Viagem financeira

Formada em jornalismo e com especialização em mídias digitais pela Universidade da Califórnia, Valéria Bretas já passou pelos maiores veículos de comunicação do País e hoje é editora-chefe do E-Investidor. Ao longo de sua carreira, também aperfeiçoou técnicas de planejamento financeiro aplicadas em viagens. Na coluna Viagem Financeira, escreve sobre experiências, organização financeira e notas exclusivas sobre turismo. Instagram: @valeriabretas

Com colaboração do jornalista @andersonfigo

Valéria Bretas

Por que mais brasileiros estão de olho em viagens de jato executivo

A procura pelo transporte privado saltou por conta da pandemia. Veja quanto custa

(Foto: Divulgação Alphajets / Fabio Nunes)
  • Um levantamento realizado pela Flapper, empresa de aviação executiva sob demanda, mostra que no primeiro trimestre deste ano foram realizadas 68 mil cotações. O número é  292% maior em comparação ao mesmo período de 2020

Chegar com horas de antecedência no aeroporto, encarar uma longa fila no check-in, despachar as malas, passar pelo raio-x e se preparar para um bom chá de cadeira na sala de embarque são alguns itens que fazem parte do checklist básico de qualquer viagem. Mas não para a aviação executiva. Existe um glamour ímpar aos tripulantes que fazem os seus deslocamentos por aluguel de jatos privativos.

E vou te contar mais sobre a minha experiência com a Alphajets. Imagina só: decidir o seu destino no mesmo dia, arrumar as bagagens e sair de casa uma hora antes do voo. Em uma área exclusiva ao lado do aeroporto, os clientes são recebidos pelo staff e as malas já encaminhadas pelos funcionários até a aeronave.

Há poltronas espalhadas por todo o lugar e uma sala de TV disponível para quem está com tempo extra. Na área vip, os tripulantes também podem aproveitar da mordomia para pedir um expresso e comer alguns snacks, como chipas e pão de queijo. Aos executivos que se preparam para uma reunião, o local também fornece acesso à internet e mesa de trabalho. Há discrição e o silêncio no local é absoluto.

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Um representante se desloca para convocar os passageiros para o embarque. O trajeto é direto pela pista até o jato, que impressiona por sua sofisticação e requinte. A cabine é estreita e abriga até nove lugares, posicionados um de frente para o outro em poltronas de couro.

(Foto: Divulgação Alphajets / Fabio Nunes)

O avião é pensado para o transporte de profissionais, não há divisão de ambientes e o serviço de bordo é limitado ao frigobar com bebidas e cestas com diversos tipos de lanches. O banquete é garantido! Há sempre uma caixa de bombons artesanais à espera do viajante, assim como uma cesta de pães, salada de frutas e tábua de queijos.

O deslocamento para o Rio de Janeiro, por exemplo, leva cerca de 45 minutos, praticamente o mesmo tempo de um voo comercial. Mas o que você provavelmente deve estar se perguntando é: quanto custa tudo isso?

O trecho de ida e volta para a cidade maravilhosa custa a partir de R$ 28 mil, ou R$ 3,1 mil em uma divisão rápida para cada um dos 9 tripulantes. Em outras regiões, o custo sobe. Para fazer uma viagem de ida e volta para Florianópolis, o cliente desembolsa a partir de R$ 32 mil (ou R$ 3,5 mil para cada poltrona); o trajeto direto para Trancoso, na Bahia, sai por R$ 68 mil (ou R$ 7,5 mil cada).

A Alphajets iniciou as operações no Brasil há menos de um ano, em agosto do ano passado. Nesses dez meses, a empresa tem realizado cerca de 22 voos nacionais e 2 internacionais por mês com uma frota de três aeronaves próprias e um helicóptero. Eles têm autonomia (capacidade de voar sem abastecimento) de 4 horas de viagem para sobrevoar o Brasil de Norte a Sul e alguns destinos internacionais.

O serviço pode parecer até utópico, mas se tornou mais comum desde que a pandemia da covid-19 virou parte da realidade das pessoas. Um levantamento realizado pela Flapper, empresa de aviação executiva sob demanda, mostra um salto no número de solicitações de voos: no primeiro trimestre deste ano foram realizadas 68 mil cotações, um crescimento de 292% comparado ao mesmo período de 2020. O efeito seria um reflexo do encolhimento da malha aérea comercial.

“O setor de aviação executiva conseguiu se beneficiar da pandemia, mas de uma forma saudável”, diz Fernando Wendling, CEO da Alphajets. “Mostramos para as pessoas que é muito mais seguro viajar em um jato particular, onde não há filas e horas de espera em saguão de aeroporto.”

De acordo com o executivo, muitos brasileiros possuem poder aquisitivo suficiente para utilizar o serviço de táxi aéreo, mas desconhecem a modalidade. Com a preocupação com o vírus e mais acesso à informação sobre o transporte privado, ele aposta em uma demanda crescente em 2022.

“Há mais de 2,7 mil aeroportos entre públicos e privados e menos de 100 são atendidos hoje pela aviação comercial. Há um grande território para avançar o crescimento da aviação executiva particular e táxi aéreo”, diz. A projeção da companhia é dobrar a média mensal de voos até o final deste ano.

A demanda por viagens corporativas também deve crescer, segundo Wendling. “Houve uma queda, mas o empresário ainda precisa visitar suas filiais e os seus respectivos negócios ao redor do País”, afirma.

Uma empresária do ramo de indústria gráfica, que preferiu não se identificar, estampa essa realidade. Ela sentiu a queda na oferta de voos para lugares mais remotos e precisou recorrer à aviação executiva. “A pandemia aumentou muito a minha necessidade de voar em aeronaves particulares devido à escassez de voos comerciais e maior risco de aglomerações”, diz. “O  tempo que eu ganho faz eu gerar mais negócios e ter mais qualidade de vida.”

A aviação executiva entrega muitas vantagens, seja para quem tem uma viagem de negócios ou mesmo para o lazer. A acessibilidade, porém, ainda tem um longo caminho pela frente, restrita por conta do custo elevado entre os trechos. Os valores não são atrativos porque os preços da aviação são calculados em dólar.

Mas é inegável que além da gritante economia de tempo, em época de coronavírus, a privacidade ultrapassa o que já foi considerado apenas um luxo.