- A agenda de Washington para com a América Latina é focada em México, Cuba e Venezuela e gira em torno de temas “negativos”
- A disputa entre Joe Biden e Donald Trump apresenta pouco potencial de impactos positivos para a maioria da região americana
- Os dois candidatos à presidência dos EUA ainda veem a região mais como fonte de problemas do que de potenciais benefícios
A política dos Estados Unidos em relação à América Latina tende a ser errática, sobretudo devido à falta de prioridade que a região representa para Washington. O interesse flutua conforme o desenvolvimento de outros assuntos globais nos quais os Estados Unidos estão envolvidos. Especialmente em anos eleitorais, a visão de Washington e dos partidos Democrata e Republicano tende a ser uma ampliação do que pensam os eleitores da Flórida sobre a região.
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Não surpreende, portanto, que a agenda de Washington para com a América Latina continue focada em México, Cuba e Venezuela, girando em torno de temas “negativos” como imigração ilegal, narcotráfico, corrupção e falta de transparência. O restante da região acaba vitimado pela generalização superficial que o termo “América Latina” impõe, com todos os países nivelados por uma compreensão individual insuficiente de suas características e oportunidades. Os “maus elementos” tendem a contaminar os “bons”potenciais , dominando as manchetes e a atenção dos formuladores de políticas.
O Brasil, porém, por vezes se destaca como um caso à parte. Como um país que não utiliza normalmente o termo “América Latina”, suas diferenças culturais, linguísticas, bem como de desenvolvimento, proeza econômica e descolamento do resto da região, permitem que o país seja uma espécie de ilha na percepção latino-americana de Washington.
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No entanto, isso ocorre apenas em casos específicos. Se a percepção em relação ao Brasil é relativamente positiva, ele é destacado. Caso contrário, se a percepção é negativa, como em questões de violência, corrupção e burocracia pesada, o País é agrupado na visão comum “latino-americana” de Washington e Miami.
A disputa entre Joe Biden e Donald Trump apresenta pouco potencial de impactos positivos para a maioria da região. Se Trump não demonstra interesse em uma agenda positiva, Biden parece não ter tempo para priorizá-la construtivamente. Com diferentes graus de compaixão, ambos ainda veem a região mais como fonte de problemas do que de potenciais benefícios.
Sob a administração Trump, a relação EUA-Brasil se caracterizou por uma forte afinidade pessoal entre os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, refletindo abordagens similares em várias questões, incluindo a pandemia da COVID-19. Essa proximidade parece ter contribuído para uma cooperação reforçada em determinadas áreas, como defesa, segurança e esforços contra o narcotráfico.
Além disso, a presença de Mike Pompeo no Brasil, discutindo questões como a crise na Venezuela e imigração, indica uma agenda de política externa ativa e alinhada entre os dois países. Essa relação não resultou, necessariamente, em avanços significativos e limitou-se a encontros de alto nível, sem se aprofundar em cooperações substanciais em áreas como comércio, tecnologia e inovação.
Em contraste, uma administração Biden poderia sinalizar mudanças significativas na relação com o Brasil, especialmente em temas como mudança climática e meio ambiente. Dada a importância que Biden atribui à questão climática, é provável que haja um esforço para engajar o Brasil de maneira construtiva na busca por soluções para a preservação da Amazônia e no combate ao desmatamento, considerando o papel crucial do país na segurança alimentar global e na biodiversidade.
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A perspectiva de Biden sobre a diplomacia e a cooperação multilateral sugere que a relação com o País poderia se expandir para incluir uma gama mais ampla de questões, priorizando o diálogo e a colaboração em desafios globais. Importante ressaltar que há um antagonismo entre o governo brasileiro e o governo americano na região (posicionamento em relação à Venezuela sendo um importante fator contra o governo brasileiro), que inibe um avanço significativo entre os dois países na área ambiental.
No campo comercial, a China permanece como o eixo gravitacional. Sob a liderança de Biden, o Brasil encontra um ambiente mais previsível no que tange a sanções contra empresas chinesas, mantendo estáveis as exportações para a China. Com Trump, por outro lado, existe a possibilidade de aumento nas sanções contra a China, afetando diretamente empresas envolvidas na importação e exportação. Essa incerteza com Trump, que poderia escalar a guerra comercial e afetar negativamente as exportações brasileiras, adiciona uma camada de complexidade às relações internacionais.
O Brasil pode se destacar por razões muito específicas. Se Trump vencer, espera-se que a relação com Lula seja difícil, marcada por ironias e sarcasmos. Como Lula provavelmente associará Trump a Bolsonaro, é improvável um entendimento mais amplo entre os dois presidentes. Isso poderia levar Lula a se aproximar de rivais naturais dos EUA, como a China e, talvez, a Rússia.
Ainda assim, a profundidade da relação entre os dois países impede danos significativos, mantendo-se sólida nas áreas financeira, tecnológica, de entretenimento e de bens de consumo. Eventuais antagonismos entre Lula e Trump ou entre Lula e Biden tenderiam a ter pouco impacto prático, com o setor privado mantendo o controle dos elementos mais importantes das relações Brasil-EUA.
Os impactos indiretos para o Brasil, sob uma vitória de Trump e a consequente redução das taxas de juros nos EUA, poderiam beneficiar o Brasil ao atrair investidores do mercado de títulos para o mercado de ações, oferecendo retornos atrativos. Independentemente dos presidentes, o Estado brasileiro continua com as rédeas de seu futuro e de suas relações com o setor privado estrangeiro, seja dos EUA, China ou Europa. Trump não representa um “benefício” para o Brasil, assim como Biden, se mantivermos um antagonismo ideológico em questões conceituais.
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