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- As gestoras de grandes fortunas têm evitado os fundos de private equity e capital de risco, que exigem um aporte mínimo alto e cobram taxas consideráveis de seus clientes
- A nova onda, conforme revela um relatório publicado no início de agosto, é investir diretamente nas empresas – seja por conta própria ou em parceria com outras famílias ricas
- Desde o início da pandemia, os bilionários puderam aplicar seus recursos de uma forma diferente dos demais investidores
(Paul Sullivan, The New York Times) – Durante a pandemia, famílias bilionárias seguem usando pools de investimento – os “family offices” de gestão de grandes fortunas – para ter acesso a oportunidades de alto retorno que costumavam ficar restritas a investidores institucionais. A diferença, porém, é que agora os donos do dinheiro estão botando a mão na massa e participando ativamente das decisões financeiras.
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As gestoras de grandes fortunas têm evitado os fundos de private equity e capital de risco, que exigem um aporte mínimo alto e cobram taxas consideráveis de seus clientes. A nova onda, conforme revela um relatório publicado no início de agosto, é investir diretamente nas empresas – seja por conta própria ou em parceria com outras famílias ricas.
E a postura dos milionários é cada vez mais proativa, diferentemente das situações em que os recursos são administrados por grandes fundos e as decisões ficam nas mãos de terceiros.
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Os investimentos diretos ganharam fôlego após a última recessão. Entre 2010 e 2015, essa estratégia deu um salto de 206% – e só em 2019 o crescimento foi de 11%.
Atualmente, metade dos “family offices” do mundo investe diretamente em empresas, sem intermediários. É o que mostra o relatório divulgado pela empresa de dados e pesquisa Fintrx, com apoio do setor de gestão de grandes fortunas da Charles Schwab.
Essa fatia aumenta para 83% no caso de gestoras que atendem uma única família, em comparação com os pools. Muitos desses investimentos acabam indo para os mesmos setores que deram origem ao patrimônio familiar.
“Em tempos de crise, os escritórios de gestão de grandes fortunas agregam valor”, afirma Russ D’Argento, fundador e CEO da Fintrx. “Eles se sobressaem nesse cenário por oferecerem serviços diferentes de outros tipos de fundos”.
Retornos previsíveis e estáveis
Desde o início da pandemia, os bilionários puderam aplicar seus recursos de uma forma diferente dos demais investidores. Só na primeira semana de agosto, cerca de 1,2 milhão de americanos solicitaram o seguro-desemprego, de acordo com o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos.
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Nas últimas vinte semanas consecutivas, o volume de pedidos pelo benefício se manteve constantemente acima da marca de um milhão – uma alta histórica. Muita gente está perdendo o sono por medo de não conseguir pagar as contas e ser despejada de casa.
Para os abastados, porém, a crise econômica e sanitária que atinge milhões de indivíduos é uma oportunidade de ganhar dinheiro jogando uma boia de salvação para empresas em apuros.
Se por um lado os investidores do mercado aberto olham para além dos novos focos de casos de covid-19 nos Estados Unidos, impulsionando a rápida recuperação do mercado acionário, os “family offices” acreditam que as bolsas estão supervalorizadas e apostam suas fichas em investimentos privados, de olho em retornos mais previsíveis e estáveis.
“É verdade que a recuperação dos índices acionários foi impressionante”, afirma Eric Becker, fundador da gestora de grandes fortunas Cresset Capital e dono de um patrimônio pessoal oriundo de investimentos em empresas de saúde. “Mas como vou apostar mais no mercado aberto quando olho para o valor das companhias negociadas em bolsa e vejo que ainda temos tanta turbulência pela frente?”
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O interesse por investimentos diretos aumentou durante a pandemia. No início, quando o distanciamento social estava mais severo, houve uma breve pausa. Mas a movimentação voltou a crescer, sobretudo nas gestoras mais novas – ou nas surgidas nos últimos cinco anos, que preservam um espírito empreendedor.
“Quando começamos a ver os dados e as medidas de socorro, passamos a enxergar uma possibilidade de retorno à normalidade”, afirma Becker. “Não importa se vai levar um ano, dois ou seis meses. A perspectiva de vida normal está ao alcance da vista, seja por meio de empresas em dificuldades ou apenas de negócios que precisam de algum capital”.
O relatório da Fintrx constatou que as famílias costumam investir em setores afins àqueles onde amealharam sua riqueza. A área de tecnologia larga na frente, e os “family offices” voltados para essa indústria investem 82% dos recursos em empresas desse universo. Em segundo lugar vêm os imóveis: mais de dois terços dos aportes de famílias com história nesse setor são voltados para a área.
