- A questão fiscal ganhou ainda mais relevância recentemente após a última divulgação de dados de resultado primário
- Se no campo fiscal e inflacionário as notícias não foram tão animadoras, não se pode dizer o mesmo em relação aos dados do mercado de trabalho
- Para o mês de setembro, a bolsa poderá recuperar as perdas de agosto principalmente pela surpresa dos dados de atividade econômica
A questão fiscal ganhou ainda mais relevância após a última divulgação de dados de resultado primário. No mês de julho, o déficit primário ficou em R$ 35,8 bilhões, acumulando um rombo de R$ 81,91 bilhões desde o início do ano. Já a dívida pública passou de 73,9% para 74,1% do PIB. Com esses números, aliado a medidas fiscais focadas mais na arrecadação, em vez de corte de gastos, há um ceticismo no mercado de que o déficit primário será zerado, conforme a meta da equipe econômica.
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Apesar das preocupações fiscais, a curva de juros não foi significativamente afetada. A taxa pré para 2026 passou de 10,16% para 10,08%, enquanto para o vencimento mais longo, houve ligeira incorporação do prêmio de risco – a taxa passou de 10,66% para 10,77%
Chama a atenção o último IPCA-15 (0,28%), acima do esperado (0,17%), não afetando a ponta curta da curva de juros. Não só o índice cheio veio acima das expectativas, como houve piora nas medidas de núcleos.
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O núcleo por expurgo, que exclui preços administrados e alimentos no domicilio, itens não sensíveis a política monetária, passou de 0% em julho para 0,30% em agosto. Já o núcleo Ex3, que agrega serviços e bens industriais, itens sensíveis a política monetária, passou de 0,15% em julho para 0,34% em agosto.
Se no campo fiscal e inflacionário as notícias não foram tão animadoras, não se pode dizer o mesmo em relação aos dados do mercado de trabalho. A taxa desemprego de julho ficou em 7,9%, de acordo com os dados da PNAD, atingindo o menor patamar desde fevereiro de 2015. Na mesma linha, o PIB do 2º trimestre surpreendeu positivamente ao crescer 0,9%, puxado pela indústria e pelo setor de serviços.
No cenário externo, as notícias não foram tão positivas. A China tem apresentado índices de atividade econômica abaixo do esperado. Além disso, há desconfiança dos investidores em relação a problemas no mercado imobiliário e de crédito. Diante desta situação, o mercado fica na expectativa de mais estímulos monetários e fiscais por parte do governo para estimular a economia. Caso isso ocorra, ações brasileiras ligadas ao setor de exportação de commodities tendem a reagir positivamente, como é o caso da Vale (VALE3).
Nos EUA, apesar da desaceleração da atividade econômica – prévia do PIB do 2º trimestre abaixo do esperado (2,1% contra projeção de 2,4%) -, a inflação continua ainda longe da meta do Banco Central dos EUA, próxima de 2% a.a.
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No mês de julho, o núcleo do PCE de julho ficou em 4,2%. Em parte, a persistência inflacionária vem da resiliência do mercado de trabalho americano. Em agosto foram criadas 179 mil vagas no setor privado, acimado esperado pelo mercado (150 mil) e do resultado de julho (155 mil). Por outro lado, houve aumento da taxa de desemprego, de 3,5% para 3,8%, sinalizando um provável desaquecimento do mercado de trabalho para os próximos meses.
Em suma, tanto o cenário externo quanto o interno (incertezas fiscais) explicaram a queda de 5% no Ibovespa no mês de agosto e a apreciação do dólar frente ao real.
Para o mês de setembro, a bolsa poderá recuperar as perdas de agosto principalmente pela surpresa dos dados de atividade econômica. Vale destacar que diante da abertura da diferença de taxa de juros Brasil – EUA (queda da selic e manutenção do Fed Fund Rate), aliado às incertezas fiscais, entendemos que atualmente o dólar abaixo de R$ 5 está num bom ponto de entrada para investimentos nos EUA.