O melhor presente de Natal para um investidor é previsibilidade. Justamente o ativo mais escasso da bolsa em tempos de volatilidade elevada. Quando uma empresa entrega consistência demais, a desconfiança aparece. Até quando isso se sustenta?
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O melhor presente de Natal para um investidor é previsibilidade. Justamente o ativo mais escasso da bolsa em tempos de volatilidade elevada. Quando uma empresa entrega consistência demais, a desconfiança aparece. Até quando isso se sustenta?
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Durante muito tempo, eu mesma achei que ninguém poderia ser bom por tanto tempo. Até entender que desempenho consistente não é acaso nem genialidade isolada. É fruto de disciplina. E isso não é papo de coach. Funciona na vida e no mercado de capitais.
Na coluna de hoje, trago a conversa com uma das empresas mais disciplinadas do capital aberto brasileiro, conhecida entre analistas como um “relógio suíço”. Entrevistei Renato Lulia, diretor de Estratégia Corporativa e Relações com Investidores do Itaú (ITUB4), para entender o que sustenta esse padrão e trago todos os detalhes do que realmente importa para a jacarezada dividendeira.
Vamos ao que importa. O Itaú antecipou proventos em 2025 para escapar da nova tributação. Foram R$ 1,87 por ação em dividendos, pagos em 19 de dezembro, e R$ 0,37 em juros sobre capital próprio (JCP), com pagamento até 30 de abril de 2026. No total, R$ 23,4 bilhões antecipados.
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Isso não foi um almoço grátis. Como explicou Lulia, trata-se dos proventos adicionais que o banco tradicionalmente distribui em janeiro e fevereiro. Como vieram para dezembro, não haverá um anúncio robusto de adicionais no início de 2026.
Ainda assim, o investidor não ficará sem remuneração. A estratégia é manter o pagamento mensal de JCP, intercalado com distribuições trimestrais maiores, com pagamentos feitos ao menos duas vezes ao ano. Os dividendos adicionais, antes classificados como extraordinários, ficam agora para o começo de 2027.
O banco também deve manter a recompra de ações no radar e já usou a bonificação para complementar a antecipação. Após um aumento de capital de R$ 12,846 bilhões, distribuiu três novas ações a cada 100 papéis. Segundo o Itaú, a bonificação é recorrente porque não altera o patrimônio líquido nem a fatia do acionista, reforça o capital e não envolve saída de caixa ou mudança na política de proventos.
Sobre a possível alta do imposto do JCP, de 15% para 17,5%, o Itaú afirma que a estratégia não muda, embora reconheça o impacto no bolso do investidor. A prática do banco é distribuir o máximo possível via JCP dentro das regras, deixando o excedente para dividendos ou outras formas de remuneração.
Ainda assim, o banco não descarta ajustar o mix de proventos conforme a legislação, preservando o compromisso com retorno eficiente de capital. Lulia explicou que o volume de JCP pode ser maximizado dependendo de três fatores: o tamanho do patrimônio líquido do banco, a taxa de juros de longo prazo e a geração de lucro líquido.

Todo ano, a jacarezada faz a mesma pergunta: o Itaú vai pagar dividendos adicionais robustos? O payout (porcentagem de lucro líquido distribuído aos acionistas) pode passar de 60%? A resposta do banco é sempre a mesma: depende dos planos de crescimento e do índice de capital. E o já conhecido “não trabalhamos com projeções de payout”.
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Ouço isso há pelo menos dois anos. Ainda assim, o Itaú segue entregando dividendos consistentes e, até aqui, não desapontou.
O ponto central está no índice de capital, o CET1. Lulia detalhou que o Conselho de Administração trabalha com um patamar de 11,5%, acima da exigência do Banco Central (BC). A gestão do banco, porém, prefere uma margem maior e fixa a meta em 12%, para absorver volatilidade cambial, oscilações operacionais ou oportunidades de crescimento, orgânico ou via aquisições, sem risco regulatório.
Pela política de proventos, tudo o que excede esse nível de capital de 12% vira dividendos adicionais. Eis o indicador que a jacarezada precisa monitorar anualmente para antecipar se haverá distribuição robusta. O índice já considera as oportunidades de crescimento no radar.
