- Jovens, solteiros e profissionais ambiciosos da cidade de Londres estão escrevendo aos montes para a casamenteira Siobhan Copland
- Os clientes que aparecem na agência de Siobhan, a Cupid in the City, têm critérios rigorosos: além da aparência e da personalidade, encontrar alguém que seja tão ambicioso quanto eles é muito importante, principalmente para as mulheres
- Com a possibilidade de ser solteira e ter independência financeira para mais mulheres, muitas esperam mais tempo antes de iniciarem um relacionamento mais sério
Você gostaria de conhecer um homem alto, negro, bonito, com senso de humor e bem remunerado profissionalmente?
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Jovens, solteiros e profissionais ambiciosos da cidade de Londres estão escrevendo aos montes para a casamenteira Siobhan Copland. Eles passaram seus 20 anos estudando em universidades bastante competitivas e trabalhando até tarde da noite no escritório. Na casa dos 30, muitos deles construíram carreiras impressionantes, porém algo está faltando em suas vidas: o amor.
Mas depois de se frustrarem ao deslizar o dedo na tela do celular inúmeras vezes em aplicativos como Hinge, Bumble e Tinder, esses homens e mulheres se tornaram mais exigentes que as gerações anteriores na escolha daquele com quem querem compartilhar a vida.
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Os clientes que aparecem na agência de Siobhan, a Cupid in the City, têm critérios rigorosos: além da aparência e da personalidade, encontrar alguém que seja tão ambicioso quanto eles é muito importante, principalmente para as mulheres.
“Eles trabalharam duro para alcançar um certo patamar na carreira, então o patamar fica mais alto”, disse Siobhan. E estão dispostos a investir pesado para conseguir o que desejam: um deles ofereceu um bônus de 25 mil euros se ela encontrasse uma esposa para ele.
É claro que nem todo mundo está pagando quantias como essa para ser apresentado a alguém, já que nos últimos 25 anos os aplicativos de relacionamento se multiplicaram e mudaram completamente a forma como o romance funciona.
Quando um dos primeiros sites de relacionamento surgiu lá em 1995, o Match.com, o equivalente mais próximo aos cupidos tecnológicos que temos hoje eram os anúncios nos classificados nos jornais.
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Conforme aumentava a oferta de sites de relacionamentos durante a década de 90 e o início dos anos 2000, e depois com o lançamento dos primeiros aplicativos, como o Grindr em 2009, tornou-se cada vez mais comum conhecer alguém por meio de um perfil on-line. Em 2022, mais pessoas conheceram o parceiro atual pela internet do que por meio de amigos em comum, de acordo com a YouGov.
Os aplicativos oferecem acesso a um conjunto muito maior de pretendentes em potencial, com um usuário sendo capaz de considerar centenas de possíveis encontros ao deslizar o dedo pela tela numa noite, um número quase inimaginável ao se comparar com a possibilidade de se conhecer alguém durante uma noite no bar ou na festa de um amigo.
Com a paquera agora simplificada, deveria ser mais fácil e rápido do que nunca encontrar “o amor da sua vida”. Mas isso não parece ser o caso: o número de opções pode ser assustador, ressalta Mairead Molloy, terapeuta de casais e diretora de formação de casais da agência de relacionamentos Berkeley International.
“Paquerar pela internet não é tão simples”, diz ela. “A vantagem é que é rápido e as pessoas encontram mesmo opções, mas não há controle de qualidade. A triagem que você precisa fazer é terrível.”
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O trabalho de triar possíveis pretendentes é cansativo, assim como o sentimento de estar passando pelo crivo de alguém. “Tenho fases em que deleto todos os aplicativos porque é cansativo e deprimente”, disse uma mulher de 29 anos, que falou sob a condição de não ser identificada. “Estranhos são muito mais grosseiros ao dar um fora do que qualquer pessoa com a qual você esbarre na vida real.”
