Comportamento

Entendendo a espetacularização das SPACs

As autoridades reguladoras reclamam que o processo é fácil de ser manipulado

Entendendo a espetacularização das SPACs
A palavra Wall Street na fachada de prédio em Nova York (Foto: Shannon Stapleton/Reuters)
  • As empresas com propósito específico de aquisição (SPACs) são uma alternativa de abrir o capital, evitando o complicado processo de oferta pública inicial (IPO)
  • Cerca de 84 empresas anunciaram que irão vender suas participações por meio de fusões SPAC em 2021, contra 123 usando IPOs
  • A tendência da SPAC é um experimento gigante com uma maneira diferente de abrir o capital das empresas. E também é um teste para as empresas envolvidas, muitas das quais estão escondidas nos mercados privados há anos ou são tão principiantes que parecem mais conceitos do que empresas de verdade

(The Economist) – Suspenda sua desconfiança. Parece ser isso o que os mercados financeiros modernos exigem dos investidores. A GameStop, uma pequena e humilde varejista que se envolveu em euforia de negociação on-line no início deste ano, ainda vale US$ 11 bilhões. As animações digitais estão sendo vendidas por meio de tokens on-line por milhões de dólares.

A ação da Dogecoin, uma moeda digital que até recentemente era considerada uma piada, está avaliada em quase US$ 50 bilhões. Criptomoedas, ações de memes, NFTs – cada nova moda financeira parece trazer sua própria terminologia e o cheiro do absurdo.

Muitos investidores adicionariam a essa lista as empresas com propósito específico de aquisição (SPACs). Elas são uma forma alternativa de abrir o capital das empresas, evitando o complicado processo de oferta pública inicial (IPO). O ritmo das negociações tem sido frenético. Entre janeiro e abril, cerca de US$ 100 bilhões foram arrecadados por meio de SPACs, muitas das quais agora estão em busca de empresas para comprar.

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Cerca de 84 empresas anunciaram que irão vender suas participações por meio de fusões SPAC  em 2021, contra 123 usando IPOs. A tendência da SPAC é um experimento gigante com uma maneira diferente de abrir o capital das empresas. E também é um teste para as empresas envolvidas, muitas das quais estão escondidas nos mercados privados há anos ou são tão principiantes que parecem mais conceitos do que empresas de verdade.

Então, quão louco é o frenesi da SPAC? À primeira vista, muito louco.

Esse boom ocorreu apesar do histórico duvidoso de algumas empresas que abriram o capital dessa forma no passado. As autoridades reguladoras reclamam que o processo é fácil de ser manipulado. Os executivos que administram SPACs frequentemente ficam com uma fatia colossal de patrimônio para si, em detrimento dos investidores externos que geralmente desembolsam muito mais dinheiro. Muitas vezes, eles fazem promessas fantasiosas.

A Economist somou as previsões de gestão de um painel de 50 negociações com SPACs recentes ou pendentes. Cerca de metade das empresas são deficitárias. No total, as 50 empresas geram cerca de US$ 1 bilhão de lucro operacional bruto anual, mas previram para os investidores que isso aumentará para milagrosos US$ 15 bilhões em 2023. E há espaço para delírios extremos. Das oito empresas de veículos elétricos (EV, na sigla em inglês) acompanhadas nos mercados públicos em 2020, cinco esperam progredir de nenhuma receita para US$ 10 bilhões em menos de cinco anos. Nem mesmo o Google, uma das empresas mais bem-sucedidas da história, conseguiu isso. Demorou oito anos.

No entanto, embora os números gerais pareçam selvagens, a boa notícia é que o boom das SPACs está se tornando mais criterioso. A capitalização de mercado da Virgin Galactic, uma empresa de tecnologia espacial, caiu de US$ 13 bilhões para US$ 5 bilhões desde fevereiro. As ações da Opendoor, uma empresa imobiliária, caíram pela metade. Os investidores que financiaram a Vectoiq Acquisition Corp viram seu dinheiro crescer sete vezes após a fusão com a Nikola, fabricante de caminhões elétricos, em junho de 2020. Mas as ações da empresa caíram abaixo de seu preço de estreia.

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Os investidores têm pisado no freio com as SPACs que ainda estão indo atrás de empresas. Bill Ackman, um magnata de Wall Street, tem um veículo de investimento de US$ 4 bilhões que estava sendo negociado a um prêmio de 50% em relação ao seu valor em dinheiro em fevereiro, na expectativa de ele fechar um negócio que seria uma alquimia instantânea. Desde então, o prêmio caiu para apenas 17%.

Existem outros sinais de disciplina de mercado em ação. Os juros a descoberto estão crescendo à medida que investidores céticos apostam contra as SPACs e as empresas que elas avalizaram. Depois de um início de ano espetacular, apenas US$ 2,5 bilhões foram levantados por meio de novas SPACs desde 29 de março, à medida que os gestores de fundos ficam menos inconstantes e mais cautelosos ao escrever cheques em branco. Esse ceticismo é um sinal saudável de que o mercado está amadurecendo.

Os investidores institucionais devem usar sua influência para melhorar o processo. Isso significa garantir que a fatia de ações que os criadores de SPAC recebam não seja excessiva, insistir que o pagamento dos gestores esteja vinculado ao cumprimento das previsões que eles fazem e aplicar um desconto a empresas que dão aos investidores externos direitos de voto limitados. Nem todas as empresas que abrem o capital por meio de SPACS terão sucesso, mas ter uma forma alternativa de abrir o capital é bem-vindo. Ainda assim, se alguém aparecer com uma SPAC para uma empresa que vende NFTs em EVs, corram para as colinas.

(Tradução de Romina Cácia)

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