulheres são maioria em cursos de nível superior. Dessa forma, não é nem mesmo razoável saber que sua vida financeira ainda segue com tamanha vulnerabilidade
Eu pesquiso bastante sobre mulheres investidoras. Esse é um assunto muito importante pra mim, e acredito que as mulheres têm um potencial único para transformar realidades sob as mais variadas perspectivas, e a financeira é estruturante para todas as outras.
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Eu vivo cercado por mulheres: em casa são três; nas minhas empresas, 70% do staff é feminino; nas minhas redes sociais e cursos de finanças elas também são maioria absoluta.
Confesso que não planejei, foi acontecendo naturalmente, por afinidades e, provavelmente, porque o universo conspirou a meu favor. Trabalhar com mulheres é fonte inesgotável de aprendizado e crescimento.
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Por tudo isso, ao longo de minha jornada no mercado financeiro, venho colecionando artigos e pesquisas sobre mulheres e finanças, além de ter no meu cotidiano, um vasto campo de observação e estudo.
Mulheres precisam tomar as rédeas de suas finanças
Recentemente li uma entrevista de Nancy Tengler, gestora de portfólio e CEO da Laffler Tengler Investments, no Arizona, e autora do livro Women’s Guide to Successful Investing (ainda sem edição em português), e ela fez considerações interessantes e compartilho com a maioria de suas opiniões.
Um ponto relevante que Nancy Tengler enfatizou é que em seus mais de 40 anos de mercado financeiro, ela observa que ainda hoje, a maioria das mulheres seguem delegando a responsabilidade pela gestão de suas finanças a maridos e pais. Isso é algo que precisa mudar com urgência.
Trazendo isso para dados brasileiros, mulheres são maioria em cursos de nível superior, mestrados e doutorados; são mais de 50% população economicamente ativa do País, e chefes de família em quase 50% dos lares. Dessa forma, não é nem mesmo razoável saber que sua vida financeira ainda segue com tamanha vulnerabilidade.
Mulheres são investidoras mais eficientes
Tanto em seu livro, quanto no artigo que li recentemente, Tengler destaca que “as mulheres são investidoras mais eficientes do que os homens”, pois tendem a ser menos focadas em benchmarks, estão dispostas a realizar mais pesquisas e estão abertas a novas ideias.
Dados semelhantes foram aferidos em outra pesquisa muito importante sobre comportamento econômico de mulheres frente aos investimentos, realizada pelo BNY Mellon em 2021. Inclusive, já escrevi sobre essa pesquisa aqui no Investidor.
De acordo com o estudo do BNY Mellon, se o nível de participação feminina nos investimentos fosse equivalente ao dos homens, haveria um incremento de pelo menos USD 3,22 trilhões investidos no mercado financeiro global, sendo USD 1,87 trilhões em investimentos ligados à ESG e, portanto, com impacto socioambiental relevante.
Obstáculos financeiros na aposentadoria
Uma outra pesquisa recente, realizada pela consultoria financeira Edward Jones em parceria com a agência AgeWave, revelou que as mulheres são mais propensas do que os homens a enfrentar problemas financeiros na aposentadoria e, infelizmente, estão menos instrumentalizadas para fazer os ajustes necessários e reverter esse quadro.
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Se isso já é perturbador ao ler uma pesquisa sobre mulheres na América do Norte, onde as condições de vida são um pouco melhores, quando adicionamos à questão os aspectos socioeconômicos da realidade brasileira, tudo torna-se ainda mais preocupante.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a expectativa de vida das mulheres está aumentando e, atualmente, está em 80 anos. Dados de novembro de 2023, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), apontam que duas em cada três pessoas que se aposentam por idade são mulheres.
O Censo 2022, divulgado pelo IBGE, revelou que a pirâmide etária do Brasil se inverteu. A base, representada pelas crianças, está diminuindo, e o topo, representado pelos idosos, está aumentando. O número de idosos cresceu 57% em 12 anos, desde o Censo 2010.
Acrescento a esse dado, a frase da economista Brena Paula Magno Fernandez, que coordena o Núcleo de Estudos em Economia Feminista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que pesquisa desde os anos 2000 o fenômeno de “feminização da pobreza”:
“O número de mulheres pobres tem aumentado ao longo dos anos e a pobreza na velhice é duplamente terrível. Se a pessoa não tiver uma rede de apoio, vai acabar na mendicância, pois não consegue mais fazer os bicos que fazia antes por causa das doenças e da fragilidade física”.
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Um dos focos do meu trabalho como educador financeiro é contribuir no que estiver ao meu alcance, para mudar essa realidade, e espero que você compreenda o quanto é tarefa de todas as pessoas trazer esse assunto para o cotidiano e torná-lo pauta, se quisermos realmente reinventar a história econômica das mulheres em nosso País.
A hora de começar a pensar nisso é agora
Costumo dizer que nunca é tarde para começar a investir, e isso é fato, afinal, antes tarde do que nunca, mas uma coisa não se pode perder de vista: o êxito nessa jornada e a prosperidade material decorrente dela, são coisas totalmente ligadas ao tempo.
O tempo não volta, e o efeito dos juros compostos ao longo dos anos é impressionante, mas, para que a “mágica” aconteça, é necessário que você dê o primeiro passo e invista em sua educação financeira o quanto antes.
Trace uma rota de aprendizado e tire suas metas do papel. Hoje em dia existem ativos em que você pode investir a partir de R$ 1,00, então, mesmo que você comece com pouco dinheiro, o fundamental é a mudança de hábito, é assumir a responsabilidade por sua trajetória e fazer escolhas diárias que te coloquem cada vez mais perto de suas metas e de sua autonomia financeira.