O que os criptoativos ensinam

Diretor no Mercado Bitcoin desde 2018, Tota tem 23 anos de experiência no mercado financeiro. Agora no universo dos criptoativos, ele une o seu forte background em tecnologia e profundo conhecimento de produtos financeiros para desmistificar o mercado de ativos digitais.

Escreve mensalmente, às sextas-feiras

Fabricio Tota

Como as memecoins testam os limites das blockchains com entretenimento financeiro

Embora tenham origens descompromissadas e nomes divertidos, elas se tornaram ativos amplamente negociados

Entenda o fenômeno das Meme Coins. Imagem: Adobe Stock
  • As memecoins são inspiradas a partir de memes que circulam na internet e impulsionadas por comunidades online, como o X (antigo Twitter) e o Discord;
  • 4 das 40 maiores moedas em capitalização de mercado são memecoins. Se fossem consolidadas em uma só e listadas na B3, seriam a quarta maior empresa da bolsa, à frente de gigantes como Ambev e Banco do Brasil;
  • Essa popularidade também pode ser explicada pelo conceito de "entretenimento financeiro", um termo que define a busca por diversão e comunidade no mundo dos investimentos.

As memecoins, para alegria de alguns e incômodo de outros, ganharam muito espaço no mercado cripto nos últimos meses. Projetos que podem ser criados com muita facilidade, essas criptomoedas são inspiradas a partir de memes que circulam na internet e impulsionadas por comunidades on-line, como o X (antigo Twitter) e o Discord.

Por aqui, o brasileiro demonstra um apreço por algumas dessas criptomoedas, com especial predileção pelas “moedinhas de cachorro”, como Dogecoin, Shiba Inu e dogwifhat (sim, com minúsculas e escrito errado).

Embora tenham essas origens descompromissadas e nomes divertidos, elas se tornaram ativos amplamente negociados. Um grande exemplo disso é o Dogecoin, queridinha de Elon Musk, que chegou a US$ 80 bilhões em capitalização de mercado em 2021. Hoje são “somente” US$ 22 bilhões.

Por falar em números, 4 das 40 maiores moedas em capitalização de mercado são memecoins. Além da já citada Doge, o Shiba Inu vale US$ 15 bilhões e dogwifhat, US$ 3 bilhões, fechando a tríade canina. Além delas, PEPE, um meme nascido nas catacumbas da internet em 2008, vale também US$ 3 bilhões. Se fossem consolidadas em uma só e listadas na B3, seriam a quarta maior empresa da Bolsa, à frente de gigantes como Ambev e Banco do Brasil.

Essa popularidade também pode ser explicada pelo conceito de “entretenimento financeiro”, um termo que define a busca por diversão e comunidade no mundo dos investimentos, sem necessariamente embasar as decisões em análises fundamentadas. Com essa certa “irracionalidade” nos investimentos, porém, os ativos tornam-se muito propícios à volatilidade.

Na verdade, existe sim alguma racionalidade. O poder de atração da atenção das pessoas, algo tão discutido e estudado nos dias atuais, é a questão central sobre as memecoins. A capacidade de atrair e reter a atenção, associada à capacidade de criação de comunidades em torno dos ativos, é o que dá com que as memecoins tenham algum valor. Evidentemente, a maioria esmagadora fracassa, mas aquela mínima chance de estar entrando na próxima narrativa engraçadinha de bilhões de dólares é atraente o suficiente para mobilizar muita gente.

Apesar disso, essas altcoins estão servindo como um importante teste para os blockchains. Vimos que a rede Solana, por exemplo, conhecida por suas taxas baixas – quando comparada com Ethereum, por exemplo -, começou a comportar um alto volume de lançamentos de memecoins. Existem sites nos quais você preenche um formulário e sai com a sua pronta, em poucos minutos.

Diante disso, por conta da facilidade de criação e do grande volume de transações geradas, essas moedas estão colocando à prova a escalabilidade, a velocidade, a eficiência e a segurança das blockchains e demonstrando que podem ter um papel sério na economia digital – ainda que involuntário.

As memecoins são mais do que ativos digitais divertidos. Elas representam uma interseção interessante de se observar entre entretenimento e tecnologia financeira, desafiando as noções convencionais de investimento.