O Forex é um tipo de CFD – Contract for Difference ou Contrato por Diferença, em português. Os CFDs são derivativos (instrumentos financeiros que estão vinculados a outros ativos) que permitem a especulação da variação de preços de ações, moedas, commodities e criptomoedas, por exemplo.
Nesse mercado, não há a compra dos ativos de referência, mas somente do derivativo que espelha a variação de preços desses ativos. Ou seja, o comprador não tem a titularidade efetiva de algum tipo de bem, mas, sim, uma exposição a essa relação de troca que o CFD representa.
Quando essas operações envolvem moedas estrangeiras, elas são classificadas como Forex. Ruam Oliveira, especialista em investimentos e planejador financeiro, dá um exemplo de como esse mercado funciona. “Ao acreditar que o dólar americano se valorizará frente ao real, o investidor pode comprar o par USD/BRL. Se, no momento da compra, US$ 1 vale R$ 10 e, após uma semana, passa a valer R$ 12, o investidor pode vender a posição e lucrar com a diferença de R$ 2 por unidade”, diz.
O Forex se assemelha a um contrato futuro, mas apresenta diferenças importantes: não possui vencimento e é negociado fora do mercado regulado de Bolsa, sem padronização ou ajuste diário. Além disso, por não estar sujeito à fiscalização dos órgãos brasileiros, não oferece proteções garantidas aos investidores.
Especialistas concordam que o Forex é uma opção de alto risco. “Diferentemente das Bolsas de Valores centralizadas, esse é um mercado descentralizado, operando por meio de uma rede global de bancos, instituições financeiras, corretoras e traders individuais. Isso proporciona alta liquidez e acessibilidade, mas também implica menos regulamentação e maior exposição a riscos, especialmente para investidores iniciantes”, destaca Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP pela Planejar.
Além de ser naturalmente arriscado por causa de suas características, o Forex se torna ainda mais perigoso em razão das ofertas irregulares feitas sobre ele. “Essas propostas, muitas vezes apresentadas como oportunidades de altos ganhos, seduzem investidores despreparados, que nem sempre compreendem os riscos reais envolvidos nessas operações, afirma Ludmila Culpi, professora do curso de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
A ofensiva da CVM contra operações irregulares de Forex
A CVM lançou em maio um vídeo de alerta sobre o Forex, com apoio da B3, Planejar e Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (ANCORD). O material está disponível no canal CVMEducacional, no YouTube, e procura fazer uma relação entre o mercado de CFDs e planos de saúde.
Antes de disponibilizar o material, a CVM já havia lançado uma cartilha que explica os riscos e o funcionamento do Forex. O documento foi criado em 2012 e atualizado pela última vez em outubro de 2024, durante a Semana Mundial do Investidor (WIW 2024). Ele pode ser conferido aqui.
O conteúdo reforça que uma instituição só pode ofertar publicamente serviços e produtos financeiros no Brasil se tiver autorização da CVM. Até o momento, porém, não existe oferta relacionada ao mercado de Forex registrada na autarquia. Ou seja, qualquer instituição estrangeira que tente captar clientes brasileiros com operações de CFD está irregular.
Segundo André Passaro, Superintendente de Relações com o Mercado e Intermediários da autarquia, as companhias estrangeiras crescem nesse mercado com a ajuda de influenciadores digitais e de propagandas na internet. Para combater ofertas irregulares, a CVM busca monitorar páginas e verificar se as plataformas internacionais que oferecem o produto mantêm sites em português ou disponibilizam ferramentas para envio de dinheiro via Pix – indícios de que estão direcionando suas ofertas a investidores brasileiros.
A autarquia também tem buscado conversar com instituições de pagamento e com o próprio Banco Central para que realizem o monitoramento dessas operações. “Entendemos que a forma mais eficaz de coibir esse tipo de atividade no País é justamente bloqueando, ou ao menos dificultando, a transferência de recursos do investidor local para operadores estrangeiros irregulares”, afirma Passaro.
Os perigos do Forex
Rafael Furlanetti, presidente da ANCORD, afirma que o setor vê com muita preocupação o mercado de Forex. Ele o classifica como o “Jogo do Tigrinho do mercado financeiro” e vê essas operações não como investimentos, mas sim como apostas. “Quando a pessoa sofre algum prejuízo, não tem um call center para ligar. Não existe nenhuma regulamentação de proteção para o cliente, nem informação adequada de risco do produto. É um faroeste dentro do mercado de capitais brasileiro.”
Outro risco está na alta alavancagem permitida nas operações com Forex. Basicamente, a estratégia possibilita que a pessoa negocie com um valor maior do que o saldo disponível na sua conta de negociação. Esse é, ao mesmo tempo, o principal atrativo e o maior risco: com pouco dinheiro, o investidor pode ter ganhos elevados, mas também enfrentar grandes perdas.
A alavancagem está presente em modalidades de investimentos disponibilizadas no mercado brasileiro, mas sob regras mais restritivas. “No Mini Dólar, contrato futuro negociado na B3, existe um nível máximo de alavancagem em que é permitido operar. Já no mercado externo, com o Forex, é possível chegar a mais de 500 vezes o valor do capital do investidor. Isso é atrativo para os especuladores, mas também muito arriscado”, afirma Raphael Alves Rodrigues Cordeiro, professor da Escola de Negócios da PUC-PR.
Como se proteger?
Embora o mercado de Forex não seja regulado no País, investidores brasileiros podem fazer esse tipo de operação no exterior. Em caso de problemas, porém, não é possível contar com a legislação brasileira. “Operar nesse mercado é por sua conta e risco”, avalia Cordeiro.
Mesmo com os perigos envolvidos, há quem goste de mexer com esse tipo de operação. Júnior Brandão, trader profissional de 35 anos, já atua no mercado financeiro há mais de uma década e opera múltiplos ativos, dentre eles, o Forex. “Eu me defino como especulador. Faço alguns investimentos, mas não sou investidor profissional”, pondera.
Para quem deseja aprender mais sobre esse mercado no exterior, Brandão recomenda pesquisar cuidadosamente a reputação das corretoras. Ele também sugere começar com uma conta de simulação e investir apenas pequenos valores no início.
O trader já enfrentou problemas ao testar uma plataforma. “Entrei em um site e coloquei US$ 100. Depois, não consegui mexer no software e nem retirar o dinheiro. Acabei perdendo US$ 100 porque não era uma corretora séria”, destaca.
Também vale manter a atenção para não cair em golpes com plataformas falsas de Forex no Brasil. Culpi, professora da PUC-PR, recomenda que, em caso de dúvidas ou suspeitas de irregularidades, o investidor recorra à CVM para relatar problemas. “Promessas de lucro fácil e rápido costumam esconder operações arriscadas ou até ilegais — e, nesse caso, o melhor investimento é sempre a prudência”, destaca.