O mês de setembro foi turbulento para os mercados. Tanto o ambiente interno quanto o externo pesaram para a volatilidade dos preços dos ativos. Apesar da forte oscilação do Ibovespa durante o mês, o índice fechou com ligeira alta em setembro (+0,71%). Já o Dólar seguiu a tendência mundial de valorização em setembro, subindo 1,53%, negociado acima dos R$ 5.
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No Brasil, continuam as incertezas do lado fiscal. Há uma desconfiança por parte do mercado financeiro se a zeragem do déficit primário será atingida no ano que vem. Por ora, as contas públicas têm apresentado resultados ruins. De acordo com dados do Tesouro Nacional, o déficit primário acumulado de janeiro a agosto deste ano ficou em R$104,6 bilhões. Com isso, a dívida pública bruta passou de 74,1% em julho para 74,4% em setembro, conforme informou o Banco Central.
Se os resultados fiscais não estão indo bem, não se pode falar o mesmo dos dados de atividade econômica. A economia brasileira cresceu 0,9% no 2º trimestre, acima das expectativas de mercado, puxado principalmente pelo consumo das famílias. O aumento do consumo é influenciado em boa parte pela recuperação da renda no mercado de trabalho. Segundo a PNAD do IBGE, a taxa de desemprego ficou em 7,8% no trimestre móvel encerrado em agosto de 2023.
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Mesmo com o aquecimento do mercado de trabalho, a inflação segue sob controle. O IPCA-15 de setembro apresentou alta de 0,35%, abaixo do consenso de mercado (0,38%). Além do indicador ter vindo abaixo das expectativas, houve melhora nas medidas de núcleos em comparação a agosto. O índice de difusão caiu de 51% para 41,7%; o núcleo por expurgo oscilou de 0,30% para 0,25% e o EX03, que agrega serviços e produtos industriais (itens sensíveis a política monetária), passou de 0,34% para 0,15%.
Mesmo com a inflação relativamente sob controle, houve abertura da curva de juros no mês de setembro. O movimento é explicado pelo aumento do prêmio de risco diante das incertezas fiscais.
As taxas de juros futuras não subiram apenas no Brasil, mas também nos EUA. A sinalização de que o Fed poderia dar ainda mais uma alta de juros neste ano puxou os yields da renda fixa para cima no mês. A elevação das taxas de juros nos EUA aliada às incertezas fiscais no Brasil explicam a elevação do dólar em setembro.
Apesar da desaceleração dos dados de atividade econômica nos EUA, o mercado de trabalho tem se mostrado bastante resiliente, trazendo preocupações inflacionárias. No entanto, a divulgação do último PCE trouxe uma boa notícia no campo inflacionário. Em agosto, o indicador e o núcleo do PCE fecharam respectivamente em 0,4% e 0,1%, abaixo do consenso de mercado.
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O resultado do PCE mostra que a política monetária restritiva do Fed já traz efeitos sob a inflação, além dos impactos da atividade econômica. A dúvida agora é a magnitude deste efeito na economia. Será que os juros no patamar de 5,25%-5,5% a.a levarão a economia americana a uma pequena desaceleração do PIB (soft landing) ou a uma forte queda da atividade econômica (hard landing)?
A preocupação nos EUA não está ligada apenas aos efeitos da política monetária, mas vem também do Congresso Nacional. Os democratas querem elevar o teto de endividamento para financiar mais gastos. Já os republicanos são contra esta flexibilização. O impasse poderá resultar num shutdown da máquina pública, inclusive com suspensão temporário do pagamento de juros da dívida americana.
Outra fonte de incerteza está na economia chinesa. Inadimplência de grandes empresas do setor imobiliário, com possível contaminação do crédito bancário, aliado a um desempenho econômico aquém do esperado do gigante asiático, também têm tirado o sono de muitos investidores.
Em suma, há na mesa motivos para otimismo como para preocupações. Do lado otimista, os dados de atividade econômica surpreendem positivamente no Brasil. Do lado das preocupações, destacam-se as incertezas fiscais brasileiras, a magnitude da desaceleração da economia americana, a possibilidade de shutdown da máquina pública nos EUA e os problemas imobiliários e de crédito na China. O momento é de cautela para ativos de risco.
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