Alguns cálculos oferecem uma perspectiva. Um profissional de 33 anos, a quem foi concedido anonimato para que pudesse falar abertamente, disse que percebe uma proporção evidente quando usa aplicativos de relacionamento. Para cada cem pessoas com quem você consegue um match, talvez dez delas possam levar a um encontro. No entanto, provavelmente, apenas um deles será bom o suficiente para evoluir e virar um namoro.
“Consegui 400 matches com todos os meus apps e estive em relacionamentos a partir de quatro deles”, afirmou. “Acho que é libertador, de certa maneira – você pode estar em um ambiente com cem pessoas e apenas uma delas ser sua esposa ou marido. É melhor ser dessa forma do que como nos velhos tempos, quando havia três pessoas no vilarejo na sua faixa etária e uma delas tinha que ser seu parceiro.”
Curiosamente, Siobhan opera com uma proporção não muito diferente: mais de 350 casais surgiram dos cerca de cinco mil primeiros encontros que ela organizou.
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Mairead disse que vê clientes muito jovens, alguns com 22 anos, dispostos a pagar milhares de libras pelo serviço para encontrar um parceiro e evitar perder tempo e dinheiro enquanto lidam com essa proporção. Segundo ela, as pressões no trabalho consomem a energia que as pessoas precisam para usar os aplicativos e isso acaba lhe rendendo clientes também: “Temos várias pessoas que trabalham no Twitter em nossos cadastros e todas estão exaustas com o volume de trabalho”.
As dificuldades da paquera pelos aplicativos fizeram surgir uma indústria de coaches e mentores prometendo soluções. Você pode contratar alguém para avaliar seu perfil, escrever mensagens em seu nome como um Cyrano dos tempos modernos, e ajudá-lo a “vibrar” pelo seu parceiro ideal.
Talvez agora seja o momento para voltar um pouco no tempo e entender como chegamos a essa situação atual.
Para começar, houve claramente grandes mudanças no papel das mulheres na sociedade. Em 1973, 54,6% das mulheres entre 16 e 64 anos estavam empregadas no Reino Unido, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico (ONS, na sigla em inglês). A percentagem era de 71,9% em 2019.
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As mulheres também estavam em menor número no ensino superior, sendo até mesmo proibidas de frequentar a maioria das faculdades da Universidade de Oxford, por exemplo. Hoje, há mais mulheres do que homens nas universidades do Reino Unido e de muitos outros países ocidentais, mostram os números.
Talvez, como já era de se esperar, essas mudanças tiveram grandes consequências na forma como as pessoas se aproximam e, às vezes, permanecem juntas ou não.
“Como as mulheres agora têm sua própria renda, são mais livres do que eram no passado para recusar pretendentes que não são de seu agrado”, disse Tomáš Cvrček, professor de economia da UCL, onde pesquisa os efeitos das mudanças demográficas. “As exigências em relação ao pretendente aumentaram como consequência de tudo isso.”
Com a possibilidade de ser solteira e ter independência financeira para mais mulheres, muitas esperam mais tempo antes de iniciarem um relacionamento mais sério: um dos inúmeros fatores que levam casais heterossexuais a se casarem mais tarde.
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Na Inglaterra, a taxa de casamentos de pessoas de sexo oposto em 2019 foi a mais baixa desde 1862, de acordo com dados do Office for National Statistics. A média de idade para pessoas se casando foi de 34,3 para os homens e 32,3 para as mulheres. Já em casamentos homoafetivos, essa média foi ainda mais alta: 38,1 para os homens e 33,8 para as mulheres.
“Falando sobre o preço de se continuar solteira: posso arcar com ele”, disse uma mulher na casa dos 30 que trabalha no setor financeiro e pediu para não ser identificada. “Entretanto, se você não tem um bom emprego e depende financeiramente de um parceiro, vai continuar num relacionamento mesmo que ele não esteja indo bem. Tenho o privilégio de poder cair fora.”
Talvez pareça rude falar sobre romance e estatísticas ao mesmo tempo, mas é verdade que o amor pode, pelo menos em parte, ser entendido usando os números. Por trás dos desmaios e dos corações partidos, eles podem nos ajudar a entender como encontramos o amor – e por que às vezes isso não acontece.
É o amor pelos olhos dos números.
TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA