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Colunista

OPINIÃO: Virgínia e Bets escancaram o patamar da educação financeira do brasileiro

O conteúdo que você consome diariamente molda seu comportamento, suas decisões e até seu futuro financeiro

Apostas nas bets (Foto: Joédson Alves / Agência Brasil)
Apostas nas bets (Foto: Joédson Alves / Agência Brasil)

A internet nivelou o acesso à informação. Hoje, qualquer pessoa com um celular na mão pode aprender sobre investimentos, economia, empreendedorismo, política e finanças pessoais. Ao mesmo tempo, esse mesmo celular pode ser uma porta de entrada para armadilhas financeiras, como as apostas online. O que determina o caminho que cada um segue? O conteúdo que escolhemos consumir. Se você passa o dia assistindo a vídeos sobre educação financeira, dificilmente será seduzido por promessas de dinheiro fácil em apostas. Por outro lado, se o seu tempo é consumido por conteúdos que glamourizam ganhos rápidos e fáceis, o risco de cair nessas armadilhas aumenta.

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O algoritmo das redes sociais entrega mais do que você consome, mas também te empurra para um ciclo vicioso de anúncios e influenciadores ligados às bets. Quanto mais você clica, mais esse universo te envolve. E, quando percebe, o que era curiosidade vira compulsão. Eu diria com certeza que as redes sociais possuem mais coisas inúteis do que úteis. Não estou falando da internet como um todo. Estou falando especificamente das redes.

A recente CPI das Bets trouxe à tona a influência de figuras públicas na promoção dessas plataformas. A influenciadora Virginia Fonseca, que soma mais de 53 milhões de seguidores no Instagram, foi convocada para prestar esclarecimentos sobre seus contratos com empresas de apostas online. Durante seu depoimento, negou ter lucrado com as perdas dos apostadores, mas admitiu ter contratos milionários com essas empresas.

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Enquanto isso, os números mostram uma realidade alarmante. Segundo o Banco Central, apenas em agosto de 2024, cinco milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas online. Isso representa cerca de 20% do orçamento mensal do programa. Além disso, um estudo do banco Itaú projeta que os brasileiros perdem cerca de R$ 24 bilhões por ano em apostas online.

Casos extremos também têm sido registrados. Em setembro de 2023, o corpo de um mecânico foi encontrado em decomposição após desaparecer devido a uma dívida de R$ 200 mil com agiotas, contraída por causa de apostas no “Jogo do Tigrinho”. Esses dados refletem algo muito maior do que a ausência de uma política pública de educação financeira. Eles escancaram uma realidade desconfortável. Não é só a escola que precisa ensinar, mas o indivíduo que também precisa escolher aprender. A verdade é que nunca tivemos tanto acesso ao conhecimento como temos hoje. E nunca usamos tão mal esse acesso.

Sim, a escola tradicional ensina o básico, matemática, português, ciências. Mas no celular, na palma da mão, está o mundo. Existe a possibilidade de aprender sobre orçamento doméstico, investimentos, dívidas, empreendedorismo, juros compostos. Só que, em vez disso, boa parte da população passa horas consumindo dancinhas, promessas de dinheiro fácil, apostas e lives com códigos promocionais.

O algoritmo é um reflexo de quem somos e do que buscamos. Se o seu feed está cheio de apostas, de sorteios, de atalhos para enriquecer da noite pro dia, isso diz mais sobre o seu consumo do que sobre a internet em si. Se você só se alimenta de conteúdo raso, suas decisões serão rasas. E suas consequências, profundas. Não se trata de culpar o governo, a escola, os pais ou a tecnologia. Trata-se de assumir o comando. De fazer escolhas conscientes sobre o que seguir, o que assistir, o que estudar. Quem você acompanha nas redes, importa. O conteúdo que você consome diariamente molda seu comportamento, suas decisões e até seu futuro financeiro.

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A combinação de influenciadores promovendo plataformas de apostas e a ausência de filtros na hora de consumir conteúdo escancara a fragilidade da nossa cultura financeira. O Brasil não precisa apenas de mais informação. Precisa de curadoria, consciência e criticidade. No fim das contas, a verdadeira aposta não está nos sites de bet, mas em onde você escolhe investir o seu tempo, sua atenção e sua energia. E se você continuar entregando tudo isso para o conteúdo errado, não precisa de bola de cristal para prever o resultado: prejuízo certo. Basta parar na frente de um espelho que você encontrará o verdadeiro culpado pelas escolhas erradas que faz.

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