Multiplicando Sonhos

Evandro Mello é CEO e fundador da Multiplicando Sonhos, associação sem fins lucrativos que tem como missão transformar a vida de jovens de escolas públicas através da educação financeira. Nascido na zona leste de São Paulo, é graduando em administração com ênfase em Comércio Exterior e estuda Psicologia Econômica e Tomada de Decisão.

Escreve aos sábados, a cada 15 dias

Evandro Mello

5 dicas financeiras para conversar com uma pessoa endividada

Todo mundo tem uma pessoa próxima que está endividada, mas há como ajudar

Foto: Envato Elements
  • Muitos relatam dificuldade até mesmo para iniciar uma conversa, afinal, para muitas famílias, o dinheiro ainda é um tabu.
  • Principalmente se o caso de endividamento for grave, pode ser interessante direcionar a pessoa a alguém que realmente entende do assunto. Um planejador financeiro.

Se você tem uma vida financeira minimamente organizada e paga as contas em dia, certamente deve ficar agoniado só de ouvir aquele amigo ou familiar contar sobre a série de dívidas que tem e a falta de perspectiva sobre a resolução do problema. Estou certo?

Pior ainda é quando o endividado é o seu parceiro amoroso. Afinal, estar com uma pessoa que não tem controle financeiro pode, sim, impactar na relação: vocês não conseguem seguir planos juntos, fazer viagens e passeios e por aí vai.

Uma coisa que escuto muito dos meus alunos da Multiplicando Sonhos é que eles gostariam de ajudar seus pais a resolverem suas dívidas, mas não sabem como fazer isso. Muitos relatam dificuldade até mesmo para iniciar uma conversa, afinal, para muitas famílias, o dinheiro ainda é um tabu.

Confira 5 dicas sobre como ajudar aqueles que você ama a limparem o nome e viverem uma relação mais saudável com o dinheiro:

1. Evite julgamentos e tente se colocar no lugar da pessoa

É inevitável: tendemos a julgar as pessoas endividadas e não entender como elas deixaram a situação chegar ao ponto em que está, principalmente quando são muitas dívidas acumuladas.

A verdade é que a forma como lidamos com o nosso dinheiro está intimamente ligada à nossa criação, nossas experiências pessoais e nossas emoções. Por isso, o que é fácil para um, pode não ser fácil para o outro.

Nesse sentido, é importante avaliar o comportamento da pessoa e tentar entender o que pode estar atrapalhando. “Pesquisas acadêmicas mostram que é comum a relação entre depressão e situações graves de endividamento”, afirma Julio Cesar Leandro, professor do Mackenzie, pesquisador da FGV e professor voluntário da Multiplicando Sonhos.

“Se a pessoa estiver muito vulnerável emocionalmente, não vai conseguir negociar, então, talvez precise de um apoio psicológico antes”, completa Julio. Afinal, para que ela quite as dívidas e mantenha uma vida financeira saudável no longo prazo, é preciso uma mudança de dentro para fora.

2. Ofereça ajuda concreta

Você até consegue conversar e convencer a pessoa a rever as dívidas, mas isso nunca evolui para uma ação efetiva. Você espera que ela tome uma atitude sozinha e isso não acontece. Ou até toma as rédeas da situação, mas depois o outro não colabora. Acertei?

É comum que os seres humanos evitem atividades desconfortáveis, procrastinando-as ao máximo. Além disso, padrões comportamentais não são fáceis de serem mudados de um dia para o outro.

Com o planejamento financeiro e a quitação de dívidas, não é diferente. Por isso, é importante oferecer ajuda objetiva. Marque data e hora para sentar com a pessoa e listar todas as dívidas que ela tem, avaliar quais são as possibilidades de renegociação e quais são as prioridades. Assim, fica mais difícil que ela fuja da responsabilidade.

3. Mostre o que ela está perdendo por conta das dívidas

É comum que pessoas entrem no modo automático, achando que viver com dívidas é algo normal, principalmente quando crescem em famílias endividadas. Por isso, é preciso fazer a pessoa enxergar que de fato há um problema e quais são as consequências disso.

Com cuidado, procure conversar sobre como as dívidas estão atrapalhando a realização de sonhos. Evidencie o estresse que elas causam no dia a dia e como afastam de uma vida mais tranquila e confortável.

Estimule a pessoa a sonhar e lembrar quais são os seus desejos de longo prazo. Depois, aos poucos, mostre como as atitudes que ela toma hoje, se endividando, a afasta desses sonhos. E mais: como é possível mudar isso.

4. Trabalhe a autoestima da pessoa e crie metas realistas

A maioria das pessoas endividadas não se sentem capazes de sair das dívidas. Por isso, ter alguém que acredite nelas e as apoie pode fazer toda a diferença.

Você pode incentivar um trabalho extra sugerindo e reconhecendo uma atividade para a qual a pessoa tem talento. Ela cozinha bem? Aconselhe a vender bolos ou marmitas. É boa com redes sociais? Diga que pode oferecer ajuda a um pequeno comerciante.

Outro ponto importante, segundo Leandro, é ajudar a criar metas realistas na hora de renegociar as dívidas. Para isso, é preciso estudar a fundo a sua situação e ir para a conversa com o gerente do banco sabendo quais são as condições ideais de pagamento e o que é prioridade.

“As renegociações precisam ser sustentáveis para que a pessoa consiga cumpri-las até o fim”, diz. Caso contrário, o sentimento de frustração pode fazer com que a pessoa se sinta menos capaz de mudar de vida.

5. Se necessário, busque alguém que realmente entende do assunto para
ajudar

Principalmente se o caso de endividamento for grave, pode ser interessante direcionar a pessoa a alguém que realmente entende do assunto. Um planejador financeiro pode analisar toda a situação minuciosamente e apresentar quais são as melhores alternativas.

De toda forma, é importante que a pessoa participe de todo o processo e aprenda com ele. Assim, a situação tem menos chances de se repetir.

Bora colocar essas dicas em prática e ajudar quem precisa multiplicar sonhos?

Colaboração: Giovanna Castro e André Tavares