

O mês de outubro de 2025 tem sido marcado por forte volatilidade nos mercados globais, em meio à combinação entre ruídos de política comercial, expectativas de flexibilização monetária nos Estados Unidos e incertezas fiscais no Brasil.
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O mês de outubro de 2025 tem sido marcado por forte volatilidade nos mercados globais, em meio à combinação entre ruídos de política comercial, expectativas de flexibilização monetária nos Estados Unidos e incertezas fiscais no Brasil.
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Após dois meses consecutivos de valorização, o Ibovespa vem devolvendo parte dos ganhos recentes e, até o momento, acumula queda parcial de 3,8%, ao redor dos 140.680 pontos, acompanhando o movimento de realização observado nas principais bolsas de valores internacionais.
Apesar da correção, o índice ainda exibe alta de 16,9% no acumulado do ano, sustentada pelo bom desempenho dos setores financeiro e exportador, que continuam a dar suporte ao mercado doméstico.
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De acordo com levantamento da DataBay, o ICON, voltado ao consumo, recua 6,6%, enquanto o IFNC, que reúne instituições financeiras, cede 4,7%. O SMLL, que representa as small caps (companhias consideradas pequenas quando comparadas com as demais empresas na Bolsa), perde 5,9%, e o IFIX, que acompanha os fundos imobiliários, registra leve correção de 0,3%, após forte avanço em setembro.
No acumulado de 2025, todos os segmentos ainda mantêm desempenho expressivo, o que reforça a leitura de que o movimento atual tem caráter mais técnico do que estrutural.
Nos Estados Unidos, o mês de setembro consolidou um ambiente de reversão parcial da aversão ao risco, impulsionado pela expectativa de dois cortes adicionais de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) até o fim do ano.
Essa reprecificação sustentou fluxos para ativos de risco e levou o S&P 500, o Nasdaq e o Dow Jones a operarem próximos de seus máximos históricos.
Entretanto, no início de outubro, declarações do presidente Donald Trump sobre possíveis elevações tarifárias contra a China e o cancelamento de uma reunião com Xi Jinping reacenderam temores de uma nova rodada da guerra comercial.
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O episódio interrompeu o rali e trouxe pressão negativa de cerca de 2,7% sobre o S&P 500 na última semana, embora os índices ainda acumulem ganhos robustos em 2025, com o Nasdaq avançando 15,0%, o S&P 500 11,4% e o Dow Jones 6,9%.
O cenário global permanece resiliente, mas o apetite por risco demonstra maior sensibilidade a choques geopolíticos e à incerteza sobre a trajetória da política comercial americana.
No ambiente doméstico, o mercado acompanha o ajuste internacional, mas com pressões adicionais de natureza fiscal e política.
Planos do governo que envolvem medidas para 2026 sem garantias de receita ampliaram a percepção de risco sobre o equilíbrio das contas públicas e elevaram o prêmio exigido na curva de juros.
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A decisão do Banco Central de manter a Selic em 15,00% reforçou a leitura de que a política monetária deve permanecer contracionista por mais tempo, diante da persistência da inflação de serviços e da necessidade de preservar credibilidade fiscal.
A curva de juros mostra estabilidade nos vértices curtos e inclinação na parte longa, refletindo a combinação entre risco fiscal crescente e o processo de transição da política monetária global.
Ainda segundo a DataBay, o BDRX, que acompanha os Brazilian Depositary Receipts (BDRs, título emitido no Brasil que representa uma ação de companhia aberta sediada no exterior) de empresas estrangeiras listadas na B3, registra alta de 1,6%, beneficiado pela valorização do dólar e pela resiliência das bolsas internacionais.
No acumulado de 2025, o mercado doméstico segue com desempenho robusto. O IFNC lidera com alta de 30,6%, seguido pelo SMLL (19,7%) e pelo Ibovespa (17%), indicando que a recente correção reflete prudência fiscal e ajuste técnico.
O cenário internacional passa por uma transição relevante. Após um longo período de política monetária restritiva, os mercados globais agora antecipam o início do ciclo de flexibilização nos Estados Unidos, movimento que tende a aliviar parte das pressões cambiais sobre economias emergentes.
Ainda assim, os ruídos geopolíticos e tarifários adicionam volatilidade e tornam o processo de reprecificação mais incerto.
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No Brasil, a questão fiscal reassumiu protagonismo. As discussões sobre novas despesas sem contrapartida de receita levantam dúvidas sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal e reforçam o viés de alta nos juros longos.
Com a inflação de serviços ainda resiliente, o espaço para cortes na Selic segue limitado, o que mantém os investidores mais defensivos, com preferência por ativos indexados à inflação e renda fixa.
A curva de juros apresentou estabilidade nos vértices curtos e inclinação marginal na parte longa, refletindo a combinação de risco fiscal e juros globais em transição.
Os vencimentos de curto prazo permanecem ancorados na expectativa de manutenção da Selic até o primeiro semestre de 2026, enquanto os longos precificam maior prêmio de risco, sobretudo após as declarações sobre novas medidas de gasto público.
O mercado entra na segunda metade de outubro dividido entre o otimismo com a flexibilização monetária nos EUA e as dúvidas persistentes sobre o compromisso fiscal brasileiro, às vésperas de um ciclo eleitoral.
Embora o cenário global tenda a se tornar mais favorável aos ativos de risco, o ambiente doméstico ainda deve permanecer condicionado por incerteza política e inflação persistente, fatores que limitam o potencial de valorização no curto prazo.
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Para os investidores, o momento demanda seleção criteriosa de ativos e diversificação entre instrumentos reais e financeiros. A volatilidade segue elevada, mas há oportunidades pontuais em setores defensivos e em ativos atrelados à inflação
* Artigo elaborado com colaboração de Guilherme Carter, Diretor da DataBay, Coordenador dos programas de Master da Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças (FBNF) e professor de Finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV).
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