

A China está adotando uma estratégia calculada para reduzir a influência dos Estados Unidos na América Latina, com foco na atuação econômica.
Ao investir em infraestrutura crítica e garantir acesso a recursos estratégicos, Pequim aprofunda sua presença econômica e, ao mesmo tempo, cultiva boa vontade política. Esse esforço inclui o financiamento e a construção de portos, ferrovias, usinas de energia e infraestrutura
digital, inserindo-se de forma estruturada no tecido econômico da região.
No final de 2024, durante uma reunião a portas fechadas em Pequim, o presidente Xi Jinping trouxe para a mesa altos funcionários do
Ministério das Relações Exteriores, aos quais juntou pessoal de empresas estatais e do setor de infraestrutura digital com o objetivo de discutir o aperfeiçoamento da estratégia chinesa para a América Latina.
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A discussão focou no apoio discreto a cooperativas agrícolas e na criação de parcerias na mineração em países como Bolívia, Paraguai e Colômbia. A abordagem envolve assistência técnica, financiamento com juros baixos e sistemas logísticos avançados. Em troca de acesso a longo prazo a recursos naturais e maior presença de mercado, bancos de desenvolvimento e empresas chinesas forneceriam infraestrutura essencial.
Além disso, ao oferecer conectividade digital a áreas rurais desatendidas, a China busca expandir seu poder brando, fortalecer relacionamentos e coletar dados econômicos e logísticos estratégicos, ampliando ainda mais sua inserção na região. Essa estratégia, discreta porém abrangente, reflete a ambição maior de Pequim: tornar-se indispensável ao caminho de desenvolvimento latino-americano.
Um elemento central da estratégia chinesa é o foco em minerais críticos e na agricultura. Esses setores atendem a dois objetivos: garantir insumos essenciais para o desenvolvimento econômico e tecnológico chinês e criar dependências que podem ser convertidas em influência política. A América Latina, com vastas reservas de lítio — fundamental para baterias de veículos elétricos e armazenamento de energia renovável —, tem atraído bilhões de dólares em investimentos chineses.
Na agricultura, a China se consolidou como principal compradora de produtos como soja e carne, especialmente do Brasil, fortalecendo os laços bilaterais.
Alternativa ao modelo tradicional liderado pelos EUA
Em contraste, o governo do presidente Donald Trump adotou uma postura de mais confronto com a região, marcada por protecionismo e medidas rígidas de imigração. Os EUA abriram 2025 impondo uma tarifa de 25% sobre importações do México e do Canadá, alegando preocupações com imigração ilegal e tráfico de drogas. Essas ações visavam pressionar os países vizinhos, mas geraram alertas sobre impactos econômicos e tensões diplomáticas que poderiam vir a acontecer.
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Críticos argumentaram que essas tarifas poderiam elevar os preços ao consumidor nos EUA e provocar retaliações, possivelmente levando países como o México à recessão. Além disso, a proposta de Trump de taxar em 10% as remessas de imigrantes ameaçava reduzir a renda de famílias em países como El Salvador, Haiti e México, afetando o consumo e o crescimento local. A abordagem chinesa, mais colaborativa e orientada a investimentos, oferece à América Latina uma alternativa ao modelo tradicional liderado pelos EUA.
Embora os investimentos chineses tenham impulsionado o crescimento da infraestrutura e a diversificação dos mercados, também surgem
preocupações com a sustentabilidade da dívida e os impactos ambientais. Ainda assim, a diplomacia ativa e o financiamento direcionado da China contrastam fortemente com as políticas coercitivas adotadas pelos EUA nos últimos anos.
Como resultado, governos latino-americanos podem buscar cada vez mais diversificar suas parcerias internacionais, reduzindo a dependência dos EUA e ajustando seus alinhamentos geopolíticos. Essa tendência representa um desafio relevante à influência de Washington na região no longo prazo.
Em suma, o engajamento estratégico da China — baseado em minerais críticos, agricultura e infraestrutura digital — posiciona o país como um parceiro essencial para o desenvolvimento da América Latina. Em contrapartida, os EUA correm o risco de perder terreno com políticas protecionistas e oportunidades econômicas desperdiçadas. Navegar por esse cenário em transformação exigirá que os países latino-americanos equilibrem ganhos econômicos imediatos com os riscos estratégicos de uma dependência excessiva de qualquer potência global.
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