“De maneira geral, as famílias começam investindo no que já conhecem”, explica Paul Ferguson, diretor-geral do Schwab Advisor Family Office, que patrocinou o estudo da Fintrx. Para ele, os recursos das gestoras de grandes fortunas podem ajudar a proteger empresas privadas.
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“Essas gestoras têm muito dinheiro para investir, e sua estratégia de longo-prazo as coloca numa posição privilegiada”, prossegue Ferguson. “Numa situação como a atual, é importante ser paciente – e essas famílias o são”.
Evidentemente, não basta ser bilionário para ser um bom investidor. O investimento direto também é alvo de críticas, que afirmam haver mais risco envolvido nessas transações do que sugerem seus defensores.
Em primeiro lugar, empresas de private equity têm fundos com trilhões de dólares e estão sempre de olho em bons negócios. Por isso, famílias ricas e gestoras de fortunas ficam com um pé atrás quando são abordadas por supostas oportunidades de investimento.
“Sempre que alguém nos apresenta uma nova ideia ficamos bem alertas”, conta Paul Karger, co-fundador e diretor da TwinFocus, que trabalha com 40 famílias donas de um bolo de US$ 7 bilhões. “A primeira pergunta que nos fazemos é: ‘por que será que ninguém lá no Texas quis investir nessa petrolífera sediada no Texas? Por que esses caras vieram bater na nossa porta aqui em Boston?’”
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Até mesmo os grandes fundos de private equity precisam ter alternativas suficientes para poder escolher entre elas. Muitos avaliam centenas de possibilidades antes de finalmente decidir onde colocar o dinheiro. Karger, por exemplo, diz que desconfia de propostas de investimento direto que não tenham a participação de investidores profissionais.
Ele conta que sua empresa aconselha a maioria das famílias a fazer investimentos diretos por meio de
operações com imóveis comerciais (como apartamentos), cujo valor de mercado é mais fácil de calcular e que contam com uma série de vantagens fiscais.
Ele também indica que os clientes apostem em operações por meio de fundos de private equity e observem o desempenho da carteira como um todo – sem se ater excessivamente às taxas cobradas pelos fundos, que costumam ser de 2% pela gestão e mais 20% sobre o retorno dos investimentos.
“Fazer as coisas bem-feitas tem um custo”, explica ele. “Se você paga uma merreca, vai receber uma
ninharia”.
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D’Argento, porém, rebate afirmando que nos últimos cinco anos as gestoras de fortunas familiares se
tornaram mais sofisticadas e contrataram investidores experientes.
“Elas começam a ter cara, jeito e resultados semelhantes aos de outras instituições”, diz ele. “E isso traz a reboque a capacidade de fechar mais acordos. É completamente diferente de um negócio de fundo de quintal”.
‘Alfa familiar’
Num momento como este, quando muitas empresas estão mal das pernas e buscam investidores, há também o risco de deixar oportunidades escaparem – sobretudo oportunidades que possam se beneficiar do chamado “alfa familiar”: a experiência operacional no setor onde o grupo fez sua fortuna inicial. O alerta vem de Kristi Kuechler, diretora de relações com clientes na Vernal Point Advisors, que atende um pool de famílias.
“Algumas conhecem determinadas indústrias tão bem quanto as empresas de private equity”, diz ela.
A junção de vários sobrenomes, cada um com experiências profundas em diferentes setores, pode criar um “alfa familiar” compartilhado. Por outro lado, o pool pode ter uma vantagem menor do que se imagina. Por isso a escolha das famílias parceiras é fundamental – sobretudo agora, em meio a tantas oportunidades.
“Diante do grande aumento nos investimentos diretos, as pessoas começaram a acreditar que devem
diversificar seu portfólio privado como se ele fosse uma classe de ativos”, prossegue Kristi. “Mas as famílias estão se juntando a outras, e com frequência desperdiçam os conhecimentos especializados que poderiam representar um benefício”.
Para a diretora da Vernal Point, a capacidade de compreender quais empresas enfrentam dificuldades mas mesmo assim continuam sendo viáveis é ainda mais importante durante a pandemia. Muitos bilionários de hoje já atravessaram, eles mesmos, maus momentos em algum ponto de sua história.
“As famílias estão em busca de investimentos mais tangíveis e concretos, que elas possam literalmente enxergar. Isso representa uma oportunidade muito atraente”, afirma ela. “Embora esses grupos sejam cuidadosos na hora de investir, eles veem uma perspectiva favorável em empresas capazes de atravessar um momento de incerteza como o atual”.
Essa tendência é tão bem-vinda para os “family offices” (e para os retornos colhidos por eles) quanto para os pequenos negócios que poderão escapar do abismo graças a esses investimentos.
(Tradução: Beatriz Velloso)
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