Eduardo Mira é o especialista em renda variável da Me Poupe!. Professor e investidor há mais de 20 anos, é analista CNPI-T e especialista em finanças e investimentos, com pós-graduação em pedagogia empresarial, MBA em gestão de investimento e profissional ANBIMA CPA-10 e CPA-20. Também tem passagem por banco e corretora de investimentos.

Ele escreve mensalmente, às sextas-feiras.

Eduardo Mira

Por que a macroeconomia é importante para seus investimentos

A macroeconomia influencia o ambiente de negócios, impactando os investimentos e a sociedade como um todo

Como a macroeconomia impacta os seus investimentos? Imagem: Adobe Stock
  • A macroeconomia leva em conta todo o ecossistema a partir do qual a vida como conhecemos acontece no cotidiano dos países
  • É importante que você tenha pelo menos uma noção geral de como isso acontece, para entender o comportamento de sua carteira e, se necessário, realizar ajustes
  • Você não precisa ser um especialista em investimentos para identificar os rumos da economia

A macroeconomia estuda, entre outras coisas, o desempenho e o comportamento da economia como um todo, levando em conta sua estrutura, riscos, oportunidades, contextos globais e locais, geopolítica, relações político-institucionais, enfim, todo o ecossistema a partir do qual a vida como conhecemos acontece no cotidiano dos países.

Fatores como inflação, taxa de juros, taxa de crescimento, entre outros, influenciam o ambiente de negócios de empresas e países e, certamente, impactam os investimentos e a sociedade como um todo.

Sendo assim, é importante que você tenha pelo menos uma noção geral de como isso acontece, para entender o comportamento de sua carteira e, se necessário, realizar ajustes que a mantenham perseguindo o objetivo que você traçou ao estruturá-la.

Você não precisa ser especialista em finanças, mas precisa ler o noticiário

Você não precisa ser um especialista em investimentos para identificar os rumos da economia. Diariamente o noticiário econômico traz o cenário com riqueza de detalhes.

Informação sobre guerras, acordos comerciais entre países, fusões e aquisições entre grandes corporações, empresas abrindo ou fechando capital em bolsas de valores, empreendimentos sendo lançados nos mais variados lugares, enfim, o noticiário econômico traduz o ritmo e o rumo que a economia está tomando em cada ciclo.

Se você criar o hábito de ler e fizer o saudável exercício de estabelecer correlações, aos poucos vai conseguir fazer escolhas de investimento muito melhor embasadas, pois essas correlações são sinalizadores importantes que temos de utilizar no momento de decidir por um investimento de renda fixa ou variável.

Ao olhar para a conjuntura global e buscar entender em que aspectos ela afeta a economia local, bem como os reflexos disso no comportamento dos investidores, você consegue entender quando um determinado movimento de alta ou de queda é temporário e pontual, ou quando trata-se de uma mudança relevante de cenário que demande de sua parte alguma atitude mais específica em sua carteira de investimentos.

Recessão Global: esse assunto é da sua conta

Tenho certeza que ao longo de 2023 você leu ou ouviu vários analistas econômicos falando, por exemplo, sobre desaceleração das economias e sobre os riscos de uma recessão global.

É certo que nos últimos meses o discurso e as análises apontam para um certo alívio, onde a temida recessão de grandes proporções já não assombra, e a desaceleração econômica já dá lugar a outro termo “crescimento fraco”.

Ainda assim, gosto de usar o tema recessão como exemplo didático, pois ele é bem recorrente ao longo dos ciclos econômicos e sempre acirra ânimos fazendo com que muitos investidores realizem movimentações em suas carteiras com base exclusivamente em um recorte, sem aprofundar a avaliação para entender os reais impactos disso na economia brasileira e, especialmente, em sua própria carteira de investimentos.

A economia global tem reflexos intensos em mercados emergentes

É fato que nossa economia tem grande dependência do que ocorre nos mercados globais, e qualquer mudança no fluxo de capitais impacta o câmbio, nossas importações e exportações e, por consequência, nossa balança comercial.

Isso se desdobra para as relações de consumo, preço das mercadorias no mercado interno e, obviamente, no resultado das empresas que, ao registrarem menor lucratividade, podem ter seu valor de mercado também impactado, ou seja, queda no preço de suas ações.

Percebe como tudo está interligado e como não faz o menor sentido aquele senso comum das pessoas que não investem, de que “mercado financeiro não tem nada a ver com a economia real”.

Esse olhar é um erro terrível, que faz com que muita gente que poderia estar numa situação bem melhor, aproveitando as oportunidades de cada ciclo econômico, deixe de otimizar seu dinheiro, por achar que o mundo dos investimentos e da bolsa de valores é um mundo à parte. Ao contrário disso, mercado financeiro é economia real na veia!

Por que uma recessão global influencia um pequeno investidor?

Quando o risco de uma recessão global se instaura, os grandes investidores institucionais tendem a migrar seu capital para as economias consideradas sólidas. Ou seja, economias em desenvolvimento e consideradas mais instáveis, como é o caso da brasileira, perdem investidores que retornam a seus países de origem ou buscam noutros mercados alternativas seguras para alocação de capital.

A saída de capital faz com que o Real perca valor em relação ao dólar, e o motivo é simples de entender: para o investidor estrangeiro levar embora seu capital, ele precisa convertê-lo para dólar, ou seja, lei da oferta e procura: se mais empresas estão comprando dólares, o câmbio sobe, desvalorizando o real.

No caso de eventos de grande porte e de duração prolongada ou indeterminada como uma recessão global, por exemplo, a tendência é que a taxa de câmbio comece afetar os índices de inflação do país, pois muito do que consumimos depende direta ou indiretamente de importações.

Com a inflação em alta, o COPOM (Comitê de Política Monetária) pode considerar necessário subir a taxa de juros, e isso faz com que o custo de capital em nossa economia fique maior, ou seja, o crédito fica mais caro.

Se as empresas têm maior custo operacional para seguir funcionando, isso se reflete nos preços dos produtos e serviços, desacelerando o consumo, e impactando o desempenho das empresas listadas em bolsa, pois em situação de recessão e desaceleração econômica, as empresas registram menores receitas, margens de lucro mais baixas e isso influencia as perspectivas de resultados futuros projetados por analistas e investidores.

Use o noticiário econômico para investir melhor

O que fiz acima, de forma bem simplificada, foi o encadeamento de ocorrências, numa hierarquização da análise, pois é isso que você precisa treinar seus olhos para fazer ao ler o noticiário econômico: correlacionar cenários.

Todas as ocorrências macroeconômicas afetam direta ou indiretamente os seus investimentos, isso é cotidiano e faz parte da dinâmica. O que eu desejo que você passe a entender é que não é necessário se desesperar a cada notícia ou projeção de economistas, mas sim, criar o hábito de destrinchar a informação para então compreender se precisa, ou não, tomar medidas em sua alocação de investimentos.

Conhecimento é poder, e hoje, com a democratização do acesso às informações, ele está na palma da sua mão o tempo todo, basta querer aprender a usar. Pense nisso, e ao invés de agir com a manada, use o noticiário econômico a seu favor.