Investir em ação a menos de R$ 1 parece tentador, mas quais os riscos?

É sabido que os índices de uma bolsa de valores são um importante indicador para a avaliação do desempenho das ações das empresas negociadas em pregão. Integrar uma carteira teórica traz a essas companhias maior visibilidade, bem como o reconhecimento por fazer parte de uma lista composta por organizações que aderem às melhores práticas de transparência, credibilidade e disciplina com seus negócios.

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Para se tornarem elegíveis às carteiras teóricas, no entanto, esses ativos precisam atender a uma série de pré-requisitos, entre os quais ter presença de 95% em pregões, ter participação em termos de volume financeiro maior ou igual a 0,1% no mercado a vista (ambos no período de vigência das três carteiras anteriores) e não serem classificados como penny stocks, papéis de empresas negociados na bolsa de valores por menos de R$ 1.

O termo, que poderia ser traduzido como “ações de centavo”, é utilizado para descrever empresas com baixa capitalização – em geral, por apresentarem problemas de gestão ou por estarem em processo de falência. E é acerca desse pré-requisito que me debruço neste artigo.

Junto à plataforma do TradeMap, elenquei todas as ações daB3 negociadas no dia 28 de abril a valores inferiores a R$ 1. Não são muitas. Das mais de 560 ações listadas na Bolsa brasileira, apenas 11 se encaixam neste recorte. Dessas, oito integravam ao menos dois índices da B3.

Além do Ibovespa, o mais antigo e tradicional indicador da B3, a Bolsa possui outras dezenas de índices, criados para atender às demandas do mercado. Entre eles, destaco o Índice de Governança Corporativa Diferenciada (IGCX), Novo Mercado (IGC-NM), Trade (IGCT), o Small Cap (SMLL), o de Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG) e Índice Brasil 100 (IBRX), que estão entre as carteiras compostas por esses ativos.

Das 11 ações da amostra, sete faziam parte de algum dos índices da bolsa B3 no dia 28 de abril de 2023. Com o rebalanceamento quadrimestral realizado neste 2 de maio, cinco delas deixaram de fazer integrar as carteiras teóricas às quais faziam parte. São elas DOTZ3, ENJU3, INEP4, AMAR3 e RCSL4.

Se para ser incluído em uma carteira teórica um ativo uma ação precisa ter uma série de pré-requisitos, para a exclusão vale o mesmo. A não ser em casos bastante específicos como o de uma recuperação judicial, é preciso uma combinação de fatores que pesem contra a manutenção desse status quo.

Porém, a classificação de penny stock é um fator a ser considerado e deve sempre servir de alerta aos investidores. Para uma análise mais precisa, olhar para o preço máximo registrado por esses ativos nos últimos 12 meses, assim como sua variação desta máxima para seu valor atual e, ainda, sua evolução num prazo passado mais recente – na tabela abaixo, destaco a performance desses ativos desde o início de 2023 – pode auxiliar o investidor a compreender se há perspectivas de valorização desses papéis.

A ação da Recrusul, por exemplo, ainda que no dia 28 de abril estivesse sendo negociada a R$ 0,87 e, nos últimos 12 meses tenha alcançado uma máxima de R$ 1,46 (variação negativa de 40,43%), em 2023, tem apresentado um retorno positivo de 45%, apontando para uma perspectiva de recuperação.

O mesmo não podemos dizer, por exemplo, dos papéis da Livraria Saraiva, negociados no final de abril a R$ 0,98, porém com queda acumulada de 83,70% nos últimos 12 meses em relação a sua máxima no período (R$ 6,01). Neste ano, os ativos seguem em derrocada: -59% desde janeiro.

Ao olhar para os segmentos das empresas cujos papéis estão abaixo de R$ 1, notamos uma maior prevalência de companhias do setor de Programas e Serviços, composto, sobretudo, por empresas de forte base tecnológica. São três: Enjoei (ENJU3), TC (TRAD3) e Méliuz (CASH3). As duas primeiras já foram mencionadas nesta coluna como exemplo de empresas que, ainda que tenham realizado IPO nos últimos anos, têm sofrido com uma forte desvalorização de suas ações.

Feitas essas ponderações, é importante que os investidores sejam cautelosos ao investir em penny stocks. Embora pareçam atrativas, acessíveis e apresentem possibilidades de valorização no médio e longo prazo, as ações de centavos têm baixa liquidez e alta volatilidade, o que as torna um investimento de alto risco. De nada adianta comprar centenas, milhares de ações a baixo custo se a perspectiva mais provável é negativa.

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