

Se você investiu nos últimos 12 meses, provavelmente sentiu um desconforto olhando sua carteira, certo? Com a taxa Selic em 14,25% e podendo chegar até 15% no fim do ciclo de alta dos juros, muitos ativos sofreram. Fundos imobiliários (FIIs), por exemplo, perderam atratividade diante da concorrência direta com a renda fixa, e a bolsa de valores enfrentou forte volatilidade, com o Ibovespa acumulando queda de 4,82% nos últimos 12 meses. No mesmo período, o IFIX, o índice que representa os fundos imobiliários, recuou 7,10%, e até mesmo a tradicional poupança entregou apenas 7,19%.
Mas engana-se quem pensa que o cenário como um todo foi ruim para todos os tipos de investimentos. O ambiente de juros altos também abriu espaço para oportunidades antes pouco exploradas pelo investidor. Mesmo nesse cenário complicado, houve um investimento que nadou contra a maré e entregou uma rentabilidade de 14,46%: os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), que se destacaram como um dos investimento mais rentáveis dos últimos 12 meses, superando inclusive o CDI, que ficou em 11,13%.
Para vocês terem uma noção, somente em fevereiro, enquanto o Ibovespa desvalorizava 2,64% e o CDI rendia 0,99%, os FIDCs entregaram uma rentabilidade de 1,20% — o equivalente a 121,4% do CDI. Isso demonstra a força desse tipo de fundo em cenários de maior cautela e busca por alternativas sólidas de retorno.
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Mas você deve estar se perguntando, o que são os FIDCs afinal? Eles podem até parecer um bicho de sete cabeças à primeira vista, mas, na prática, eles fazem algo bem simples: antecipam os recebíveis de empresas como duplicatas, cheques, carnês, boletos e contratos. O fundo antecipa valores que empresas têm a receber de seus clientes, e os investidores passam a ganhar com os juros embutidos nessas operações. Essa dinâmica cria um elo direto entre capital e economia real, ao mesmo tempo em que oferece uma rentabilidade superior à da renda fixa tradicional.
Por que a inadimplência não afetou a rentabilidade final
Porém é claro que todo investimento tem risco. A inadimplência nos FIDCs, por exemplo, ficou em torno de 10,25% no último ano. Mas aqui está o ponto interessante: essa inadimplência não afetou a rentabilidade final. E sabe por quê? Porque os FIDCs são montados com várias camadas e mecanismos de proteção. A estrutura de subordinação de cotas garante que as primeiras perdas sejam absorvidas por cotistas mais expostos, enquanto os cotistas seniores, geralmente os que buscam mais segurança, recebem seus rendimentos com maior previsibilidade.
Além disso, há uma forte diversificação dos créditos, tanto em termos de setores quanto de regiões, o que reduz o risco de concentração. Outro ponto relevante é a presença de múltiplos agentes especializados na estruturação e operação dos fundos: gestores, administradores, consultores de crédito, auditores e custodiantes, todos atuando de forma integrada para garantir governança, controle e mitigação de riscos.
E quem investe nesses fundos? Eu, você, e qualquer pessoa que queira rentabilizar melhor seu dinheiro. Durante muito tempo, FIDCs eram restritos a grandes investidores. Mas isso vem mudando e o mercado vem evoluindo e novas estruturas têm sido desenvolvidas, permitindo que um número cada vez maior de investidores tenha acesso a esses fundos, seja por meio de plataformas de investimento ou por fundos multimercado que aplicam em cotas.
Em um cenário de juros altos, em que empresas estão buscando crédito fora dos bancos, a demanda cresce e os FIDCs se tornam uma fonte ágil e eficiente de financiamento. Esse contexto favorece o crescimento do setor, assim como aconteceu com os fundos imobiliários em seus primeiros anos de expansão. A tendência é de que, nos próximos anos, os FIDCs ganhem ainda mais espaço nas carteiras dos investidores brasileiros. E quem souber aproveitar o momento e se posicionar de forma estratégica pode se beneficiar dessa nova onda de investimentos que une alta rentabilidade, segurança e impacto direto na economia real.
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