

Na última terça-feira (19), o Ibovespa foi sacudido por uma conjunção de fatores políticos e jurídicos que expuseram, mais uma vez, a fragilidade do ambiente institucional do país.
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Na última terça-feira (19), o Ibovespa foi sacudido por uma conjunção de fatores políticos e jurídicos que expuseram, mais uma vez, a fragilidade do ambiente institucional do país.
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O estopim veio de uma decisão do ministro Flávio Dino (STF), que estabeleceu que leis, decisões judiciais ou ordens administrativas estrangeiras somente podem ser aplicadas no Brasil mediante validação expressa da Justiça brasileira, em especial do próprio Supremo Tribunal Federal.
Embora tomada no contexto de um processo relacionado à barragem de Mariana, a decisão abriu um precedente de alcance muito mais amplo, com efeitos diretos sobre a aplicação da Lei Magnitsky no Brasil, legislação norte-americana que impõe sanções ao ministro Alexandre de Moraes.
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O resultado imediato foi a criação de um impasse para os bancos brasileiros: cumprir as sanções dos EUA implicaria descumprir uma decisão do STF; ignorá-las, por outro lado, poderia acarretar penalidades severas no sistema financeiro internacional.
Esse dilema jurídico elevou a percepção de risco, levando a uma desvalorização expressiva das ações das maiores instituições financeiras. Somados, Itaú (ITUB4), BTG Pactual (BPAC11), Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11) perderam R$ 41,98 bilhões em valor de mercado em apenas um pregão.
Dentro desse ambiente de volatilidade, um outro elemento pode ter passado despercebido por alguns, mas destaco que foi motivo de grande impacto nesta mesma terça-feira (19).
Na sequência da decisão de Dino, no final da manhã, circulou entre os agentes do mercado financeiro um forte boato de que a pesquisa Genial/Quaest traria números que sinalizavam uma recuperação de 10 pontos percentuais na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O rumor azedou de vez o humor dos investidores levando o Ibovespa a fechar com queda de 2,1% e dólar em alta de 1,19%. Por sua vez, os juros futuros avançaram de forma acentuada. O depósito interbancário (DI) Janeiro/2027 fechou em 14,12%, ante 13,95% no ajuste anterior, alta de cerca de 17 pontos-base.
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No dia seguinte (20), com a divulgação oficial da pesquisa, o impacto foi parcialmente revertido. O levantamento apontou uma recuperação menor, de 5 pontos percentuais na aprovação presidencial, além de reforçar que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desponta hoje como o principal nome da centro-direita para 2026. A correção levou a uma leve recuperação do câmbio, da bolsa e da curva de juros futuros.
Este episódio ilustra um ponto central: o mercado financeiro já está precificando a eleição presidencial de 2026. Mais do que isso: a perspectiva de um quarto mandato de Lula é vista por alguns setores como um cenário adverso.
Tal sentimento deve-se tanto ao ceticismo à sustentabilidade das contas públicas quanto à percepção de que os esforços fiscais do governo são insuficientes diante de uma dívida altamente sensível à taxa Selic e fortemente dependente de emissões em Letra Financeira do Tesouro (LFT, título pós-fixado com rentabilidade atrelada à taxa de juros).
Ao mesmo tempo, parte significativa dos investidores alimenta a expectativa de um cenário semelhante ao de 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff, quando a ascensão do vice-presidente Michel Temer (MDB) e sua agenda liberal (Ponte para o Futuro) deram uma guinada para os ativos domésticos, num primeiro momento.
Assim, até outubro de 2026, qualquer boato ou fato concreto que altere a percepção sobre a força eleitoral de Lula ou de seu principal adversário será imediatamente refletido nos preços dos ativos.
Nesse contexto, um ponto de atenção imediato é o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), previsto para começar no próximo dia 2 de setembro, no processo relativo aos atos de 8 de janeiro.
Caso se confirme sua condenação, a tendência é de isolamento político ainda maior do ex-presidente. Esse cenário deve intensificar a pressão do Centrão para que Bolsonaro dê aval a uma candidatura de centro-direita, movimento que pode consolidar Tarcísio de Freitas como o principal polo de oposição a Lula.
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Em outras palavras, o julgamento de Bolsonaro pode ser o próximo catalisador da volatilidade nos mercados e no Ibovespa, ao reforçar a dimensão político-eleitoral como variável determinante para o comportamento da bolsa, do câmbio e da curva de juros no Brasil. Vamos acompanhando.
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