O que este conteúdo fez por você?
- Uma nova geração de investidores migrou para o mercado acionário nos últimos anos. E a pandemia da covid-19 acelerou essa tendência
- Uma pesquisa realizada pela Yahoo Finance Harris mostra que mais de um terço dos investidores americanos de meia idade reduziu e muito seu patrimônio em ações
- Se os resultados apresentarem uma tendência de longo prazo, alguns pressupostos antigos podem ser revertidos
(Aaron Brown/WP Bloomberg) – Corretoras como Robinhood Financial (negócios em que a comissão é zero), o aumento dos fundos que negociam em bolsa e o crescimento da propriedade acionária fracionada tem contribuído para atrair uma nova geração de investidores para o mercado acionário nos últimos anos. E a pandemia da covid-19 acelerou a tendência, como ficou evidenciado pelos preços inusitadamente altos das ações da Hertz Global Holdings, em processo de falência, ou o valor das ações da Tesla, que dispararam.
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Uma nova pesquisa realizada pela Yahoo Finance Harris revela outras mudanças no campo dos investimentos com implicações de um alcance muito maior para o governo e as empresas. Em primeiro lugar, mais da metade da brecha racial – em termos da propriedade individual de ações – desapareceu da noite para o dia. Além disso, americanos mais velhos e mais jovens possuem hoje mais ações do que aqueles em idade mais madura nos seus anos de acumulação de ativos. Mais de um terço dos investidores de meia idade reduziu e muito seu patrimônio em ações.
O que isto significa? Naturalmente pode ser apenas uma moda dos millennials, ou um efeito transitório dos lockdowns, ou até uma pesquisa isolada. Mas se os resultados apresentarem uma tendência de longo prazo eles podem reverter alguns pressupostos antigos. Primeiramente, a atração política de uma plataforma anti-Wall Street talvez não seja tão eficaz entre os jovens e eleitores não brancos como no passado. E reivindicar o crédito pelo bom desempenho das bolsas talvez não seja tão importante como é para muitos eleitores brancos de meia idade.
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As empresas de capital aberto podem achar que seus acionistas individuais estão ficando mais diversificados do que seus executivos e diretores. Até agora a grande parte da pressão no sentido da diversidade corporativa veio dos acionistas institucionais.
Os acionistas individuais raramente votam, mas embora os novos acionistas, jovens e não-brancos, provavelmente não representem um bloco significativo de ações, a visão cultural das empresas de capital aberto é muito influenciada pelas características do investidor. As empresas que conquistam a lealdade dos novos investidores, especialmente os mais jovens, conseguem desfrutar de capital mais barato e mais seguro durante longos períodos de tempo, como é comprovado pela Tesla.
A posse de ações individuais tem um amplo efeito sobre as atitudes das pessoas nas decisões políticas e financeiras e na identificação cultural. É verdade que todos os americanos têm uma participação no mercado acionário, com mais da metade deles exposta através dos fundos mútuos e contas de aposentadoria.
Trabalhadores cobertos por pensões públicas estão expostos indiretamente porque a capacidade dos fundos realizarem os pagamentos prometidos depende do desempenho do mercado acionário. Mesmo pessoas sem ativos ligados a ações são ajudadas quando o mercado se fortalece porque neste caso a tendência é de mais empregos e salários mais altos. Mas essa modalidade de exposição indireta é menos intensa em relação ao que os investidores sentem diretamente quando escolhem e adquirem suas próprias ações individuais.
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Embora o cenário indique uma mudança total desde 2016, existem razões para acreditar que a maior parte dessa mudança ocorreu em 2020. Porcentagens similares de pessoas entrevistadas, entre todas as raças, reduziram seus ativos. Pretos, e especialmente hispânicos, foram muito mais propensos a aumentar seus ativos do que os brancos.
Jovens e pessoas idosas se mostram mais inclinados a ter uma carteira de ações em 2020 do que em 2016, mas quanto ao acúmulo de ativos por parte de indivíduos de meia idade, mais de um terço vendeu suas ações. Uma pessoa de 40 anos de idade tem hoje mais probabilidade de possuir ações do que uma de 60 anos.
Essas imensas mudanças demográficas têm ocorrido sem muitas alterações padrões de participação acionária definidos por idade, educação tipo de família, propriedade de uma casa ou região – fatores normalmente considerados mais importantes para saber o comportamento em termos de investimento.
O mercado de ações foi inventado principalmente para homens brancos, ricos e mais velhos. Qualquer movimento no sentido de ampliar a base foi eliminado pela Grande Depressão.
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Foi apenas quando os Baby Boomers (geração da década de 1950) chegaram à idade de trabalhar que o mercado começou a democratizar, principalmente por meio dos fundos indexados de baixo custo e as seleções de títulos em contratos de aposentadoria com imposto diferido, mas a mudança não foi muito forte entre os não-brancos.
Os indivíduos da Geração X imitaram seus pais, mas à medida que os millenials chegam à idade ativa vem surgindo um novo paradigma – uma participação acionária agressiva por parte dos jovens de todas as raças, centrada na negociação ativa de ações individuais. Os volumes em dólar são menores hoje, mas o impacto no longo prazo sobre os mercados, a economia e a sociedade, pode ser profundo.
O poeta Thomas Nashe escreveu A Litany in Time of Plague (Uma litania em tempos de peste), em que alertou: “Homens ricos, não confiem na riqueza. Ouro não irá comprar sua saúde”.
Mas nestes tempos de peste, milhões de americanos não ricos, a maior parte jovens e não brancos, estão começando a confiar nas ações. E esta poderá ser uma das grandes mudanças sociais decorrentes da pandemia.
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