O que este conteúdo fez por você?
- A alta histórica reflete, em parte, o ambiente de incerteza global e as condições de mercado que favorecem a valorização do dólar como moeda de reserva
- Na prática, um dólar nominalmente alto pressiona a inflação e encarece produtos e serviços
- Há uma percepção geral de que a moeda americana está cara hoje, o que, por conseguinte, levantaria preocupações para o mercado
Nos últimos anos, o valor do dólar tem sido um dos principais termômetros para medir a saúde da economia brasileira. Há uma percepção geral de que a moeda americana está cara hoje, o que, por conseguinte, levantaria preocupações para o mercado brasileiro. Mas até que ponto essa percepção bate com os fatos? O dólar está realmente caro?
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A análise do dólar Ptax ajustado pela inflação brasileira (IPCA) e americana (CPI-U), elaborada pela Elos Ayta, ajuda a responder essas perguntas com um pouco mais de objetividade.
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O gráfico revela algo intrigante: se ajustarmos o pico do dólar em setembro de 2002 pela inflação acumulada dos dois países, sem considerar outras variáveis econômicas, o valor teórico da moeda americana teria sido de R$ 8,75 – bem maior que os atuais R$ 5,80.
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Já o valor nominal (isto é, o valor de fato do câmbio, sem o ajuste retroativo da inflação) está entre os maiores registrados. Esse dado adiciona uma camada de complexidade à análise: em termos nominais, o dólar está próximo dos níveis históricos mais altos, só que o valor ajustado pela inflação sugere haver espaço para ainda mais valorização.
Raízes da diferença
Para entender melhor essa diferença, é importante lembrar que nosso cálculo hipotético se baseia na paridade de poder de compra (PPC), ou PPP (purchasing power parity, na sigla em inglês). Esse critério considera apenas a inflação acumulada nos dois países.
Outros fatores que influenciam o câmbio, como a taxa de juros, os níveis de reservas internacionais, o risco-país e o fluxo de capitais, ficam de fora. A diferença entre os R$ 8,75 de 2002 (em valores ajustados) e o valor nominal atual (R$ 5,80) indica que, embora o real pareça “subvalorizado”, ele se mantém mais forte do que o sugerido pelo ajuste inflacionário.
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Isso ocorre porque o câmbio reflete não apenas o custo de vida relativo, mas também o comportamento do mercado e a confiança na economia brasileira.
O peso do dólar
Esse exercício de ajuste retroativo com base na inflação nos dá uma ideia de quão pior o câmbio poderia estar, mas isso não muda o fato de que um dólar a R$ 5,80 continua sendo um dos maiores já registrados. Há impactos diretos sobre custos de importação, preços de insumos dolarizados e até sobre o turismo internacional.
Na prática, um dólar nominalmente alto pressiona a inflação e encarece produtos e serviços, mesmo sem ter atingido o pico teórico calculado pela PPC.
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Essa alta histórica reflete, em parte, o ambiente de incerteza global e as condições de mercado que favorecem a valorização do dólar como moeda de reserva. Contam também fatores internos: apesar de algumas reformas, o Brasil ainda enfrenta desafios fiscais e estruturais que pesam sobre o câmbio. Em momentos de incerteza, investidores buscam a segurança do dólar, elevando seu valor mesmo quando o Brasil tenta manter uma posição mais estável no mercado internacional.
Questão de perspectiva
Afinal, o dólar está caro? Sim e não – depende do ponto de vista. Em termos teóricos, é útil saber que o patamar atual da moeda americana está longe do pico histórico de R$ 8,75 (em valores ajustados pela inflação), o que indica certa resiliência do real.
Mas a sabedoria popular ensina que, na prática, a teoria é outra. O valor nominal do câmbio está próximo dos maiores já registrados, o que mantém o dólar oneroso para a economia brasileira e para o bolso do consumidor. Dito de outro modo: em termos relativos e em perspectiva histórica, o dólar já esteve mais caro, mas isso pouco importa para quem sofre hoje com a situação do câmbio.
Isso reforça a importância de monitorar tanto o valor nominal quanto o ajuste por PPC, pois ambos oferecem insights complementares sobre o comportamento do dólar e da economia brasileira.