Mesmo com fama de vaca leiteira, o foco do Itaú segue sendo crescimento. Com Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) acima de 20%, o banco vê valor em reinvestir capital em bons negócios. “Queremos crescer com sustentabilidade, nos segmentos e com os clientes certos, olhando para os próximos 100 anos”, afirmou Lulia. A frase reforça o olhar de longo prazo e a disciplina que sustenta a estratégia.
A boa notícia é que o Itaú consegue crescer, gerar capital excedente e pagar bons proventos ao mesmo tempo, com perspectiva de manter esse equilíbrio. Fica a provocação: a fase em que era visto apenas como ação de valorização ficou para trás?
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Segundo Lulia, o banco está pronto para acelerar crescimento em 2026, a depender do cenário macroeconômico. Produto Interno Bruto (PIB) mais fraco, inflação na meta, juros em queda e política fiscal mais diligente tendem a destravar a demanda por crédito de pessoas físicas e empresas, favorecendo a lucratividade, na visão dele.
Com foco em crescimento, os dividendos correm risco? Segundo Lulia, não. O banco busca equilibrar crescimento e rentabilidade, o chamado total return (Retorno Total). “Nosso retorno total está em patamar excepcional porque crescemos e, ao mesmo tempo, pagamos bons dividendos, com payout robusto. O objetivo é maximizar”, afirma.
Questionado sobre o favoritismo do Itaú em dividendos para 2026 e ter destronado o Banco do Brasil, Lulia diz que dividendo não é meta, é consequência. O foco é manter o banco sólido, bem capitalizado e preparado para diferentes cenários da economia, com boa gestão de capital.
Mas reconhece a importância do dividendo para os investidores do Itaú e para manter o apelido de relógio suíço, contudo reforça que a prioridade é a consistência. “É difícil prever 2026 e 2027, mas nosso compromisso é com consistência, transparência e confiança dos investidores”, diz.
Até quando o Itaú sustenta um ROE elevado? A marca de 20% já é excelente, e o banco entregou 23,3% no terceiro trimestre de 2025.
Para Lulia, esse patamar é sustentável em 2026 e no médio prazo. Ele ressalta que a gestão olha menos para o ROE isolado e mais para a criação de valor, que precisa superar o custo de equity (patrimônio líquido de uma companhia ou uma participação societária nela), hoje em torno de 15%. Acima disso, o retorno já é considerado bom, com expectativa de seguir acima de 20% nos próximos anos.
“O foco do Itaú é estar preparado para qualquer cenário econômico em 2026 e nos anos seguintes”, defende Lulia. No cenário base, o banco trabalha com PIB crescendo entre 1,6% e 1,7%, juros em queda para 12,75% e inflação na meta, um ambiente que tende a destravar a demanda por crédito. “Não é um cenário catastrófico”, avalia.
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Se a volatilidade aumentar em ano eleitoral, o Itaú diz ter provisões adequadas, inadimplência sob controle e carteira concentrada em segmentos resilientes, o que permite preservar a rentabilidade.
A estratégia prioriza clientes resilientes. Para empresas, programas como Pronampe e FGI seguem relevantes. Na pessoa física, o foco está no consignado e, na média e alta renda, em cartões de crédito.
Em eficiência, o índice está em 39%, com meta de avançar. O que significa que a cada R$ 1 real ganho, o Itaú tem custos de R$ 0,39 para fazer a jornada acontecer. Segundo Lulia, ganhos nesse indicador de eficiência ampliam até o espaço para assumir mais risco em novos segmentos de crédito.
“Perfilar” o Itaú sempre foi simples nesta coluna. O banco é previsível e raramente desaponta. Minha meta para 2026, e talvez a sua, é sermos um pouco mais Itaú na vida real: disciplina e reputação em dia.
Sobre dividendos, jacarezada, podem respirar. Tudo indica um banco rentável, ainda em crescimento, sem abrir mão da vocação de vaca leiteira. Não por acaso, o Itaú (ITUB4) já aparece nas minhas apurações como favorito para renda passiva em 2026.
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