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- Entre 1978 e 2019, de acordo com a análise do EPI, a remuneração do CEO, ajustada pela inflação americana, subiu 1.167%, muito acima dos 0,1% assalariados mais ricos
- Estabelecendo a proporção de remuneração entre CEO e trabalhador em 320 para 1, o que é cinco vezes maior do que a diferença de 61 para 1 registrada em 1989
(Jena McGregor /WP Bloomberg) – Alimentada por um mercado de ações em alta, a remuneração de um CEO atingiu, no ano passado, seu nível mais alto em sete anos e pode estar prestes a subir novamente em 2020, apesar das demissões generalizadas e dos cortes salariais da recessão do coronavírus.
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O Economic Policy Institute (EPI), um think-tank de esquerda, descobriu que os principais executivos das 350 maiores empresas dos Estados Unidos ganharam uma média de US$ 21,3 milhões em compensação em 2019, estabelecendo a proporção de remuneração entre CEO e trabalhador em 320 para 1, o que é cinco vezes maior do que a diferença de 61 para 1 registrada em 1989. Em 2018, essa distância era de 293 para 1.
Os detalhes sobre essa defasagem salarial para o CEO são compartilhados nos balanços anuais das companhias, que são divulgadas no início do ano seguinte. Como resultado, esses números aumentaram durante uma época em que a pandemia devastou o mercado de trabalho e a desigualdade de renda se tornou um problema de campanha eleitoral.
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“Os CEOs não estão indo bem apenas porque estão no topo, eles estão muito melhor do que todos os outros que estão no alto escalão”, diz Larry Mishel, economista sênior do trabalho da EPI.
Entre 1978 e 2019, de acordo com a análise do EPI, a remuneração do CEO, ajustada pela inflação americana, subiu 1.167%, muito acima dos 0,1% assalariados mais ricos, cuja remuneração cresceu 337% entre 1978 e 2018 (o ano mais recente disponível). Enquanto isso, a compensação típica dos trabalhadores cresceu apenas 13,7% nas últimas quatro décadas, de acordo com dados do Bureau of Labor Statistics (escritório de estatísticas do trabalho, em uma tradução livre) para os salários de um trabalhador em tempo integral de cada setor.
Em seu relatório anual, o EPI usa uma medida de compensação “realizada” que conta o valor das opções de ações quando são descontadas e o das concessões de ações quando se tornam adquiridas, o que significa que são de propriedade do executivo.
Em 2019, essa abordagem resultou em um valor maior do que o cálculo do pagamento do CEO por data de concessão, ou o valor das opções e prêmios quando são concedidos aos executivos. Por essa medida, a remuneração do CEO cresceu 8,6% em 2019, para US$ 14,5 milhões.
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Mishel acredita que a abordagem “realizada” reflete melhor a renda tributável do CEO naquele ano, enquanto o cálculo concedido é baseado em uma fórmula para determinar o valor que pode ser “prematuro”, diz ele.
Muitas empresas disseram que seus CEOs e outros executivos de alto escalão sofreriam cortes salariais em 2020, já que a pandemia do coronavírus reduziu as previsões financeiras e as empresas tiveram de dispensar ou demitir funcionários.
A FedEx, por exemplo, disse que cortaria o salário-base do CEO e presidente do Conselho de Administração Frederick W. Smith em 91% por um período de seis meses, enquanto a corretora de seguros Aon cortaria o salário-base de seus principais executivos em 50% em abril como parte de um plano mais amplo de corte de salários (desde então, a empresa manteve os cortes temporários de salários para altos executivos, mas não para os demais funcionários).
Mas Mishel disse que muitas pessoas não entendem que o salário-base e os bônus anuais em dinheiro representam uma proporção relativamente pequena do pacote de remuneração geral de muitos executivos-chefes.
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“A remuneração do CEO nas últimas décadas acompanhou muito bem o mercado de ações, porque cerca de 75% da remuneração do CEO consiste em prêmios em ações e em opções de ações”, diz Mishel.
Os conselhos de administração argumentam que a remuneração do CEO está vinculada ao mercado de ações para alinhar os interesses dos executivos aos dos acionistas, mas Mishel afirma que tendências econômicas mais amplas ou mudanças de política, como cortes de impostos, podem elevar as ações da empresa por motivos alheios às decisões individuais do CEO.
Uma análise divulgada em julho pela CGLytics, uma empresa de dados de governança corporativa, descobriu que das 419 empresas no índice Russell 3000 que compartilharam detalhes sobre cortes de salários, dois terços tiveram reduções que equivaleram a apenas 10% ou menos de sua remuneração de 2019.
É por isso que Mishel acredita que é possível que os salários dos CEOs aumentem em 2020: o mercado de ações se recuperou e está flertando com recordes. Se isso acontecer, haverá uma divergência em relação às duas últimas recessões, quando os salários dos CEOs caíram, de acordo com dados do EPI, em 2001 e 2002, após o pico em 2000, e em 2008 e 2009, em meio à crise financeira.
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Robin Ferracone, CEO da consultoria de remuneração executiva Farient Advisors, diz que, embora seja possível um aumento no salário médio de 2020 para CEOs, provavelmente será estável ou um pouco menor que a média. Além de cortes de salários e prováveis bônus anuais mais baixos, muitos incentivos de longo prazo para CEOs são chamados de “ações de desempenho”, que estão vinculadas aos indicadores financeiros subjacentes que provavelmente piorarão para muitas empresas.
Ainda assim, afirma Robin, os comitês de remuneração precisarão estar cientes de como os resultados repercutirão entre os funcionários, cidadãos e investidores. “Se um trabalhador mediano se sente próspero e tem sido muito bem tratado, não há problema que o CEO leve milhões e milhões para casa”, diz ela. “O problema é quando o trabalhador mediano não está mais se sentindo próspero… Esse vai ser o teste deste ano.”