- Ray Dalio ficou famoso prevendo a crise financeira de 2008
- O novo livro é uma tentativa de compreender melhor o ambiente econômico atual e os desafios que ele apresenta, investigando séculos de altos e baixos econômicos
- Hoje, Dalio está mais preocupado com o fim do império americano e o início de outro império chinês
(Andrew Ross Sorkin, NYT) – Ray Dalio ficou famoso prevendo a crise financeira de 2008. Construiu a gestora Bridgewater, responsável pelo maior hedge fund do mundo, o Bridgewater, com cerca de US$ 223 bilhões sob sua gestão. Também se tornou uma espécie de personalidade intelectual pública e coach de vida, defendendo um estilo particular de gestão que descreve como “transparência radical”.
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Em duas semanas, seu terceiro livro em cinco anos, “A mudança da ordem mundial”, será publicado. É uma tentativa de compreender melhor o ambiente econômico atual e os desafios que ele apresenta, investigando séculos de altos e baixos econômicos.
O livro é uma leitura provocativa para aqueles que questionam onde no arco da história reside o império americano e o que pode acontecer a seguir com a economia. Existem poucos livros que mapeiam de forma coerente histórias econômicas tão abrangentes como as de Dalio. Talvez ainda mais incomum, o bilionário conseguiu identificar métricas dessa história que podem ser aplicadas para entender o presente. Ele examinou quatro impérios: o holandês, o britânico, o americano e o chinês.
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Dalio relata que cada um desses impérios seguiu quase exatamente o mesmo caminho:
“Mais educação leva a mais inovação e tecnologia, o que leva a uma maior participação no comércio mundial e força militar, maior produção econômica, a construção do principal centro financeiro do mundo e, com algum atraso, o estabelecimento da moeda como moeda de reserva. E pode-se ver como por um longo período a maioria desses fatores permaneceram fortes, unidos para depois declinarem em uma ordem semelhante. A moeda de reserva comum, assim como a linguagem comum do mundo, tende a permanecer depois de um império começar seu declínio porque o hábito do uso dura mais do que os pontos fortes que o tornaram tão comumente utilizado.”
Hoje, Dalio está mais preocupado com o fim do império americano e o início de outro império chinês, transição essa que ele acredita poderia levar à guerra. Ele escreve que os americanos interpretam mal os chineses bem como seu próprio lugar na história.
“300 anos parece muito tempo para os americanos, mas para os chineses, não é assim. Embora a perspectiva de uma revolução ou guerra que possa derrubar o sistema dos EUA seja inimaginável para a maioria dos americanos, ambas parecem inevitáveis para os chineses porque eles viram essas coisas acontecerem repetidamente e vem estudando os padrões que inevitavelmente os precedem. Enquanto a maioria dos americanos se concentra em eventos específicos, especialmente aqueles que estão acontecendo agora, a maioria dos líderes chineses vê os eventos atuais no contexto de padrões maiores e mais evolutivos.”
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Em última análise, ele conclui que “Se os EUA continuarem a declinar e a China continuar a subir, o mais importante é se cada um conseguirá ou não fazê-lo com elegância”.
A reportagem conversou com o Dalio por videochamada que admitiu que antes de fazer a pesquisa, ele “realmente não tinha muita compreensão da conexão com conflitos internos, conflitos externos, o custo da guerra – financeiros e não financeiros – e o impacto da natureza.”
O investidor disse ainda que ficou particularmente chocado com o papel dos desastres naturais nas economias. “A natureza, ou seja, o clima, foi uma surpresa para mim – por ter causado mais revoluções, mais mortes, guerras e depressões,” ele disse.
Dalio disse que não é pessimista. “Não estou tentando ser fatalista”, disse ele. “Estou tentando desenhar esse arco, tentando obter métricas objetivas”.
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Quando solicitado a citar um período comparável da história que terminou bem, Dalio apontou para o final dos anos 1960, durante a Guerra do Vietnã e a Guerra contra a Pobreza, quando o valor do dólar estava diminuindo e a inflação aumentando rapidamente. “Superamos isso com ajustes”, disse ele, “embora não tivéssemos uma potência externa tão forte quanto a China”.
Outro ponto de otimismo, disse ele, é que “o pior cenário não afeta a maioria das pessoas tanto quanto parece ao se ler a respeito”. Ele citou a Grande Depressão como exemplo. “A maioria das pessoas continuou empregada e, durante as guerras, a maioria das pessoas continuaram vivas.”
Não obstante, ele não está convencido de que os bancos centrais possam resolver os atuais desafios, como a escassez na cadeia de suprimentos e a inflação, que é um dos motivos pelos quais ele ficou intrigado com criptomoedas, especialmente o bitcoin.
Ele disse que um dos superpoderes do banco central é que a maioria das pessoas não entende a relação entre a política monetária e o valor do próprio dinheiro.
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“Isso fica oculto”, disse ele. “As pessoas conseguem ver quanto elas valem em dólares nominais, não em dólares ajustados pela inflação. E assim, pensarão estar seguros, na medida em que perderão 4, 5, ou 7% ao ano”.
Dalio está convencido de que, se as pessoas entendessem melhor esse ponto e também compreendessem os vários ciclos das economias, seus resultados seriam melhores e as crises seriam mais fáceis de serem evitadas.
“Eu tenho um princípio: se você está preocupado, então não precisa se preocupar. E se você não está preocupado, daí precisa se preocupar”.
Tradução: Anna Maria Dalle Luche
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