

Imagine dois corredores: um, de passada constante, avança sem tropeços, não chega a impressionar, mas também não para. O outro, mais ousado, dispara em sprints, mas de vez em quando tropeça, cai, levanta e segue adiante.
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Imagine dois corredores: um, de passada constante, avança sem tropeços, não chega a impressionar, mas também não para. O outro, mais ousado, dispara em sprints, mas de vez em quando tropeça, cai, levanta e segue adiante.
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Numa hipotética corrida, assim teriam se comportado CDI e Ibovespa nos últimos 10 anos. O Ibovespa, índice da bolsa brasileira (B3), oscilou bastante, acumulando altos e baixos dignos de montanha-russa. Já os Certificados de Depósitos Interbancários (CDI), referência da renda fixa atrelada à taxa básica de juros, foi como um barco seguro em águas calmas: não fez curvas radicais e também não afundou.
Na análise em base 100 – isto é, considerando que ambos os ativos partiram do mesmo ponto – o Ibovespa terminou ligeiramente à frente do CDI (as datas de referência são 12 de junho de 2015 e de 2025). No entanto, seu caminho foi bem mais turbulento, conforme o gráfico abaixo deixa claro.
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Em 2.480 dias úteis, o Ibovespa teve desempenho superior ao CDI em 1.849 datas. Mas se olharmos o desempenho diário puro, a disputa foi acirrada: o Ibovespa “venceu” em 1.264 dias, contra 1.216 do CDI – isto é, quase deu empate.
Nas janelas semanais, o Ibovespa superou o CDI em 270 das 522 semanas. Já em janelas mensais, o Ibovespa saiu na frente em 63 dos 120 meses, contra 57 do CDI.
Resumo da ópera: apesar da volatilidade, o Ibovespa foi levemente superior em todas as comparações temporais, mas nunca com margem confortável. Isso é um alerta importante: retorno e risco caminham juntos, e quem opta por renda variável precisa aguentar alguns solavancos.
A montanha-russa do Ibovespa se torna ainda mais evidente quando comparamos retornos máximos e mínimos. Enquanto o CDI não teve retorno negativo, o Ibovespa colecionou tombos. O exemplo mais dramático é da perda mensal de quase 30% em março de 2020, auge da pandemia.
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Isso revela uma das principais lições da teoria moderna do portfólio: quem busca mais retorno precisa aceitar mais risco. É quando entra em cena a psicologia do investidor.
A teoria comportamental das finanças nos ajuda a entender por que muitos investidores se afastam da bolsa mesmo sabendo que, no longo prazo, ela tende a superar a renda fixa.
A aversão à perda, por exemplo, faz com que uma queda de 10% tenha um impacto emocional duas vezes maior que a alegria de um ganho equivalente. O resultado? Investidores vendem no pânico e compram na euforia — o oposto da racionalidade.
Outro viés importante é o da recência, isto é, o de considerar que algo ocorrido recentemente tem chances mais altas de se repetir. Exemplo prático: após crises, como em 2020 ou 2022, o investidor passa a enxergar a bolsa como “perigosa”, mesmo que o histórico mostre recuperação posterior.
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A solução não está em evitar o risco, mas em entendê-lo, aceitá-lo e planejar-se.
Quando analisamos as variações diárias do Ibovespa nos últimos 10 anos, encontramos 774 dias em que o índice variou entre 0% e 1% positivos (comportamento típico, mas ainda assim instável) e 713 pregões com quedas que ficaram entre 0% e -1%. Um quase equilíbrio.
Variações maiores (entre +2% e +5% ou entre -2% e -5%) também se equilibraram: 146 positivas contra 138 negativas. Houve só um caso de valorização acima dos +10%, em março de 2016. Já as quedas que ultrapassaram os -10% ocorreram quatro vezes.
Ou seja: apesar da aparente imprevisibilidade, o Ibovespa apresenta uma distribuição bastante simétrica entre dias positivos e negativos, com caudas de perda mais pesadas. Dito de outra forma, os tombos são mais profundos que os saltos, o que pode criar, no curto prazo, a ilusão de perda.
Quando olhamos para as janelas semanais e mensais, o comportamento do Ibovespa revela uma dinâmica diferente daquela dos pregões diários. A simetria de retornos presente no sobe e desce cotidiano dá lugar a um padrão mais assimétrico (e positivo), em que os ganhos se mostram mais frequentes e intensos que as perdas.
Nos 522 períodos semanais, foram 145 semanas com alta superior a +2% e só 92 com perdas equivalentes; 18 semanas apresentaram ganhos entre +5% e +10%, ante 12 semanas com quedas nessa faixa; quedas superiores a -10% ocorreram só duas vezes em 10 anos, provando que, apesar da percepção de risco, eventos extremos ainda são raros.
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Já no recorte mensal, esse efeito se intensifica: retornos acima de 2% foram registrados em 40 meses, ante 33 meses com perdas de igual grandeza. O índice também subiu mais de +5% em 15 meses, e caiu -5% ou mais em somente 11 meses.
Esses dados reforçam um princípio clássico das finanças comportamentais: o tempo é um amortecedor de emoções. A volatilidade diária, que assusta no curto prazo, tende a se diluir em janelas mais longas, dando lugar a uma trajetória ascendente com mais frequência.
Para o investidor impaciente, o ruído semanal pode induzir decisões precipitadas. Já o investidor disciplinado, que compreende seus próprios vieses, tende a ser premiado com retornos mais consistentes ao longo do tempo.
Retornos passados não garantem retornos futuros, mas oferecem pistas valiosas sobre o comportamento dos ativos. Os números provam que o CDI oferece pouca emoção, mas também pouco retorno. O Ibovespa oferece potencial de ganho maior, mas exige cabeça fria.
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Ao fim e ao cabo, a “corrida” entre Ibovespa e CDI nos últimos 10 anos mostra que acertar o suposto timing do mercado é bem menos importante do que estar posicionado com disciplina.
Na hora de escolher entre renda fixa e renda variável, lembre-se de que essa decisão não é puramente matemática; é também emocional, comportamental e estratégica. Logo, compreender seus próprios vieses pode ser tão importante quanto escolher os ativos certos.
Em vez de escolher ser um investidor “ousado” ou “conservador”, priorize ser alguém que conhece a si mesmo e sabe aonde quer chegar.
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