O que este conteúdo fez por você?
- Produtores adotam um pacote de estratégias para encarar a combinação de inflação, dólar alto e incertezas no mercado
- Proteger a renda, investir com cautela e ter um rígido controle financeiro fazem parte do cardápio
- Confira a seguir cinco conselhos dos produtores do agronegócio para preservar o valor do dinheiro em meio à crise
(Leandro Becker, especial para o E-Investidor) – Acostumados à imprevisibilidade e munidos da confiança de quem literalmente sabe que “só colhe quem planta”, os produtores rurais adotam um pacote de estratégias para encarar a combinação de inflação, dólar alto e incertezas no mercado sem comprometer as finanças.
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Proteger a renda, investir com cautela e ter um rígido controle financeiro fazem parte do cardápio. O plano é cauteloso, mas eles acreditam no mantra “ganhar pouco, mas ganhar sempre”. Uma receita simples para um momento complexo, em que o mundo sente os impactos da pandemia, da turbulência política e da disparada nos preços com a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Confira a seguir cinco conselhos dos produtores do agronegócio para preservar o valor do dinheiro em meio à crise sem comprometer as reservas:
1) Proteger a renda antes de lucrar
Como o agronegócio exige investir muito sem ter certeza do resultado, a estratégia dos produtores consiste em proteger a renda para, no pior cenário, ao menos recuperar o que foi aplicado. Por isso, recorrem principalmente à venda futura de parte da safra recém-plantada, geralmente não mais do que 30% da previsão de colheita, estabelecendo um preço mínimo que cubra os custos de produção.
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“Assim que calculamos o custo da safra, já fazemos a venda para garantir o que foi investido. Mas, para travar o preço, tem que ser conservador com o volume, para não se comprometer demais. Se houver quebra de safra, a multa por não entregar o que foi prometido pode ser altíssima”, conta Fernando Rossi, 31 anos, que produz grãos e cria gado de corte em Joviânia (GO).
Agricultor que planta 700 hectares de grãos em Passo Fundo (RS), Gustavo Antônio Patussi Gomes trava no máximo 25% da produção e ainda contrata seguro para evitar dívidas. “Brincar com clima e preço é muito perigoso. E ainda tem custos como mão de obra, combustível e manutenção que não conseguimos estimar detalhadamente no começo da safra”, observa.
2) Adotar um controle financeiro rígido
A estratégia parece óbvia, mas funciona. Para correr riscos sem inviabilizar o negócio, os produtores do agro sabem que precisam se basear em dados precisos e fazer projeções realistas. “Ganhar pouco não quebra ninguém. E pensar assim significa não buscar um número mágico de lucro, mas focar em uma margem segura”, observa Rossi, de Joviânia (GO).
Escapar dos juros também merece o empenho dos agricultores. Ao perceber que pagou muito mais caro por um trator, Ismael Perina Júnior, que cultiva 600 hectares de cana-de-açúcar em Jaboticabal (SP), decidiu apertar o cinto de olho em construir não só uma reserva financeira, mas ter capital de giro. “Tomei uma vacina contra pagar juro. Isso me deu um colchão financeiro para decidir com menos pressão. Hoje, se aparecer a oportunidade de comprar insumo, eu tenho como investir”, afirma.
Ele conta que o controle rígido das finanças foi essencial para não depender de financiamentos. “Todo mundo quer aumentar o patrimônio, mas, às vezes, isso traz endividamento. Por isso, tem que ter um pouco de rigidez com as contas. Depois que acostuma, fica fácil e se torna a base do negócio”, sugere.
3) Buscar parcerias e aconselhamento com especialistas
Em tempos de inflação e instabilidade os produtores rurais preferem pedir apoio em decisões estratégicas para não só resguardar as finanças, mas aumentar o potencial de ganho.
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Entre os agricultores de pequeno e médio porte, o suporte de cooperativas possibilita encontrar preços de insumos mais baratos, orientação técnica na lavoura e condições de crédito vantajosas. “Elas pagam mais pelo produto e emprestam cobrando menos. E, no final do exercício, ainda há distribuição de sobra, o que traz um pouco mais de recursos”, explica Perina Júnior.
No caso de aplicações no mercado financeiro, as fintechs do agronegócio aparecem como novas alternativas. Rossi, de Joviânia (GO), conta que uma das vantagens está em obter crédito com bom custo, prazo flexível e mais celeridade do que nos bancos tradicionais. “Tem pessoas experientes e que conhecem o vaivém do mercado agro. E ainda são uma ponte entre nós e quem não é do setor e quer investir”, argumenta.
4) Fazer compras e investimentos estratégicos
Para muitos produtores rurais, investir em produtos e infraestrutura também é uma forma de valorizar o dinheiro. Em Goiás, Rossi implantou irrigação em metade da área de grãos e, ao se precaver de perdas na safra por falta de chuva, assegurou uma produção mínima para negociar. “Como sei que não terei problemas com seca posso fazer a venda futura de um percentual expressivo com maior segurança”, diz.
Gomes, de Passo Fundo (RS), aposta na operação de barter (troca de produto, como grãos, por insumos) para não comprometer o fluxo de caixa. “Mas é importante estar atento às diferenças entre os preços do grão e do insumo, pois vender o grão a um valor alto não significa que a margem será maior”, alerta.
Construir uma reserva financeira sólida e usar parte dela para aproveitar oportunidades de negócio faz parte do arsenal de Perina Júnior. “Isso dá margem para comprar quando os preços baixam, além de escapar do juro. Ter o dinheiro em caixa já me permitiu trocar uma máquina pagando menos”, recorda.
5) Negociar no mercado de opções
Por fim, os produtores aconselham entrar no mercado de opções com o objetivo de buscar ganhos maiores. Neste caso, além de não ter impacto no fluxo de caixa, caso o preço de venda seja menor no fim da safra o produtor pode usar o prêmio para garantir o retorno que esperava. E, se o preço estiver superior, ele ganha ainda mais.
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Rossi, de Joviânia (GO), trabalha com o mercado de opções há cerca de três anos, sempre quando acredita que o mercado tem uma tendência de alta. “Você pode garantir o preço mínimo e, se o mercado subir, você participa da alta. É uma forma de se proteger e, caso o cenário melhore, lucrar mais”, ressalta o produtor, lembrando da importância do assessoramento técnico nas operações.