Descomplica, invista!

Vitor Miziara é sócio da Performa Ideias, empresa de análise de mercado. Atua desde 2008 no mercado financeiro com experiência em gestoras, assessoria, análises e mais. Além de empreendedor, atua como investidor ativo em empresas e no ramo imobiliário, sempre em busca de valorização e renda passiva. Entusiasta do mercado, ele discorre sobre cenários e investimentos, sem evitar assuntos polêmicos e críticas abertas.

Escreve quinzenalmente, às terças-feiras.

Vitor Miziara

O investidor sempre perde dinheiro no mercado. E a culpa é só dele

O investidor que ganha menos ou perde mais comete dois erros básicos; Confira a análise

A maioria se assusta e fica com medo na hora das quedas porque estava mais exposto do que podia. Foto: Envato Elements
  • Na maioria das vezes o investidor não sabe o que está fazendo e qual é o melhor investimento para o seu perfil
  • Do lado comportamental acredito que são dois pontos aqui muito relevantes: ganância e medo
  • Pensando nas eleições, a volatilidade tende a aumentar com apostas feitas para todos os lados no mercado financeiro em relação ao candidato que irá ganhar

Não sou que afirmo isso, apesar de concordar. E também não estou falando só das operações de “day trade” (aquelas onde há compra e venda feitas de forma especulativa no mesmo dia). Estou falando das posições escolhidas e principalmente das comparações com retornos passivos, ou seja, aqueles de deixar o dinheiro parado para sempre em uma única aplicação.

O JP Morgan divulgou um estudo feito com base em 20 anos do retorno anualizado por classe de ativo, de 1999 à 2018 (base EUA), e a conclusão foi que o investidor varejo é o que ganhou menos que todos, uma média de 1,9% ao ano, contra , por exemplo, a inflação de 2,2%, ouro com retorno de 7,7% ou até simplesmente ter comprado S&P 500 que teve um retorno anualizado de 5,6%.

Podemos elencar alguns pontos que explicam por que o investidor ganha menos ou perde mais, sempre. E para começar a entender isso podemos separar em dois tipos de erros: técnico e comportamental.

Do lado técnico acho que é obvio falar que a falta de educação financeira é um dos principais motivos para isso, aqui no Brasil e em boa parte do mundo também. Na maioria das vezes o investidor não sabe o que está fazendo, qual melhor investimento se adequa ao seu perfil e principalmente, alinhar a aplicação com timing de mercado.

É muito importante ter uma noção macro para saber se agora é hora de juros, ou bolsa, ou os dois como entendo ser o momento atual. Existem assessorias de investimentos e consultores que podem ajudar, mas assim como toda profissão, também há pessoas boas e ruins, honestas ou conflitantes. Nesse ponto me orgulho de ter uma das maiores notas de atendimento do grupo XP em mais de 14 anos de história, credenciando assim meu atendimento.

Do lado comportamental acredito que são dois pontos aqui muito relevantes: ganância e medo. O primeiro acho que é obvio e faz parte do segundo que é quando o investidor deseja ganhar grande, rápido, mas sem ter a paciência necessária para tal. Como deu para ver nos números que citei acima,  era só ter comprado inflação, ou S&P, ou ouro, ou até títulos de renda fixa que o investidor teria ganhado muito mais. O segundo ponto aqui é o medo, que é algo que aparece e escancara que a carteira do investidor não estava adequada ao perfil dele, seja para quedas bruscas ou alta volatilidade no mercado.

Não gosto de frases clichês, mas “comprar na baixa e vender na alta” é maior lição que podemos aprender no mercado, e poucos fazem. A maioria se assusta e fica com medo na hora das quedas porque estava mais exposto do que podia ou em investimentos que não são do perfil do investidor. Outros se tornam gananciosos em momentos de alta, afinal tudo está subindo, e acham que encontraram a formula mágica e agora a alta da carteira de investimentos será sempre reaplicada, então continuam com suas posições.

Engraçado que não precisaria ter um estudo para isso mas fizeram e a comprovação é de que o mercado sempre se recuperou das quedas. Novidade? Nenhuma. Mas na maioria das vezes os investidores optam por não aumentar a exposição nas quedas (comprando barato) e preferem zerar as posições, com medo que elas piorem.

Nesse segundo trecho essas vendas são feitas não porque a pessoa desiste do mercado, mas porque quer ganhar do mercado e acha que se vender agora, pode voltar depois um pouco mais barato. Nessa, fica de fora na maioria das vezes.

Aqui no mercado brasileiro estamos vivendo algo parecido hoje. O Ibovespa está com os múltiplos mais baixos da história, com valores abaixo da época da pandemia e mesmo assim vemos investidores resgatando seus fundos de investimentos de ações e multimercados.

Se olharmos os últimos dados da Anbima é possível notar que desde o começo do ano o investidor estrangeiro está comprando bolsa enquanto o investidor varejo está vendendo, boa parte indo para a renda fixa. Mesmo sabendo que nosso mercado aparenta estar barato quando comparado a todos os múltiplos, o investidor varejo segue vendendo sua posição (na baixa) e por isso a representatividade dele no mercado já caiu de 24,3% em Set/20 para 15,5% em Set/22 – uma queda de pouco mais de 40%.

Ou seja, não compra na baixa, não vende na alta, zera as posições quando o mercado está barato, aumenta quando o mercado está caro, e na maioria das vezes…era só ter deixado o capital investido, passando por essas turbulências que são normais e vão acontecer sempre, assim como as eleições que acontecem a cada 4 anos e o mercado está aí, vivo até hoje.

Falando em eleições, a volatilidade tende a aumentar com apostas feitas para todos os lados no mercado financeiro em relação ao candidato que vai ganhar. Se você não sabe o que fazer, faça o que aprendeu aqui: nada! Mantenha suas posições e depois, com o resultado em mãos, avalie seus investimentos.

Existem formas de se proteger, mas talvez a melhor seja não fazer nada ou simplesmente pular fora para não perder noites sem dormir e passar o fim de semana da eleições grudado na TV acompanhando a boca de urna.

Um abraço!