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Colunista

OPINIÃO. A verdade secreta da estratégia de Trump

A chamada “teoria secreta de Trump” é simples: usar o protecionismo como ferramenta geopolítica para redesenhar o comércio global

Trump instaurou uma guerra comercial global com a imposição de tarifas. (Foto: Adobe Stock)
Trump instaurou uma guerra comercial global com a imposição de tarifas. (Foto: Adobe Stock)

Com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, também retorna uma agenda econômica agressiva, nacionalista e imprevisível. À primeira vista, suas ações podem parecer caóticas, sem pé nem cabeça. Mas será mesmo? A verdade é que existe uma estratégia por trás. A chamada “teoria secreta de Trump”, não oficialmente reconhecida, mas cada vez mais evidente, é simples: usar o protecionismo como ferramenta geopolítica para redesenhar o comércio global. Porém, o impacto dessa abordagem sobre o Brasil pode ser profundo, quer a gente siga o mesmo caminho ou não, com risco de enxurrada de produtos importados, pressão sobre a indústria nacional, aumento do desemprego e fuga de investimentos.

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O que muitos ainda não perceberam é que, por trás das medidas que as pessoas consideram impulsivas, existe uma lógica cuidadosamente pensada. Trump não usa tarifas apenas como instrumento de proteção comercial, mas como uma forma deliberada de negociação coercitiva. Ao impor barreiras extremas, ele força adversários, como a China, a sentarem à mesa sob pressão. É a política externa transformada em chantagem econômica. Trump entende que os Estados Unidos ainda detêm a maior moeda de troca do planeta, o dólar e o mercado consumidor mais desejado do mundo. Sua estratégia é transformar essa vantagem em arma de barganha. A lógica dele é: “se você quer acesso ao meu mercado, terá que aceitar meus termos, sejam eles comerciais, diplomáticos ou geopolíticos”.

Mais do que isso. A “teoria secreta” de Trump busca trazer de volta empregos, fábricas e a classe média americana que se sente abandonada. Mesmo que isso custe mais caro para o consumidor final. Para ele, pouco importa. O foco está no longo prazo: reindustrialização, força interna, controle absoluto das regras do jogo. O preço? Inflação, conflitos comerciais e, claro, muito ruído geopolítico. Mas, na cabeça dele, vale a pena. E convenhamos, para uma parte do eleitorado americano, também.

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Agora, vamos ao ponto que mais preocupa: o efeito dominó. Quando Trump bagunça os fluxos do comércio global, todo mundo é afetado. Inclusive o Brasil. Já estamos sentindo os efeitos. Recebemos excedente de produtos chineses taxados nos EUA, gerando concorrência desleal que afeta setores como o têxtil e o automotivo, derruba empresas nacionais e amplia o desemprego. Além disso, replicar a taxação extrema seria um erro. Em abril de 2025, Trump elevou tarifas a níveis históricos, chegando a 245% sobre itens chineses. O Brasil, sem o mesmo peso político ou econômico, não tem fôlego para sustentar uma guerra comercial. Reagir com tarifas pode parecer patriótico no discurso, mas na prática significa isolamento, fuga de investidores, perda de acordos e colapso em setores inteiros. Não temos musculatura para isso.

E olha a ironia. Trump está em baixa nos Estados Unidos. Completou 100 dias no novo mandato com só 41% de aprovação, o pior índice desde Dwight Eisenhower, que governou entre 1953 e 1961. Nem no primeiro mandato ele estava tão fraco. Mas mesmo assim, o discurso dele continua fazendo barulho. Muitos eleitores ainda acreditam que fechar a economia e impor força bruta é o caminho para “resgatar a grandeza americana”. E esse tipo de retórica populista está contagiando outros países, inclusive na América Latina.

A verdade é que, enquanto Trump usa o caos de forma estratégica, o Brasil corre o risco de virar só um espectador das consequências. Nossa economia precisa de previsibilidade, confiança internacional e acordos comerciais sólidos. Se a gente entrar nessa de improviso, perde a produtividade, o investimento e a credibilidade. Minha opinião? Em vez de importar o protecionismo, vamos importar inovação. Em vez de pensar em barreiras, vamos pensar em produtividade, eficiência e competitividade real. O mundo está se reorganizando, sim. Mas quem joga no improviso é o primeiro a ser eliminado do tabuleiro.

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