Investimento com propósito

Fernanda Camargo é sócia-fundadora da Wright Capital Wealth Management e tem mais de 25 anos de experiência no mercado financeiro, 15 dos quais em Gestão de Patrimônio, com passagens por Vinci Partners, Gávea Arsenal Gestão de Patrimônio, Standard Bank, Deutsche Bank e Merrill Lynch. Ela é uma das fundadoras do Instituto LiveWright, OSCIP dedicada a gestão do esporte olímpico no Brasil e faz parte do Conselho da ONG Atletas pelo Brasil.

Escreve mensalmente, às sextas-feiras

Fernanda Camargo

ESG, TCFD, SASB, GRI: a sopa de letrinhas para reverter as mudanças climáticas

Investimentos sustentáveis estão chegando também nos índices e fundos passivos

(Foto: Evanto Elements)
  • No início da pandemia começamos a observar inúmeras mudanças no que tange a investimentos sustentáveis.
  • Hoje, 8 meses depois, estamos vivendo um tsunami. Segundo a Morningstar, no final de setembro, USD 1.2 trilhões de ativos geridos por fundos mútuos já levam em consideração desde fatores de mudança climática a direitos humanos nos seus investimentos.

Dirigindo pela Marginal Pinheiros, em São Paulo, meu filho de 4 anos me perguntou: Mãe, quem foi o louco que jogou lixo no rio?

O que responder? Passo o tempo todo falando sobre a importância de cuidar da natureza, de como os rios são importantes, as árvores, os animais… Vivo dizendo que temos que cuidar do nosso planeta, pois é aqui que moramos.

Como foi que chegamos aqui? Como convivemos com isso como se fosse normal? Estamos afundando no lixo e na poluição que nossa ânsia consumista gerou. É possível reverter esse movimento? Acredito que sim. Pode levar anos, mas a mudança começou. O ser humano costuma aprender mais pela dor do que pelo amor – pelo visto, não mudar vai doer no bolso.

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No início da pandemia começamos a observar inúmeras mudanças no que tange a investimentos sustentáveis. Hoje, 8 meses depois, estamos vivendo um tsunami. Segundo a Morningstar, no final de setembro, USD 1.2 trilhões de ativos geridos por fundos mútuos já levam em consideração desde fatores de mudança climática a direitos humanos nos seus investimentos.

Investimentos sustentáveis estão chegando nos índices/fundos passivos (ETFs – Exchange Traded Funds). Para se ter uma ideia, fundos passivos representam 40% (US$20 trilhões) da indústria de gestão de ativos nos Estados Unidos. Segundo Larry Fink, CEO da BlackRock, a customização desses índices vai revolucionar a indústria trazendo uma “lente verde” para esses investimentos. O preço de ativos verdes vai sofrer o reflexo desse movimento. Segundo Larry Fink, sustentabilidade vai ser a lente pela qual avaliamos tudo nos próximos 10 anos.

Muitas empresas que tem como acionistas grandes gestoras globais começam a ser questionadas sobre SASB e TCFD. O que isso quer dizer?

Até outro dia, muitas empresas usavam o relatório de sustentabilidade para contar histórias bonitas mas seguiam fazendo mais do mesmo do outro lado. Finalmente, está claro, que mudanças climáticas representam riscos financeiros e o mercado vai exigir transparência desses riscos e seus impactos. Ou seja, cada vez mais, a sustentabilidade vai afetar o balanço da empresa.

No seu famoso discurso em 2015 “Breaking the tragedy of the horizon – climate change and financial stability”, Mark Carney, então presidente do Banco Central da Inglaterra, apontou três riscos para a estabilidade financeira global vindo de mudanças climáticas: risco físico, risco de balanço e risco de transição. Ele explica que só podemos administrar e controlar aquilo que medimos. Informação de qualidade pode ajudar a criar um ciclo virtuoso, com mais entendimento, precificação correta de riscos futuros para ajudar na tomada de decisão por parte de legisladores e uma transição mais suave para uma economia de baixo carbono.

Em 2015, durante a negociações climáticas em Paris, com apoio de Mark Carney, foi criada a TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) – Força Tarefa Sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima. O objetivo da TCFD é avaliar e relatar riscos relacionados ao clima e questões de governança essenciais para gerenciá-los.

A TCFD desenvolveu uma metodologia para ajudar empresas listadas na divulgação de riscos e oportunidades relacionadas a mudanças climáticas: Governança – a empresa deve apresentar um mapa de riscos, agenda de atuação e seus responsáveis. Estratégia – deve haver uma estratégia com planejamento financeiro para lidar com eventuais impactos ou oportunidades para temas relacionados a mudanças climáticas. Gestão de Riscos – como a organização identifica, acessa e administra tais riscos. Métricas e objetivos – a empresa deve divulgar as metas e objetivos usados para acessar e administrar tais riscos e oportunidades sempre que estas informações forem materiais (afetam o resultado da empresa).

A Inglaterra anunciou que até 2025 a divulgação de riscos climáticos para empresas listadas, instituições financeiras, fundos de pensão e seguradoras será obrigatória. Outros países devem seguir este exemplo. Aqui no Brasil ainda não será obrigatório, mas o Banco Central já informou que vai implementar recomendações da TCFD com orientações para empresas e instituições financeiras na divulgação de informações relativas aos impactos financeiros das mudanças climáticas em seus negócios. Além disso, a agenda BC# prevê um aprimoramento da abordagem no gerenciamento de riscos e a elaboração de um relatório anual de riscos socioambientais do BC.

Além disso, muitos investidores já usam o SASB – Sustainability Accounting Standards Board e o GRI (Global Reporting Initiative) organizações que fornecem padrões para relatar informações de sustentabilidade que tenham maior potencial de afetar a performance financeira de uma companhia.

Nossa sociedade enfrenta uma série de riscos ambientais e sociais. Mudanças climáticas já ameaçam nossa prosperidade. Ainda dá tempo de agir.

Quem sabe daqui a muitos anos eu possa dizer para meu filho que as pessoas não sabiam o que estavam fazendo, mas acordaram.