O olhar do mercado internacional

Thiago de Aragão é diretor de estratégia da Arko Advice e assessora diretamente dezenas de fundos estrangeiros sobre investimentos no Brasil e Argentina. Sociólogo, mestre em Relações Internacionais pela SAIS Johns Hopkins University e Pesquisador Sênior do Center Strategic and International Studies de Washington DC, Thiago vive entre Washington DC, Nova York e Brasília.
Twitter: @ThiagoGdeAragao

Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias

Thiago de Aragão

Os riscos da dependência comercial entre Brasil e China

A relação entre os dois países possui um termômetro específico: a exportação de soja

Foto: CNA Triluz/ Wenderson Araujo
  • A China é o maior importador de soja do mundo, enquanto o Brasil é o maior exportador global da oleaginosa
  • A relação entre Brasil e China possui várias facetas e vários ângulos diferentes
  • A soja brasileira não representa somente o nosso principal produto de exportação, um elemento crítico para a nossa balança comercial, como tornou-se também o termômetro necessário para se medir a condição e o crescimento econômico chinês

A China é o maior importador de soja do mundo, enquanto o Brasil é o maior exportador global da oleaginosa. Em 2023, os chineses importaram 101,6 milhões de toneladas da commodity, representando 76,2% das exportações brasileiras do produto. O setor sojeiro ajuda a manter a balança comercial brasileira superavitária.

A relação entre Brasil e China possui várias facetas e vários ângulos diferentes. Enquanto a relação política varia de intensidade de acordo com o governo do momento no Brasil, a relação econômica e comercial segue crescente em diversas áreas que vão desde o agronegócio à energia, à mineração e a bens manufaturados. No entanto, toda a relação entre Brasil e China possui um termômetro específico que demonstra a solidez do momento que ela vive: a exportação de soja.

A soja brasileira não representa somente o nosso principal produto de exportação, um elemento crítico para a nossa balança comercial, como tornou-se também o termômetro necessário para se medir a condição e o crescimento econômico chinês. Explicando: o farelo de soja alimenta animais que se tornam alimentos para centenas e centenas de milhões de chineses; a variação do crescimento econômico local é refletido na oferta e no preço dos alimentos, e na demanda, consequente, de mais ou menos soja brasileira.

Em 2023, a balança comercial brasileira experimentou um superávit de US$ 88,8 bilhões de dólares, e a exportação do grão foi um dos principais fatores que contribuíram para esse resultado. A soja importada é geralmente processada em farelo para ração animal.

A China importou 62,3 milhões de toneladas de soja nos primeiros sete meses deste ano. Isso representa um aumento de 15% em relação ao ano passado, segundo dados oficiais. Somente em julho, as importações do grão atingiram 9,73 milhões de toneladas. O número está abaixo das 10,27 milhões de toneladas importadas em junho.

Entretanto, o volume é maior do que as 7,88 milhões importadas no mesmo mês de 2022, segundo dados da Administração Geral da Alfândega da China. O valor por tonelada das importações aumentou 1,3% — em relação ao ano anterior, nos primeiros sete meses –, para 4.334,6 yuans (605,39 dólares).

Importante lembrar que a importação de soja brasileira, ao mesmo tempo em que é celebrada, gera preocupações para áreas específicas do Partido Comunista Chinês. Por mais que entendam que o Brasil possui um fluxo de exportação confiável, compreendem também que depender excessivamente de um país pode ser um risco.

Vários estudos promovidos pelo Partido Comunista Chinês ao longo dos últimos cinco anos demonstraram a necessidade de diluir a dependência brasileira por meio de alguma produção local (baixíssima) e uma ampliação na produção no leste africano (complexa por diversos fatores). Por enquanto, a dependência mútua favorece o Brasil — apesar de que em termos gerais, o Brasil é que é excessivamente dependente da China.