Brasil fica atrás apenas da Colômbia e África do Sul (Foto: Adobe Stock)
Mesmo que digam o contrário, ter um diploma de ensino superior continua fazendo diferença no mercado de trabalho brasileiro. Concluir a graduação aumenta significativamente as chances de conseguir um bom emprego e pode garantir salários até 148% maiores do que os de quem possui apenas o ensino médio. Os dados são relatório Education at a Glance (EaG), da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Mais que dobrar a remuneração está bem acima da realidade dos 38 países-membros da OCDE, que registram aumento médio de 54% para quem possui ensino superior. Apenas Colômbia (150%) e África do Sul (251%) apresentam porcentuais maiores que o Brasil.
No entanto, o acesso à graduação ainda é restrito. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apenas um em cada cinco brasileiros com 25 anos ou mais possui ensino superior, cerca de 20,5%, enquanto a pesquisa da OCDE revela que 1 em cada 4 estudantes abandona a faculdade após o primeiro ano.
Como diminuir as taxas de evasão no ensino superior?
Parte desse cenário se explica pelo abandono precoce. No Brasil, 25% dos estudantes deixam a faculdade após o primeiro ano, enquanto a média na OCDE fica em 13%. Apenas 49% dos ingressantes concluem o curso, contra 70% da média internacional. Entre os jovens de 25 a 34 anos, apenas 24% finalizam a graduação, menos da metade da média da OCDE (49%).
O relatório aponta que altas taxas de evasão “podem refletir um descompasso entre as expectativas dos alunos e o conteúdo ou exigências dos cursos, possivelmente indicando falta de orientação profissional ou apoio insuficiente para novos ingressantes”.
Além disso, as mulheres têm maior probabilidade de concluir a graduação. No Brasil, 53% delas finalizam os estudos, contra 43% dos homens, uma diferença de 9 pontos porcentuais — menor que a média da OCDE, de 12 pontos.
A OCDE alerta para a necessidade de melhorias não apenas no Brasil, mas globalmente, para garantir que o ensino superior seja mais eficaz e que os investimentos tragam retorno. O secretário-geral Mathias Cormann afirma que baixas taxas de conclusão “prejudicam o retorno do investimento público, agravam a escassez de competências e limitam o acesso a oportunidades”.
Entre as soluções propostas estão a oferta de cursos mais inclusivos e flexíveis, com programas adaptados para estudantes do ensino técnico, processos de admissão que reconheçam perfis variados e cursos mais curtos e direcionados. Também são recomendadas medidas de apoio para estudantes em risco de atraso e orientação profissional mais eficaz no ensino médio.
A OCDE também destaca desafios na qualidade do ensino superior. A Pesquisa de Competências de Adultos 2023 revela que, mesmo entre diplomados, 13% dos adultos em 29 países participantes não atingem o nível básico de alfabetização, ou seja, conseguem compreender apenas textos curtos sobre temas familiares.
“Isso mostra a necessidade de ampliar o acesso e aumentar a relevância da educação oferecida”, afirma Cormann.
Governo discorda do número da OCDE
De acordo com o relatório, em 2022, o Brasil investiu cerca de US$ 3.765 por aluno em ensino superior, equivalente a R$ 20 mil — valor inferior à média da OCDE, de US$ 15.102 (R$ 80 mil). Porém, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o investimento público brasileiro chega a 0,9%, alinhado à média internacional.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) contestou esses números e afirmou que o valor correto é US$ 15.619 (aproximadamente R$ 83 mil), superior à média da OCDE. O equívoco se deve ao cálculo da organização internacional, que, segundo o órgão brasileiro, divide todo o investimento público pelo total de alunos de instituições públicas e privadas, enquanto o governo considera apenas alunos de universidades públicas.
No Brasil, a maior parte dos estudantes (cerca de 80%) está matriculada em instituições privadas de ensino superior e os investimentos nestas universidades não são contabilizados pelo Inep.